No país da produção recorde de automóveis, o recall surge como ponto fraco das indústrias. Levantamento feito pelo Ministério da Justiça a pedido do Correio mostra que, de 2005 a abril deste ano, 806.055 veículos foram chamados para retornar às concessionárias por apresentar defeitos que podiam trazer riscos à segurança de condutores e passageiros. O total equivale a 11,5% das 7 milhões de unidades vendidas no país no mesmo período.
O número não inclui o meio milhão de veículos modelo Space Fox e Cross Fox que tiveram o recall decretado no início da semana e foi o maior chamamento feito pelas empresas no Brasil desde de 2005, quando esse tipo de serviço representou 10,68% da venda nacional interna de veículos ; sem diferenciar o ano de produção e o período do recall. ;São dados que ainda não comprometem a imagem das montadoras;, diz o especialista em marcas e imagem de empresas Ruy Nogueira. ;Mas que preocupam, sobretudo no horizonte que se traça no médio e longo prazo;, completa o sócio-diretor da agência Nextrend, de São Paulo.
Edson Campos, diretor regional da agência 141 WorldWide em Brasília, conta que chamamentos graves como os do Fox ; que provocou mutilação de parte do dedo de consumidores devido ao mau funcionamento do mecanismo de rebatimento do banco traseiro ;arranham a imagem de uma empresa. ;O resultado desse ferimento é o aumento do gasto com publicidade institucional (da marca);, explica.
Na prática, as despesas com o recalls são incorporadas às provisões das montadoras. Especialistas de mercado explicam que, na maior parte dos casos, a conta das substituições são maquiadas como gasto com publicidade institucional. A estratégia é usada para que os valores sejam escondidos do mercado. ;É um dado que não revelo para ninguém, nem para minha mãe;, diz um assessor do alto comando da Ford.
Em 2007, segundo estudo do Instituto Ibope Monitor, despesas com publicidade feitas por cinco das maiores montadoras no Brasil ; Volks, Fiat, GM, Ford e PSA (Peugeot e Citroën); somaram R$ 195,4 milhões. Desse montante, 12,89% tiveram como destino despesas com publicidade institucional, o que corresponde a cifra de R$ 25,2 milhões. ;Somos certamente um dos maiores anunciantes do país, o que não diminui nosso descontentamento com perdas provocadas por gastos com recall;, lamenta um executivo da GM.
A pedido do Correio, duas agências de publicidade estudaram o relatório elaborado pelo Ministério da Justiça que mostra a evolução do recall no Brasil . O entendimento dessas agências é que a perda média de receitas sofrida por uma montadora, a despeito de recall, é superior a R$ 3 milhões. ;Este seria o valor de uma campanha de duas semanas, com três inserções em horário nobre. Se for acompanhada de jornal, temos aí mais algo perto de R$ 1 milhão;, diz o relatório da agência 141 WorldWide. A Giacometti, de São Paulo, estima um valor maior. ;As análises que fizemos indicam um custo entre R$ 5 a R$ 10 milhões por montadora;, conta.
Contudo, há quem aposte que o chamamento de clientes possa gerar lucros. ;Temos em mente que esse momento (do recall) é uma oportunidade de negócios;, diz o gerente de pós-venda da concessionária Matignon. Segundo contou, em abril, em decorrência do recall promovido pelo grupo PSA as vendas de peças e acessórios cresceu 6% na comparação com meses anteriores.