Os gastos do governo foram fundamentais para que o Produto Interno Bruto (PIB) registrasse crescimento de 5,8% no primeiro trimestre do ano ante o mesmo período de 2007, totalizando R$ 665,5 bilhões. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o consumo do setor público aumentou 5,8%, causando espanto nos especialistas, que trabalhavam com um índice máximo de 2%. Sem esse ímpeto gastador, certamente o resultado final do PIB não teria sido tão robusto. O governo também fez a diferença na comparação do PIB do primeiro trimestre com os três últimos meses do ano passado. Apesar de o avanço da economia como um todo ter sido de 0,7%, as despesas públicas deram um salto de 4,5%, o maior desde 1996, impulsionadas pelas eleições municipais deste ano.
Ao se deparar com esses números, o economista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani, disparou: ;Os gastos exagerados do governo alimentaram a inflação, que, agora, o Banco Central está sendo obrigado a conter por meio do aumento da taxa básica de juros (Selic);. Para ele, se o Ministério da Fazenda continuar sancionando despesas como as do primeiro trimestre ; R$ 124,9 bilhões ;, a elevação dos juros terá de ser maior do que o desejado, pois há mais riscos de a inflação sair do controle. Desde abril, a Selic já subiu um ponto percentual, de 11,25% para 12,25%. ;Veremos, a partir do segundo semestre, uma desaceleração do crescimento da economia, pois a inflação comerá parte do poder de compra da população e os juros vão reduzir a demanda por crédito.;
A desaceleração da economia, por sinal, foi evidenciada em indicadores importantes do primeiro trimestre. O consumo das famílias, que havia crescido 8,6% entre outubro e dezembro do ano passado, expandiu-se 6,6% na comparação com os três primeiros meses de 2007. ;Apesar de ainda estar em um patamar elevado, o consumo está caminhando para níveis mais realistas e consistentes;, disse o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa. Com isso, o PIB deverá convergir nos próximos meses para uma faixa entre 4,5% e 5%. ;Esse é o patamar que o Brasil pode crescer sem estimular pressões inflacionárias. Hoje, com o consumo superaquecido, a indústria e o comércio não estão se intimidando em repassar custos aos consumidores;, assinalou. Para 2009, a previsão é de que o PIB cresce entre 3,5% e 4%, devido aos efeitos mais fortes do aumento dos juros.
Vitalidade
A boa notícia do PIB, destacou Luciana de Sá, economista-chefe da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), foi que os investimentos para o aumento da produção mantiveram a robustez e fecharam o primeiro trimestre com aumento de 15,2%, um importante sinal de vitalidade da economia. ;Esses investimentos indicam que a oferta de mercadorias está sendo ampliada, jogando a favor da queda da inflação;, afirmou. Há um ano seguido, os investimentos vêm crescendo a taxas de dois dígitos. Por isso, lembrou Roberto Padovani, do WestLB, o uso da capacidade instalada da indústria estabilizou-se em 83%, sendo que em alguns segmentos, como o de bens intermediários, o nível de utilização das fábricas vem diminuindo.
Segundo Amanda Tavares, economista do IBGE, os investimentos foram puxados pela construção civil, que, com crescimento de 8,8%, o melhor resultado desde o segundo trimestre de 2004 ( 10,6%), foi a principal responsável pelo ótimo desempenho da indústria. Esse setor, com forte peso na composição do PIB, avançou 6,9% frente aos três primeiros meses de 2007, também estimulado pela indústria de transformação ( 7,3%), pelas áreas de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana ( 5,5%) e pela produção extrativa mineral ( 3,3%). No setor de serviços, o crescimento ficou em 5,5% e, na agropecuária, de 2,4%, puxada pelo plantio da soja ( 2,6%), do milho ( 11,4%) e do arroz ( 8,6%). No confronto do primeiro trimestre com os últimos três meses de 2007, a indústria cresceu 1,6% e o setor de serviços, 1%. Já a agropecuária teve queda de 3,5%.
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