A decisão do Banco Central de elevar a taxa básica de juros (Selic), que, desde abril, saltou de 11,25% para 13% e deve fechar o ano em 14,75%, vai diminuir o ímpeto da demanda por imóveis. A retração, segundo o diretor de Crédito Imobiliário da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Osmar Roncolato Pinho, se dará de duas formas. Primeiro, pela renda. Como a maior parte das instituições financeiras fixa em, no máximo, 30% o comprometimento da renda das famílias com a prestação dos financiamentos, esse limite deve ser ultrapassado em várias faixas de ganho com os juros maiores. Segundo, pela opção por um investimento mais rentável e seguro. Nos últimos anos, os juros em baixa valorizaram os ativos reais, como os imóveis, que despontaram como forte opção para se proteger o patrimônio. Agora, com a Selic bombando, deixar o dinheiro aplicado em títulos públicos, recebendo, sem nenhum esforço, 1% de juros ao mês, deve seduzir os aplicadores mais conservadores.
;De fato, essa é uma tendência, que deve ficar mais clara à medida que os juros forem subindo. Mas não será nada assustador;, afirmou Roncolato. Ele explicou que o grosso dos financiamentos realizados hoje são fechados com recursos obrigatórios ; no mínimo, 65% dos depósitos em poupança devem ir para o mercado imobiliário ;, que cobram em torno de 12% ao ano mais a Taxa Referencial (TR). E é justamente a TR que passará a pesar mais no custo dos financiamentos. Esse indicador é calculado com base na média dos juros dos Certificados de Depósito Bancário emitidos pelos maiores bancos do país. Como o rendimento desses títulos tende a acompanhar a Selic, obrigatoriamente haverá reflexo na TR.
Na avaliação de Teotônio Costa Rezende, consultor da vice-presidência de Habitação da Caixa Econômica Federal, no entanto, o efeito da Selic não será do lado dos compradores de imóveis, pois os juros não devem dar grandes saltos, já que as principais fontes dos recursos são o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a caderneta de poupança, que não acompanham a Selic. ;O impacto dos juros será nos lançamentos de imóveis. As empresas tenderão a restringir o número de empreendimentos até o aperto monetário diminir;, destacou. Para isso, também pesará o fato de ser mais atrativo às empresas deixar o dinheiro sendo inflado pelos juros do que se aventurar em negócios que podem não dar o retorno esperado.
A redução do número de lançamentos de imóveis só ficará visível a partir de 2009, quando o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer próximo de 3% ante os 5% projetados para este ano. ;Por enquanto, há muitos empreendimentos contratados e em andamento, fazendo com que o setor imobiliário mantenha o fôlego. Mas, sem dúvida, parte dos projetos que estão programados para o próximo ano será adiada;, afirmou Eduardo Zaidan, diretor de Economia do Sindicato da Construção Civil de São Paulo.
Para o presidente da Câmara Brasileira da Construção Civil (CBIC), Paulo Safady Simão, é até saudável certa acomodação no mercado imobiliário, pois o forte ritmo de crescimento provocou elevação nos preços dos insumos usados pelo setor. ;Apesar da esperada desaceleração, creditamos que a construção civil crescerá entre 6,5% e 7% ao ano;, frisou. O diretor financeiro da JC Gontijo, João Carlos de Almeida, discorda de qualquer visão mais pessimista. ;Os juros vêm subindo desde abril e vão continuar aumentando. Mesmo assim, continuamos com todos os lançamentos em dia e, para cada empreendimento, temos oferta de crédito de três instituições;, disse.
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