Jornal Correio Braziliense

Economia

Governo decide redobrar esforço para ampliar a oferta de alimentos

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O governo decidiu, nas últimas semanas, redobrar os esforços para ampliar a oferta de alimentos no país e, com isso, fazer com que a comida, cujos preços andam nas alturas, chegue mais barata às mesas dos brasileiros. Não só renegociou R$ 75 bilhões em dívidas do setor agrícola, como prometeu liberar, na próxima quarta-feira (02/07), R$ 65 bilhões para o Plano de Safra 2008-2009. Essa montanha de dinheiro, no entanto, está longe de resolver o principal problema do campo: a forte alta dos custos de produção. Em relação ao ano passado, calcula-se que, entre plantar e colher, os agricultores terão que desembolsar até 56% a mais nas principais lavouras, aumento que certamente será repassado aos consumidores. ;Qualquer que seja o parâmetro para os custos, da mão-de-obra às sementes, tudo ficou mais caro;, diz Haroldo Cunha, que preside a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, mas planta milho e soja. Nada está pesando mais do que os fertilizantes. No caso do plantio da soja, as estimativas mostram que esses produtos subiram 83% quando comparadas as safras que será plantada nos próximos meses e a colhida no ano passado. Por hectare de soja, o custo passou, em média, de R$ 330,50, segundo cálculos dos especialistas, para R$ 605,70 no plantio que começa em outubro, se o tempo ajudar. Para o cultivo do milho, o custo por hectare de fertilizantes avançou de R$ 546,08 para R$ 685,35, um aumento de 25,5%. Nem mesmo o dólar mais barato, que amorteceu parte da disparada dos preços dos insumos, conseguiu aliviar o plantio. Rodrigo Werlang, produtor do Distrito Federal, tenta se adaptar aos novos preços dos insumos utilizados na lavoura. O agricultor planta soja, feijão e milho, mas já fez a contas e sabe que terá de desembolsar bem mais neste ano. ;O hectare que custava R$ 1 mil, hoje está a R$ 2 mil, R$ 3 mil;, diz. Além do óleo diesel, Werlang aponta o adubo como outro grande vilão. ;Uma tonelada de adubo podia ser comprada em 2007 a R$ 1,3 mil. Agora, está R$ 2,7 mil;, completa. Como os custos aumentaram, Werlang ainda não tem certeza se conseguirá plantar a mesma área cultivada na última safra. ;Está pelo menos 50% mais caro plantar. O pessoal está assustado;, reforça. A redução do plantio deve ser visível no caso do algodão, usado na produção do óleo muito utilizado pela indústria alimentícia. Pelas contas do presidente da Abrapa, é possível que a produção, que chegou a 1,550 milhão de toneladas na safra 2007-2008, caia para 1,250 milhão de toneladas. Como 580 mil toneladas da próxima safra já foram comercializadas, sobrarão 670 mil toneladas, volume inferior ao consumo interno, de 1 milhão de toneladas. ;O pior é que essa incerteza pode minar a perspectiva do governo de que a área plantada aumente. Há, sim, riscos de ela diminuir;, assinala Haroldo Cunha. Se esse quadro se confirmar, o impacto não será restrito ao óleo, que consome a menor parcela do algodão produzido no país. Baterá em cheio no mercado de artigos de vestuário, cujos preços estão em alta desde o início de junho e serão os novos vilões da inflação. Foi, inclusive, por causa da alta das roupas, principalmente as femininas, que o economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu Filho, elevou sua projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ; referência para o sistema de metas de inflação ;, de 6,4% para 6,7% em 2008. ;Tudo está jogando contra a inflação;, resume. Nas contas de Haroldo Cunha, somente os custos maiores de produção deverão impactar em até 20% os preços dos tecidos de algodão. Embora assustado, o governo emite sinais de que a crise dos alimentos tem solução. ;Estamos extremamente atentos à questão da inflação e o governo pretende tomar medidas para produzir as maiores safras em 2009 e 2010. Vamos lançar uma política muito agressiva na produção de alimentos;, disse na sexta-feira a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Já o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, faz uma previsão sombria: ;Os preços dos alimentos vão se manter elevados por pelo menos mais três anos;. Leia mais na edição impressa do Correio