Os produtos derivados de trigo devem diminuir a pressão sobre a inflação no segundo semestre deste ano. Os preços devem cair, mas ainda não ao patamar de 2007. A redução é esperada porque a safra 2008/2009 do trigo começa no dia 1° de julho e, segundo previsões do setor, deve ser recorde.
No acumulado deste ano, o preço do pão francês registra alta de 19,38%, segundo dados da IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em 12 meses, a alta é de 28,04%. Já as massas, segundo estimativa da Associação Brasileira das Indústria de Massas Alimentícias (Abima), registraram elevação de 25% nos preços nos últimos 12 meses.
Segundo o presidente da Abima, Claudio Zanão, a próxima safra mundial de trigo - que vai até 30 de junho de 2009 - deve alcançar 650 milhões de toneladas, contra 600 milhões de toneladas da safra atual, que se encerra na semana que vem.
"Estamos vivendo os últimos dias de inferno astral. No segundo semestre o consumo é maior, mas também é o período em que 70% do trigo é colhido. E será uma super safra", afirma.
O aumento do preço do trigo no mercado internacional é um dos fatores apontados por Zanão para o aumento da safra. O produtor, ao ver as altas, se anima com o cultivo. A tonelada do grão passou de US$ 250 para US$ 400 de 2007 até agora, mas pode cair a US$ 350 ao final deste ano.
A demanda mundial de trigo, segundo expectativa do setor, é da manutenção de 630 milhões de toneladas no período da safra, como ocorreu neste último período. Isso significa que, na safra atual, a demanda superou em 30 milhões de toneladas a oferta e, na próxima, a folga será de 20 milhões de toneladas.
Com isso, o preço dos derivados, especialmente pão e massas, deve cair. Mas o consumidor não deve esperar por reduções drásticas neste ano. ´Com a safra melhor será possível recompor parte do estoque. Os preços devem cair, mas só devem retornar aos patamares de 2007 em 2011´, estima Zanão.
Com a "super safra", o preço do trigo no mercado internacional tende a ceder, o que resulta na queda dos derivados.
Brasil
O Brasil também dá seus passos para aumentar a produção de trigo. O país consome, segundo dados do setor de 2007, cerca de 10,5 milhões de toneladas de trigo por ano na indústria, mas produz apenas 3 milhões. Para a próxima safra, a estimativa é de aumento para 4 milhões de toneladas.
Para atender a demanda, a indústria importa, principalmente, da Argentina. Pelo menos importava, já que o país vizinho tem evitado as exportações e as últimas remessas foram feitas quase a conta-gotas.
A dependência da produção argentina não é, no entanto, o principal motivo para a alta dos preços aqui. A forte demanda mundial, causada pelo aumento do consumo na China e Índia, pressionou os preços no mercado internacional. ´É claro que o ideal é reduzir essa dependência e inverter a porcentagem, produzindo 70% do que a indústria consome e importando 30%, o que ajudaria muito a segurar a inflação dos alimentos´, afirma Zanão.
Ranking
No último levantamento mundial, de 2005, o Brasil aparece em terceiro lugar na produção mundial de massas, o segundo nas Américas, com 1 milhão de toneladas por ano. A Abima afirma, no entanto, que esse número fechou em 1,270 milhão em 2007. No ranking de consumo per capita, o Brasil ocupa o 12° lugar, com 6,6 quilos por ano.
O faturamento da indústria de massas foi de R$ 4,5 bilhões em 2007 e deve crescer 5% neste ano.
Sem nenhuma surpresa, a Itália, país das nonas e tradicional consumidora de massas, lidera os dois rankings. O país europeu produz mais de 3 milhões de toneladas por ano de massas e o consumo per capita anual é de 28 quilos.
Massa industrializada
Pesquisa realizada pela Abima revela que 79% das massas consumidas no chamado food service, como restaurantes, bares, lanchonetes, hotéis, são industrializadas. A pesquisa é apresentada em feira do setor que acontece em São Paulo.
Divididos por segmento, o levantamento aponta que o índice é de 76% entre os restaurantes, 80% nas lanchonetes, 66% em fast foods, 90% em hotéis e 100% em refeições coletivas.
Segundo dados da entidade, 40% dos setores com refeição fora do lar preferem as massas industrializadas pela qualidade e 20% apontam as vantagens com o preço.