O protesto do setor rural na Argentina levou o país a registrar, no primeiro semestre deste ano, um número recorde de bloqueio de estradas como forma de manifestação social, segundo levantamento do Centro de Estudos Nova Maioria, com sede em Buenos Aires.
De acordo com o estudo, entre os dias 1º de janeiro e 30 de junho, foram realizados 5.353 bloqueios de estradas e ruas - total que supera o número desta modalidade de protesto realizada durante a histórica crise de 2001 e 2002. Naquele período, ocorreram 3.719 bloqueios - 1.383 interrupções em 2001 e 2.336 no ano seguinte.
O Centro de Estudos Nova Maioria mede esse indicador de conflito social desde janeiro de 1997, quando eram realizadas manifestações contrárias às privatizações do governo do então presidente Carlos Menem.
Protestos
Os protestos do setor ruralista - e manifestações pró-governo - não dão sinais de arrefecimento. Nesta terça-feira (15/07), em Buenos Aires, estão marcadas duas grandes manifestações contra e a favor do setor agropecuário.
Às 15h, em frente ao Congresso Nacional, o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), marido da atual presidente Cristina Kirchner e presidente do Partido Justicialista (peronismo, a maior legenda do país), vai liderar um comício, com apoio de entidades sociais.
A manifestação será contra o protesto marcado pelo setor rural para uma hora mais tarde, às 16h. Os ruralistas tinham convocado a concentração, agendada para o bairro de Palermo, a cerca de vinte minutos do centro da cidade, assim que os deputados aprovaram o aumento de impostos às exportações de grãos, no sábado (5 de julho).
Minutos depois, Néstor Kirchner marcou o que os argentinos chamam de "contra-protesto" (um protesto contra outro protesto).
No fim de semana, como revelaram os jornais Clarín e Página 12, o ex-presidente teria dito, numa reunião com trezentos intelectuais e lideranças sociais, que as manifestações de junho foram responsabilidade de um "movimento golpista".
Segundo os jornais, Kirchner teria dito: "Queriam que Cristina deixasse o governo. (...) Foi quando realizaram panelaços na residência presidencial.".
Votação
A previsão é de que o Senado Federal vote nesta quarta-feira (16/07) a medida que incrementa os impostos para os fazendeiros. Se o texto do governo for aprovado, se tornará lei. Mas o presidente da Sociedade Rural, Luciano Miguens, disse que os ruralistas vão apelar na Justiça contra a medida.
A medida, anunciada em março pelo governo central, teve várias conseqüências, como a saída do ministro da Economia, Martín Lousteau, a queda brusca na popularidade da presidente, que assumiu o cargo em dezembro do ano passado, e ainda o retorno dos panelaços - tipo de protesto que ficou famoso nas manifestações de 2001 e agora ocorreu nas grandes cidades em apoio ao setor rural.
No levantamento realizado pelo Centro de Estudos Nova Maioria revelou-se ainda que o mês de junho foi marcado por 2.456 bloqueios de estradas - o mês com maior número deste tipo de protesto em onze anos, desde 1997.
Nesse caso, o setor agrário foi responsável por 53% dos casos (1.286 interrupções) e os caminhoneiros, por 47% (com 1.162 casos). Na ocasião, os transportadores pararam em repúdio à manifestação dos ruralistas que já durava mais de três meses. Eles alegavam que a paralisação rural os deixava sem trabalho.
Os bloqueios de estradas começam a ser notados a partir de março, caíram em abril e maio e alcançaram o seu pico em junho - na ocasião, em meio aos protestos, em que a presidente decidiu mandar o texto ao Congresso Nacional.
Na Argentina, onde os protestos costumam ser organizados de forma rápida e são freqüentes, os conflitos por questões trabalhistas estão, ao mesmo tempo, em queda.
De acordo com o estudo, ocorreram, no primeiro semestre, 170 conflitos por questões trabalhistas, número que sinalizaria ritmo menor ao registrado no ano passado, com 351 casos.
A maioria dos episódios foi registrada no setor público, principalmente por professores e petroleiros, que manifestaram por diferentes reivindicações.