As preocupações com a inflação, que levaram o Banco Central a elevar a taxa básica de juros (Selic) de 11,25% para 13,75% ao ano entre abril e setembro, saíram de cena. Agora, as atenções do BC estão voltadas para os estragos que a crise financeira mundial está fazendo na economia brasileira. O time comandado por Henrique Meirelles passou os últimos dias dominado pela tensão. Apesar de a instituição pregar que tomou medidas pontuais, como a venda de US$ 1 bilhão por meio de dois leilões e a liberação de R$ 13,2 bilhões em depósitos compulsórios, ;para corrigir pequenas distorções; do mercado, seus diretores estão convencidos de que os desdobramentos da crise americana vão exigir, em algum momento, medidas enérgicas.
;Não podemos fechar os olhos. Estamos preparados para tudo. A crise ganhou uma proporção impensável, cujos efeitos ninguém consegue dimensionar;, afirma um conceituado técnico do BC. Ele conta que o presidente Lula tem mantido contatos diários com Meirelles, para saber o que o BC pode usar em caso de estresse total, por exemplo, se fracassar o pacote de US$ 700 bilhões preparado pelo governo dos Estados Unidos para socorrer bancos atolados em créditos podres. ;Até agora, Meirelles tem conseguido tranqüilizar o presidente. Mas também não tem deixado de explicitar o preço a ser pago pelo Brasil se o caos se instalar;, relata. O primeiro sinal de que o país não está livre da crise foi o fechamento de todas as linhas externas de crédito para a economia brasileira, inclusive as que financiam as exportações.
Meirelles também avisou Lula de que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) será menor em 2009. Deve ficar entre 3% e 4% (a previsão oficial do BC sairá amanhã), um resultado excepcional, dadas as circunstâncias que o país enfrentará ano que vem, com as economias mais ricas do mundo ; Estados Unidos, Europa e Japão ; em recessão ou próximas dela. ;Com o mundo crescendo menos, nossas exportações e os preços dos produtos vão diminuir, comprometendo parte do desempenho da nossa economia. Mas nada que nos coloque de joelhos;, diz um assessor do Palácio do Planalto. ;Para o Brasil crescer 2% ou 2,5% em 2009, como prevêem alguns analistas, a atividade econômica teria que levar um tombo brutal, pois já há um crescimento contratado de pelo menos 2%, referentes à forte expansão de 2008;, acrescenta.
Mas, apesar de a crise internacional estar concentrando as atenções, os técnicos do BC avisam que o banco não abriu mão de sua principal missão, o controle da inflação. Na visão do BC, a crise tem um forte lado ;desinflacionário;. A desaceleração da economia mundial tende a derrubar, ou no mínimo segurar, os preços das commodities, que foram o grande tormento para a inflação. Nem mesmo o câmbio, com o dólar acima de R$ 2, deve tirar a inflação do teto de tolerância da meta, de 6,5%. ;Temos de lembrar que os juros subiram e podem aumentar mais para corrigir excessos nos preços;, enfatiza o técnico do BC.
Para o pelotão de Meirelles, além das exportações, a queda no ritmo de crescimento da economia brasileira será ditada pelo crédito, cuja velocidade de expansão ficará mais próxima de 15% anuais, metade do que se viu nos últimos anos. ;O importante é que as empresas mantenham seus planos de investimentos, confiantes de que o consumo interno continuará firme, crescendo entre 4% e 5% ao ano;, afirma o técnico. ;2009 não será um ano excelente, mas também não será um ano ruim. Será um ano de arrumação para 2010, quando a economia voltará a crescer num ritmo próximo de 5%.;