BUENOS AIRES - Um motorista foi esfaqueado na madrugada deste sábado (07/06) em um bloqueio de estrada durante a paralisação agrária na Argentina contra a política fiscal da presidente Cristina Kirchner, um movimento que já dura quase três meses e provoca crescente tensão. Ignacio Irribaren, de 55 anos, foi ferido nas costas, segundo fontes médicas, mas não corre maiores riscos.
O motorista de Roque Pérez, cidade a 130 km ao sudoeste de Buenos Aires, participava de um piquete de estrada quando se envolveu em uma briga com caminhoneiros que pretendiam passar.
Os empresários do transporte de carga bloqueiam desde quarta-feira (04/06) numerosas rodovias do país, para protestar contra a greve agrária de quase 90 dias, que suspendeu a comercialização de grãos para exportação.
Na província de Chaco (nordeste), desconhecidos explodiram uma caminhonete de um produtor rural que participava de uma assembléia de agricultores, no momento em que se multiplicam os confrontos físicos entre caminhoneiros e agricultores.
A direção agrária prometeu suspender a paralisação à meia-noite deste domingo (08/06), mas muitos produtores rurais ameaçam manter a greve. "Não acataremos (o fim da paralisação) e não vamos deixar passar os caminhões com grãos. Somos produtores pequenos, os mais afetados com as retenções (tarifas escalonadas sobre exportações)", disse Alejandro, um produtor de soja que não revelou seu sobrenome, vigilante no quilômetro 280 da Rota 9, no sul da província de Santa Fé (centro).
Os líderes agrários argentinos reiteraram na véspera que a greve contra a alta nos impostos sobre as exportações de grãos terminará à meia-noite de domingo.
O embate já afeta o abastecimento interno de carnes, verduras e combustíveis, e as "empresas de lacticínios estão sofrendo graves dificuldades", segundo o Centro da Indústria Leiteira.
A situação se agravou na sexta-feira, quando agricultores de Gualeguaychú (ao norte de Buenos Aires) bloquearam a Rota 14, chamada de Mercosul, que leva a Brasil e Paraguai.
O bloqueio das estradas tem afetado ainda a distribuição de combustíveis, com a ameaça de desabastecimento de gasolina, diesel e gás liquefeito.
"Não estão chegando diesel e gasolina aos postos. Caminhamos para o desabastecimento total", disse na véspera o presidente da Federação de Empresários de Combustíveis da Província de Buenos Aires.
Segundo empresários do setor de supermercados, "estão faltando lacticínios, carnes e verduras. Os produtos de primeira necessidade deixaram de chegar às prateleiras com o bloqueio de 60 estradas".
O conflito agrário explodiu quando o governo impôs "retenções" (impostos) flutuantes às vendas externas, que aumentaram, para a soja, de 35% a 41%, e podem subir mais, se os preços internacionais continuarem crescendo.