O sonho de comprar uma TV de 42 polegadas com tela de cristal líquido (LCD) nunca esteve tão acessível ao bolso do consumidor. Desde que chegou ao mercado brasileiro em fins de 2004 até hoje, o preço desse televisor de alta tecnologia desabou. O produto custava cerca de R$ 20 mil naquela época e hoje sai por menos de um quarto desse valor: R$ 4.499 segundo a pesquisa Shopping Brasil feita na semana passada com 345 empresas do varejo.
A valorização do real frente ao dólar, o aumento nos volumes de produção com o avanço da tecnologia e, especialmente, a forte concorrência entre as indústrias e os varejistas explicam o recuo de preços. Com a queda de preços, as vendas subiram. O mercado já projeta para este ano vendas de 2,5 milhões de TVs de plasma e LCD.
O volume é mais que o dobro do ano passado, quando as vendas atingiram 1 milhão de unidades. Também está muito distante das 350 mil TVs de alta tecnologia vendidas em 2006. A queda nos preços dos aparelhos mais sofisticados provocou uma redução nas vendas dos televisores convencionais, que ainda dominam o mercado. Da venda projetada de 9,5 milhões de TVs este ano,
7 milhões serão de aparelhos convencionais. No ano passado, as Vendas de TV convencional atingiram 9 milhões de unidades.
Produtos diversificados - Atentas para o recuo no mercado de TVs convencionais, empresas que sempre foram sinônimo de televisão ampliaram seus negócios para mercados diferentes, como o de informática, celulares e até equipamentos de entretenimento para serem usados em carros. A intenção, que as companhias não admitem publicamente, é escapar do achatamento de preços - e da rentabilidade -, diversificando a linha de produtos.
"Estamos indo muito além da TV", afirma o vice-presidente de eletrônicos de consumo da Philips, Paulo Ferraz. No fim do ano passado, por exemplo, a empresa entrou no mercado de notebooks, reforçou a atuação na área de equipamentos médicos com a compra de duas companhias e lançou purificadores de água. A partir do mês que vem, ela estréia no mercado de aparelhos de entretenimento para serem usados no carro, como DVDs, câmeras que ajudam nas manobras e itens de áudio.
Para Ferraz, a velha linha marrom, de aparelhos de áudio e vídeo, fez "lipoaspiração" e está com uma roupagem moderna. "Diversificamos por conta de uma oportunidade de mercado. As empresas estão atrás de valor", diz o executivo.
Ele diz que a palavra-chave da mudança nos eletrônicos é a conectividade, isto é, a possibilidade de interligar os equipamentos. "Você pode chegar em casa e conectar o MP3 no aparelho de áudio da sala", exemplifica. Apesar da mudança de perfil, Ferraz diz que a linha de imagem, som e portáteis ainda é o carro-chefe da Philips.
A Semp Toshiba é outra empresa que nasceu com a TV e está diversificando as linhas de negócios. Neste ano, a companhia anunciou a entrada na produção de telefone celular e equipamentos de GPS (localizadores). "A linha de mobilidade é uma tendência mundial", afirma o vice-presidente de Marketing e Vendas, Caio Ortiz.
Ele diz que as vendas de áudio e vídeo cresceram 10% no primeiro semestre em comparação a 2007. A linha responde por mais da metade do faturamento da companhia. "Mas as vendas de informática avançam mais rapidamente que a linha marrom, apesar de representarem menos da metade do faturamento."
A expectativa é que a informática responda por mais de 50% da receita dentro de dois a três anos. Para 2009, a Semp planeja iniciar a produção de eletrodomésticos da linha branca, como refrigeradores e fornos de microondas.
Perfil - A mudança do perfil do mercado de eletrônicos, que até hoje sempre foi comandado pelas TVs, é nítida nas estatísticas. Pela primeira vez no ano passado, as vendas de computadores no País ultrapassaram as de TVs, aponta estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), feito pelo pesquisador Fernando Meirelles. Entre computadores de mesa e portáteis foram vendidos 10,5 milhões em 2007, contra 10 milhões de Tvs.
"A linha marrom tradicional tem uma alta dose de saturação. Todo mundo já tem", diz o supervisor geral das Lojas Cem, Valdemir Colleone. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a TV está presente em 97% dos lares brasileiros. Colleone observa que vários itens estão saindo de linha, como aparelhos de videocassete e microsystems.
A TV convencional hoje representa 60% dos aparelhos vendidos pela rede. Até dezembro, a expectativa é que ela recue para 50% e, dentro de dois anos, não esteja mais nas prateleiras das Lojas Cem.
Para dar a volta por cima, Colleone diz que a linha marrom mudou e as redes varejistas incluem, a cada dia, produtos com mais tecnologia, como tocadores de MP3, máquinas fotográficas digitais e notebooks. As três vedetes do momento são os equipamentos de informática, as máquinas fotográficas digitais e os celulares.
Ao contrário da velha TV que durante muito tempo foi a rainha das vendas, os novos equipamentos são rapidamente superados tecnologicamente.