Há exatos quatro anos, a taxa de desemprego no Brasil estava em recordes 13,1%. Hoje, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice é de 8,5%. Significa dizer que, de cada três pessoas que estavam sem ocupação, uma conseguiu emprego nesse período. Até dezembro, a taxa tem potencial para se aproximar de 6%, o que seria a mais baixa de toda a história. E nem mesmo a mudança de ventos na economia ; com aumento da inflação, elevação dos juros, expectativa de queda no consumo e um cenário internacional mais turbulento ; será capaz de abalar o vigor da geração de empregos. A aposta é de especialistas consultados pelo Correio.
Para eles, o mercado de trabalho pode até perder um pouco de ritmo, mas nada capaz de comprometer aquele que, ao lado da estabilidade monetária, é o principal pilar dos altos índices de aprovação do governo Lula. Na avaliação do economista Lauro Ramos, especialista em mercado de trabalho do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a taxa de desemprego atingiu um novo patamar no Brasil.
;Essa é uma conquista muito grande. Em dezembro do ano passado, fechamos com uma taxa de 7,4%. Acredito que no final desse ano poderemos chegar a algo em torno de 6%. Isso nunca aconteceu no país;, afirma. Segundo Ramos, a maior preocupação deve ser com a inflação, que corrói o poder de compra dos trabalhadores e pode se traduzir em redução do consumo. ;Mesmo assim, com essas adversidades que estão à mesa, o mercado de trabalho ainda terá grande fôlego para criar vagas;, acredita.
Para representantes da indústria, um dos setores que mais emprega no país, a elevação da taxa de juros deve causar impacto no ritmo da economia, mas nada que chegue a mudar substancialmente os rumos do mercado de trabalho. ;A taxa de juros não é neutra em relação à atividade econômica. Em algum momento, a expansão deve arrefecer, devido ao impacto (da alta dos juros) no crédito e no custo dos investimentos. Aliás, frear a economia é justamente a proposta da elevação dos juros;, afirma Paulo Mol, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Ciclo
No entanto, ele ressalta que o mercado de trabalho é o último a sentir os efeitos de uma política econômica mais restritiva. ;A última fase do processo de recuperação de um ciclo econômico é a contratação de mão-de-obra. No processo inverso, é a mesma coisa;, diz. Para Mol, o emprego deve continuar a se expandir em 2008 e também em 2009. ;O impacto (do arrefecimento do nível de atividade) na criação de empregos deve ser diluído no tempo. Não há qualquer sinal de inversão da trajetória;, reforça.
Pelos cálculos do economista Júlio Gomes de Almeida, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o emprego industrial deve fechar o ano com uma expansão em torno de 3%. ;Até a virada do ano, o emprego crescia 3,5%, o que é muito em se tratando de um setor que vem registrando altos ganhos de produtividade. Hoje, esse crescimento desacelerou um pouco, está em 2,6%, mas ainda assim é um número robusto. Para o ano, devemos fechar em torno de 3%;, afirma Almeida, que foi secretário de Política Econômica do governo Lula. ;A indústria está bem preparada para crescer (em 2009). Temos os instrumentos disponíveis, como crédito, investimentos, competitividade;, assegura.