;Nós reinventamos o telefone.; A frase nada modesta de Steve Jobs, diretor executivo da Apple, dita durante o lançamento do iPhone, no início de 2007, soou, na ocasião, como pretensiosa e demasiada otimista. No entanto, o que se vê hoje, um ano depois, é uma verdadeira adoração em torno do telefone da marca da maçã - e a confirmação de todo o entusiasmo de Jobs. Mas não são só os usuários que sonham em ter o celular. As operadoras também fazem de tudo para comercializar o dispositivo de forma oficial no país, ansiosas em conquistar consumidores dispostos a gastar o que for para ter o telefone, além de gerar uma receita considerável a cada mês com transmissão de dados.
A primeira operadora a anunciar que iria trazer o iPhone para o Brasil foi a Claro. Depois, foi a vez da Vivo, controlada pela espanhola Telefônica e pela Portugal Telecom. Apesar de não comentarem o assunto publicamente, diretores de ambas as companhias estão sorrindo de orelha a orelha com a chegada do badalado celular, prevista para o segundo semestre. Motivos não faltam. Em países onde a Telefônica já comercializa o produto da Apple, como Reino Unido e Irlanda, a receita média mensal por usuário do iPhone chega a ser 30% superior à dos clientes com outros aparelhos.
É justamente aí que está o principal mérito do produto de Steve Jobs. Por meio da tecnologia touchscreen (onde o usuário pode controlar as principais funções apenas tocando com o dedo na tela do aparelho), o uso da internet móvel ficou muito mais intuitivo e simples. O cliente passa mais tempo navegando e, conseqüentemente, trafegando um volume maior de dados na rede das operadoras.
;Os usuários, cada vez mais, reconhecem que conexão móvel é uma importante ferramenta de produtividade, acesso à informação e entretenimento;, comentou Roberto Lima, presidente da Vivo, em comunicado. No primeiro trimestre deste ano, a receita de dados e SVAs (servido de dados agregados como SMS, downloads e e-mails) da Vivo foi 47% maior do que no mesmo período de 2007. ;Temos verificado um consistente aumento da utilização de dados em nossa base e a introdução do iPhone será um estímulo adicional importante para o acesso a esses serviços.;
Para o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude, o aparelho da Apple atrai o nicho mais disputado do mercado. ;Ele tem um apelo muito forte para os clientes com contas mais altas de celular. São usuários (que têm gastos) pesados de voz e dados.; De acordo com uma pesquisa da consultoria M:Metrics realizada nos Estados Unidos, o percentual de usuários que acessam à internet via celular para acompanhar notícias é de 13,1%. Mas sobe para 58,2% entre os que têm smartphones e atinge 84,8% entre aqueles que o fazem por meio de um iPhone.
O médico-auditor Alexandre Xavier, de 27 anos, conheceu o telefone depois que teve o último celular furtado. ;Queria comprar um do mesmo modelo. Porém, quando vi o iPhone, fiquei encantado com tantos recursos.; Essa animação teve um preço. Logo no primeiro mês, Alexandre pagou R$ 1,2 mil pela conta do telefone. ;Comecei a mexer em tudo, mandar fotos aos amigos, utilizar a internet. Fiquei muito assustado com a fatura;, confessa.
O professor de educação física Rafael Costa, 26, é outro aficionado. Já sabendo dos inúmeros recursos oferecidos, Rafael teve o cuidado de pesquisar para minimizar o impacto da conta mensal. ;Procurei por operadoras que oferecessem planos mais acessíveis. Hoje, gasto em média R$ 300 por mês, cerca de R$ 150 a mais do que gastava com meu telefone anterior;, conta.
Para o analista de telecom da IDC Vinícius Caetano, um dos principais méritos da Apple foi ter conseguido levar o smartphone (celular com funções avançadas) para um segmento em que ele não tinha tanto apelo: a pessoa física. ;Com um design inovador e uma interface muito amigável, o iPhone não ficou restrito só ao público corporativo. Hoje, já é sucesso com o usuário comum.; As operadoras tenderão a vender o dispositivo atrelado a um planos de voz e dados, como já acontece com os modelos de smartphones. ;Seria uma contradição um usuário ter o telefone sem poder usar todos os recursos que ele oferece. E o recurso que mais chama a atenção é justamente o da navegação na internet.;