Jornal Correio Braziliense

Economia

Dólar cai e diminui ameaça de pressão inflacionária

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Depois de seguidas arrancadas e de provocar pânico no governo, que teme novas pressões sobre a inflação, o dólar levou nessa sexta (19/09) o maior tombo desde 1º agosto de 2002. A moeda americana fechou a sexta-feira cotada a R$ 1,831 para venda, com baixa de 5,13%. No mês, porém, acumula alta de 11,93%. Dois fatores contribuíram para esse recuo. O primeiro, e mais relevante, foi a decisão do governo dos Estados Unidos de lançar um pacote gigantesco para retirar dos caixas dos bancos locais os títulos podres que se acumularam com o estouro da bolha imobiliária. O segundo foi a venda, pelo Banco Central, de US$ 500 milhões por meio de dois leilões. ;Juntas, as medidas deram maior tranqüilidade aos investidores e ajudaram a conter os movimentos especulativos contra o real;, disse Kléber Hollinger, diretor da Corretora XP Investimentos. Essa forte queda, no entanto, não beneficiou quem buscou o dólar turismo. A moeda foi vendida a R$ 2, porque muita gente com viagem marcada para o exterior ficou com medo de novos aumentos e provocou uma corrida no mercado. ;Estamos aproveitando este momento para ampliar os ganhos, já que, durante um bom tempo, o dólar só caiu;, disse um operador. ;E não acreditamos que o movimento vá diminuir tão cedo. Há muitas pessoas que vinham adiando a compra de dólar turismo, porque acreditavam que os preços da moeda não subiriam tão cedo;, acrescentou. Portanto, que ninguém espere um recuo do dólar turismo na mesma proporção do dólar comercial, usado para o fechamento de contratos de exportação e de importação. Distorções Segundo os analistas, a perda de valor do dólar começou cedo. ;O mundo acordou com a promessa de limpeza dos créditos podres dos bancos americanos. E isso animou os investidores, que passaram a vender a moeda americana para comprar ações;, explicou um analista da Corretora Socopa. O processo de baixa se acentuou no final da manhã, quando o BC interveio do mercado e fez seu leilão. Dos US$ 500 milhões, duas instituições ficaram com US$ 200 milhões. A sobra, de US$ 300 milhões, foi vendida a seis bancos no meio da tarde. O BC viu na operação um sucesso, pois mostrou que, mais do que a escassez, o que tem forçado a disparada do dólar é a especulação de bancos e investidores no mercado futuro da BM. ;Os leilões serviram para corrigir as distorções que já tínhamos detectado;, afirmou um técnico do BC. ;E vamos fazer quantos leilões forem necessários;, avisou. Desde fevereiro de 2003, o BC não vendia dólares. As moedas ofertadas ontem terão de ser revendidas para o banco no dia 23 de outubro, quando a instituição pagará um valor 1% acima do que recebeu. Com isso, o BC sinaliza ao mercado que não vai tolerar arrancadas como as registradas desde o início do mês. No Ministério da Fazenda, a torcida é para que o dólar entre nos eixos e deixe livre o caminho para o Comitê de Política Monetária (Copom) parar de subir os juros e, se possível, voltar a reduzir a taxa básica (Selic), que está em 13,75% ao ano. Na avaliação tanto do BC quanto da Fazenda, um dólar até R$ 1,80 não é problema para a inflação e ainda ajuda a estimular as exportações do país. ;Por mais que seja desejo do governo, não será agora que o Copom parará de aumentar os juros. O ciclo de aperto monetário ainda não acabou, pois há pressões de demanda que o BC precisa controlar;, disse Sandra Utsumi, diretora de Renda Fixa em Portugal do Banco BES Investimento.