Jornal Correio Braziliense

Economia

Maior desemprego está entre pobres

A taxa de pessoas procurando trabalho é de 5,4% para os 10% mais ricos, mas sobe 600%, chegando quase a 40%, na faixa de renda menor. Vagas vêm do setor de comércio e serviços

Um exemplo da grande desigualdade que atinge a capital federal é a dificuldade para conseguir um emprego. O nível de desemprego varia mais de 600% dependendo da classe social em que o brasiliense se encaixa. A taxa em 2007 variou de 5,4% da População Economicamente Ativa (PEA) a 39,8%, dependendo do estrato social do trabalhador. O primeiro índice é registrado entre os 10% mais ricos da cidade. Já o último, entre os 10% mais pobres. A falta de colocação no mercado atinge quatro em cada 10 pessoas que têm renda mensal familiar de até R$ 315, segundo estudo elaborado para o Correio pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), cruzando dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). A situação piorou para todos nos 16 anos pesquisados pelo Dieese. Em 1992, os dois extremos tinham taxas de desemprego de 3,1% e 30,1%. A dificuldade de geração de postos de trabalho em massa na capital federal fez com que crescesse a dificuldade de encontrar emprego para todos os níveis de renda. No ano passado, segundo os dados, o DF alcançou o terceiro lugar no ranking das unidades da federação com maior índice de pessoas em busca de oportunidade de trabalhar. A taxa registrada, de 11,8% da PEA, ficou bem acima da média nacional, de 8,2%. ;O DF é prejudicado em relação a outras metrópoles por não ter geração de emprego na indústria, que emprega em massa, e pessoas com menor escolaridade. Para gerar mais empregos teríamos que criar atrativos para atrair investimentos, por exemplo, de metalúrgicas ou fabricantes de calçados e de alimentos;, afirma o conselheiro do Conselho Regional de Economia do DF (Corecon-DF), Júlio Miragaia. Salários baixos Sem indústrias de porte na cidade e no entorno, segundo o economista, é difícil imaginar um cenário diferente no futuro. Enquanto isso, o comércio e o setor de serviços ficam responsáveis por sustentar a base da pirâmide. O problema, de acordo com ele, é que são empregos que pagam menos, o que ajuda a reforçar as desigualdades da capital federal. Após 13 anos trabalhando na mesma empresa, foi só há seis meses que Francisco Lima Alves, de 48 anos, conseguiu escalar um nível mais alto da pirâmide. No primeiro semestre, foi promovido de vendedor da floricultura em que trabalha para supervisor de vendas. O salário dobrou, passou de R$ 600 para R$ 1,2 mil. Mesmo com o reajuste acima do comum, Francisco, a esposa, e os cinco filhos adolescentes sobrevivem com menos de três salários mínimos por mês. De qualquer forma, a realidade de Francisco destoa da vivida por seus vizinhos. Morador da Vila da Estrutural, sua casa é uma das maiores e mais bem equipadas do local. O imóvel, recém-construído, possui três quartos e a família ainda conta com três televisões e um computador, artigo raro na região, apesar de quase metade das casas do DF já terem o equipamento, segundo a Pnad. Na garagem, há dois carros. ;A gente compra as coisas parceladas e quando termina de pagar um, compra outro. Hoje em dia é mais fácil ter bens, basta ver se dá para encaixar no salário;, afirma. Apesar de estar equipando sua casa, Francisco ainda lida com a falta de infra-estrutura. Na sua rua não há asfalto e sua casa não conta com saneamento básico, além de telefonia, o que impede o acesso à internet.