O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, disse nesta terça-feira (23/09) que a economia americana corre o risco de entrar em recessão, com o aumento do desemprego e do número de despejos, se o Congresso não aprovar o pacote de US$ 700 bilhões proposto pelo Departamento do Tesouro para ajudar o setor financeiro.
Não agir agora, segundo o testemunho de Bernanke ao Congresso hoje - do qual participou o secretário do Tesouro, Henry Paulson - tornaria impossível para as empresas investir em produção e em novas contratações, e, para os consumidores, comprar itens de maior valor, como carros e casas.
"Os mercados financeiros estão em condição frágil e acredito que, na ausência de um plano, eles fiquem em situação pior", disse Bernanke. "Acredito que se os mercados de crédito não estiverem funcionando, empregos serão perdidos, nossa taxa de crédito vai aumentar, mais despejos vão ocorrer, o Produto Interno Bruto (PIB) vai contrair e a economia não vai conseguir se recuperar de um modo normal, saudável." Uma economia com dois trimestres consecutivos de PIB negativo está em recessão, segundo analistas. A economia dos EUA cresceu 3,3% no segundo trimestre, depois de uma revisão do dado inicial, que mostrava uma expansão de 1,9%. parta os próximos trimestres, no entanto, as expectativas são de uma atividade econômica ainda mais lenta.
Paulson, por sua vez, disse ao Congresso que os bancos estrangeiros com operações em seu país poderão se beneficiar do plano de resgate financeiro do governo. "Qualquer operação bancária nos Estados Unidos que fizer negócios com o público americano é importante", disse.
O objetivo do governo com o pacote é evitar que, de posse de títulos podres, outras instituições no mercado tenham o destino que teve o banco de investimentos Lehman Brothers, que pediu concordata no último dia 15. O detalhamento das medidas e a aprovação do pacote pelos congressistas norte-americanos ainda está sendo aguardado.
O senador republicano Richard Shelby disse hoje: "Há tempos me oponho a salvamentos para indivíduos e empresas (...) Não recebemos nenhuma garantia digna de crédito de que esse plano vá funcionar. Podemos bem mandar US$ 700 bilhões, ou US$ 1 trilhão, e não ver a crise resolvida." A líder democrata na Casa dos Representantes (Câmara dos Deputados), Nancy Pelosi, disse ontem: "Não vamos mandar um cheque em branco para Wall Street". "Todos reconhecemos a gravidade da situação", disse por sua vez o presidente do Comitê de Bancos do Senado, Christopher Dodd, que acrescentou que a crise é uma combinação de "cobiça privada e negligência pública".
A atual situação de crise teve início no último dia 15, com a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers. O banco pediu concordata depois de semanas procurando um comprador. O britânico Barclays chegou perto de adquirir o Lehman e o Bank of America foi cogitado como eventual candidato a ficar com a instituição. O KDB (Banco de Desenvolvimento da Coréia do Sul, na sigla em inglês) também chegou a conversar com o Lehman. Todos se afastaram diante das perdas sofridas pelo banco com a crise das hipotecas de risco.
Na seqüência, apresentaram problemas o Merrill Lynch, que foi vendido ao Bank of America, e a seguradora AIG, que recebeu ajuda de US$ 85 bilhões do Fed.