Cheiro de um bom serviço no ar. Você entrega a chave do carro ao manobrista e se livra do aborrecimento de procurar vaga. O hostess ou o maître o acompanha até a mesa com toda a gentileza que um cliente vip merece. Para começar, o barman prepara aquele coquetel de frutas. A comida chega e o garçom só falta servi-la na boca. No final, não esquece aquele cafezinho especial preparado pelo barista da casa. E, em tempos de lei seca, o motorista já está na porta, pronto para levá-lo em casa.
É pela qualidade do trabalho desse exército do sabor que Brasília é reconhecida como o terceiro pólo gastronômico do país ; atrás somente de São Paulo e do Rio de Janeiro. A capital federal não conquistou esse lugar à toa. Graças ao culto do brasiliense à boa mesa, a cada R$ 100 gastos, 30% vão para alimentação fora de casa. O setor alimentício agradece a preferência. É o que mais emprega na capital federal, superando até o da construção civil, segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-DF). Do restaurante mais sofisticado ao quiosque da esquina, são mais de 100 mil empregos com carteira assinada. Uma média de seis funcionários por empresa, contemplando do auxiliar de limpeza aos chefes de cozinha.
;O mercado está para lá de aquecido. E, mesmo com a lei seca, as oportunidades só aumentam. A cada 30 a 40 dias, quatro estabelecimentos são abertos na cidade;, estima Fernando Cabral, presidente da Abrasel-DF. Em apenas 15 dias do mês passado, quatro grifes de primeira linha ; Doc Lounge Grill, Original Shundi, Laguna e Magai ; instalaram-se na cidade. Somados, foram mais de R$ 15 milhões de investimento, responsáveis por mais de 5 mil empregos diretos, da mão-de-obra usada na construção ou reforma aos funcionários dos restaurantes.
Só o Mangai, especializado em comida nordestina, ofereceu 150 postos. ;A gente ia para Recife. Mas em função da renda per capita alta e do grande número de nordestinos na cidade, decidimos abrir aqui;, diz Lorena Maia, gerente comercial e umas das proprietárias da rede. Para manter tudo tal e qual as casas de Natal (RN) e João Pessoa (PB), 20 profissionais do Nordeste vieram treinar os funcionários brasilienses. A necessidade de qualificação surgiu ante a diferença de cultura e tratamento. ;No Mangai, além da comida ser bem regional, o serviço é informal. Nada de formalidades: o vendedor (garçom) precisa sorrir, ter simpatia e até aprender o hino do mangaieiro (quem trabalha no Mangai) para cantar pros clientes;, brinca Lorena.
Assim como os consumidores, que ganharam mais uma opção para se deliciar à mesa, o mineiro Carlos Roberto Pereira Soares, 30 anos, comemora a vinda do restaurante. Em 20 anos de Brasília, essa foi a oportunidade de ouro para conquistar de vez uma vaga no mercado de trabalho. ;Trabalhava como garçom free lancer, mas faltava qualificação. Fiquei três meses em João Pessoa em treinamento. Hoje, sei a maneira correta de tratar e abordar o cliente;, conta. Na hora da foto, ele mostra que aprendeu bem a lição nordestina. ;Olha o jegue, gente!”, diverte-se.
E não é só a gastronomia de grife que emprega. Com uma média de 200 clientes por noite, o quiosque do Caldo Fino, na 409/410 Norte, abriu seis postos de trabalho: três de atendentes e três de auxiliares de limpeza. Do restaurante chique ao quiosque de rua, a receita do sucesso é a mesma: qualificação profissional. ;Apesar de ser um estabelecimento na rua, todos têm carteira assinada e experiência. Hoje, atribuo o sucesso à qualidade. Eu e minha esposa selecionamos bem a matéria-prima e a mão-de-obra;, destaca Renato Fino, dono do Caldo Fino.
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