Com salários melhores e reajustes maiores que os do setor privado, os servidores transformaram o Plano Piloto e o Sudoeste em redutos de funcionários da administração pública. Nas asas Sul e Norte, mais da metade dos trabalhadores ocupados têm o governo como patrão (veja quadro na edição impresa do Correio Braziliense). Na média do Sudoeste, do Cruzeiro e da Octogonal, o volume é de 49 terceirizados ou servidores ; estatutários ou comissionados ; para cada 100 profissionais, segundo estudo elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com base nos dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) e divulgado com exclusividade pelo Correio. Em média, de cada 100 pessoas empregadas no Distrito Federal, 22 recebem o contracheque de órgãos estatais.
As duas asas e o Sudoeste estão entre as regiões que tiveram maior valorização de imóveis na última década. Em média, o preço do metro quadrado de um imóvel novo localizado nessas regiões quadruplicou nos últimos 10 anos, segundo dados da Associação de Dirigentes do Mercado Imobiliário do DF (Ademi-DF). No mesmo período, a renda média dos funcionários da administração pública subiu 31,6%, enquanto a dos empregados de empresas privadas caiu 9,5%, de acordo com os números da PED. Com o salário valorizado, os servidores migraram para o Plano Piloto. Em 1998, 43,2% dos moradores das asas Sul e Norte e dos lagos Sul e Norte tinham como empregador os governos federal e do Distrito Federal. No primeiro semestre deste ano o volume subiu para 47,4%.
O servidor do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), Celso Ricardo Martins, de 41 anos, se mudou em 1995 de Sobradinho para o Sudoeste. ;Gostava de Sobradinho, mas morar no centro ajuda, porque estou perto de tudo, do trabalho, da faculdade. Antes eu gastava muito com gasolina, o que economizo é o custo de manter um apartamento aqui;, conta o graduado em matemática que está terminando a faculdade de direito.
Simultaneamente aos aumentos na região central do DF, houve uma redução da quantidade de servidores nas cidades da capital federal. Na média da população com renda intermediária, que reúne os moradores de nove regiões administrativas, entre elas Taguatinga, Sobradinho, Guará e Riacho Fundo, o contingente caiu de 31,8% dos ocupados para 26,1%. Entre as sete cidades com rendimento mais baixo, como Ceilândia, Santa Maria e Brazlândia, caiu de 17,8% para 13,3%.
Concentração no Plano
A concentração de funcionários públicos no Plano pode estar ligada aos aumentos salariais recebidos, principalmente, nos últimos cinco anos. Algumas categorias do governo federal chegaram a ter reajustes de até 238% desde 2003, segundo levantamento do Ministério do Planejamento. ;Com salários mais altos, os servidores puderam priorizar a qualidade de vida. Pegar o trânsito das satélites todas as manhãs é cansativo, quem pode, prefere se mudar para perto do trabalho;, afirma o coordenador da PED, Antônio Ibarra, técnico do Dieese.
Os profissionais da área imobiliária concordam. ;Como o transporte público no DF é precário, mesmo quem não ganha tão bem gasta mais com aluguel para tentar ficar perto da Esplanada;, afirma o presidente da Comissão de Valores Imobiliários (CVI), Frederico Attié.
A fuga do trânsito foi um dos motivos que levou o concursado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) Maurício da Silva Medeiros a trocar o Guará pela Asa Norte há nove anos. ;Quando estava no Guará pegava muito trânsito, eu queria fugir desse desgaste e morar perto. Se tivesse comprado meu apartamento no Guará pagaria muito menos, mas eu queria morar na Asa Norte;, conta o servidor de 45 anos.
As diferenças nos preços dos imóveis são consideráveis. Levantamento feito pelo Correio mostra que, enquanto um imóvel de dois quartos pode custar R$ 45 mil em São Sebastião ou R$ 85 mil em Taguatinga, no Lago Norte pode chegar a R$ 348 mil, R$ 350 mil na Asa Norte, e até R$ 530 mil, no Sudoeste.
Entre os servidores que continuam nas cidades do DF, estão os que trabalham na área administrativa dos ministérios, segundo o secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Josemilton Costa. ;Com média salarial entre R$ 2,5 mil e R$ 4,0 mil, eles não têm condição de desembolsar uma quantia muito grande para aluguel, senão falta para outras coisas. Por mais que os salários tenham aumentado um pouco, a inflação sobe e o aluguel sobe mais;.