O papel dos especuladores na disparada dos preços do petróleo deverá ser um dos temas mais sensíveis da conferência que reunirá domingo em Jidda, na Arábia Saudita, os principais países produtores e consumidores de petróleo.
Um documento comum que deverá servir de base para as discussões considera que é preciso "melhorar a transparência e a regulação dos mercados financeiros".
No entanto, o questionamento dos especuladores é "muito controvertido", declarou um alto representante do setor internacional da Energia, que não quis ser identificado. Segundo ele, esta colocação preocupa muito os Estados Unidos.
"Não temos qualquer prova de que a especulação financeira conduz os preços", disse neste sábado o secretário americano da Energia, Samuel Bodman, durante uma entrevista coletiva em Jidda.
"O dinheiro só acompanha a progressão dos mercados, não os dirige", afirmou, emitindo uma opinião contrária à da Arábia Saudita, líder da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Convocada pela Arábia Saudita, a conferência de Jidda reunirá, entre outros, o primeiro-ministro britânico Gordon Brown, o vice-presidente chinês Xi Jinping, o ministro alemão da Economia Michael Glos, seu colega francês encarregado da Energia Jean-Louis Borloo e os dirigentes da maioria dos países produtores do Golfo.
O questionamento dos especuladores deverá ser minimizado no documento final, mesmo que vários países produtores considerem que os mercados financeiros têm "esperanças surrealistas" sobre os futuros preços do petróleo.
US$ 140
O barril de ouro negro chegou a US$ 140 no início desta semana, e várias empresas de Wall Street, como Goldman Sachs, prevêem que os preços ficarão perto dos 200 dólares dentro de dois anos.
A Arábia Saudita, maior exportador mundial de petróleo, considera, por sua vez, que a especulação é um dos principais fatores responsáveis pela disparada atual dos preços. Ela se diz preocupada com as conseqüências deste novo choque petroleiro sobre a demanda e o crescimento da economia mundial.
As autoridades sauditas informaram que produzirão 200 mil barris por dia suplementares para tentar conter o aumento dos preços. A Arábia Saudita já aumentou sua produção em cerca de 300 mil barris por dia em maio. Assim, a produção total da Arábia Saudita, deverá passar de 9,45 a 9,65 milhões de barris por dia.
Mercado
O documento que será debatido domingo em Jidda também pede mais informações sobre o mercado do petróleo com o objetivo de aumentar a transparência e lutar contra o fato de que as diferentes previsões de produção e consumo "enviam sinais contradirtórios aos mercados" e alimentam os temores de escassez mundial de petróleo.
O texto pede um aumento das capacidades de refino, que são atualmente limitadas "pela falta de investimentos, pelas normas ambientais, pela inflação dos custos e por legislações restritivas".
Ele destaca que a criação de "capacidades excedentes na cadeia de produção é importante para a estabilidade do mercado mundial", e exige "um aumento dos investimentos, tanto na exploração e na produção quanto no refino e na distribuição, para garantir que os mercados sejam abastecidos de forma adequada".
Também serão estudadas durante a conferência de Jidda medidas de ajuda para os países mais pobres abalados pela disparada dos preços