Apoiada no aumento de 6,9% da massa salarial e do incremento de 33,7% da oferta de crédito, as famílias brasileiras continuaram com o pé no acelerador e foram às compras. Entre janeiro e março deste ano, o consumo delas avançou 6,6% frente ao mesmo período de 2007, consolidando o 18; trimestre consecutivo de alta. Quando comparados os primeiros três meses deste ano com o último trimestre de 2007, o aumento foi de 0,3%. ;Realmente, os consumidores estão dispostos a satisfazer as necessidades, mesmo que por meio de endividamento;, afirmou o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa. ;Mas a tendência é de que o consumo das famílias esfrie um pouco por causa da inflação e dos juros mais altos, crescendo a um ritmo de 5% ao ano, índice bem mais sustentado do que os 8,6% observados entre outubro e dezembro de 2007;, emendou.
Com a maior disposição dos brasileiros para os gastos, a taxa de poupança do país decresceu, informou Amanda Tavares, economista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Fechou março em 16,8% ante os 17,2% do Produto Interno Bruto (PIB) de igual período do ano passado. Sem poupança suficiente para se financiar, o Brasil teve de recorrer a recursos externos para fechar as contas. Segundo Amanda, a necessidade de financiamento no primeiro trimestre de 2007 era de apenas R$ 915 milhões. Neste ano, saltou para R$ 21 bilhões. Esse buraco foi agravado pelo incremento de R$ 6,7 bilhões nas remessas de lucros e dividendos de multinacionais instaladas no país. Ou seja, em vez de reinvestirem esses recursos nos negócios que têm aqui, mandaram o dinheiro para as matrizes, muitas delas afetadas pelas perdas provocadas pela crise de crédito (subprime) dos Estados Unidos.
Alta dos juros
Tanto os economistas quanto o governo esperam que o consume se acomode nos próximos meses, para dar um refresco à inflação. Com a demanda nos níveis atuais, a indústria e o comércio não têm se intimidado em repassar para os preços os aumentos de custos que foram obrigadas a arcar por causa da disparada das commodities agrícolas e metálicas no exterior e do salto espetacular do petróleo, que, somente neste ano, subiu mais de 40%. Se a acomodação do consumo se confirmar, é possível que o Banco Central não seja obrigado a elevar tanto a taxa básica de juros (Selic), que está em 12,25% e pode chegar, na pior das hipóteses, a 14,25% no final do ano.
Operadora de financiamentos, Valentina Felipe Gonçalves Ferreira, 28 anos, reconhece que seu sua contribuição para o aquecimento do consumo. Em setembro passado, ela e o irmão decidiram vender a casa onde moravam para tentar a independência. Ele comprou um lote. Ela, um apartamento em Águas Claras. ;Dei uma entrada no valor de 20% do imóvel e financiei o restante em 30 meses;, detalhou. Segundo Valentina, a compra do imóvel só foi possível devido à mudança de emprego no final do ano passado. ;Sai de um salário de R$ 1,2 mil para outro de R$ 5,5 mil, o que me permitiu satisfazer minhas necessidade de consumo com maior facilidade;, ressaltou.
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