Jornal Correio Braziliense

Economia

Carne e Leite devem subir de preço

Valor dos produtos, que já aumentaram este ano, sobem ainda mais nas fazendas. Reajustes chegarão aos consumidores nas próximas semanas, pressionando os índices de inflação em todo o país

A inflação dos alimentos sentida pelo consumidor tem sido perversa com quem compra leite e carne bovina. A dupla, uma das bases da dieta do brasileiro, não pára de subir ; inclusive nos supermercados do Distrito Federal ;, indicando que o segundo semestre poderá ser ainda pior. O boom da produção no campo, a alta mundial dos preços da comida e alguns movimentos especulativos ajudam a explicar por que esses produtos estão tão caros. No ano, o leite longa-vida já acumula alta de 11,65% em todo o país e de 5,66% em Brasília, conforme dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em 12 meses, o salto é de 11,09% e 9,69%, respectivamente. Com medo de perder a clientela, os grandes varejistas fizeram promoções nas duas últimas semanas e conseguiram girar o estoque com as marcas conhecidas sendo vendidas por menos de R$ 2 o litro. Porém, as promoções não vão durar por muito tempo. Na entressafra, que começa agora e vai até setembro, o longa vida deverá ficar entre R$ 0,40 e R$ 0,60 mais caro. Os cortes de carne bovina, tanto de primeira como de segunda, também se valorizaram. No Brasil, a alta entre janeiro e maio chega a 2,03% e em 12 meses, a 28%. Em Brasília, o produto está estável, subiu 0,01% em cinco meses, mas a inflação anualizada mostra que a carne encareceu 32,9%. A oferta de bois no pasto esperando pelo abate está ajustada à demanda e se não há novas pressões dos frigoríficos a expectativa dos pecuaristas é que os preços continuem subindo. A doméstica Marta de Andrade, de 40 anos, faz compras todo o mês. Com a lista em mãos, ela calcula quanto é possível gastar sem estourar o orçamento. ;Estou assustada. Acho que aumentou bastante. Tenho pesquisado em outros lugares, mas a diferença entre um mercado e outro não é grande;, diz. Na casa onde trabalha, Marta conta que todos gostam de carne. Por causa dos preços altos, bolou uma saída criativa: caprichar nas receitas à base de frango. ;No domingo vou fazer strogonoff para umas 30 pessoas. Já imaginou quanto custaria se fosse de filé mignon?;, justifica. Contrastes Motivo de temor para as donas de casa, a recuperação dos preços agrícolas soa como música no campo. O agronegócio nacional vive sua melhor fase desde 2004 e quer tirar proveito dos recordes de produção ampliando as exportações e vendendo mais no mercado interno. O foco é sempre o lucro e, nesse caso, a disputa com o varejo é acirrada. ;A euforia dos preços do leite é fictícia. Nossos custos aumentaram demais, apertamos as margens, está difícil trabalhar;, reclama Jorge Rubez, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Leite (LeiteBrasil). Nas principais bacias leiteiras do país o valor pago ao produtor pelo litro subiu de 20% a 30% em 2008. Nessa mesma proporção, dizem os empresários, também subiram o adubo, o sal mineral e os remédios. Durante a entressafra, explica Rubez, não haverá grandes elevações de preços ao consumidor. ;Acredito que o limite de alta dos alimentos, de uma forma geral, está próximo. No caso do leite, o mais provável é uma estabilidade, com tendência de queda no fim do ano. Mas é bom lembrar que, se quiser, o consumidor tem condições de forçar a queda dos preços;, completa o representante da LeiteBrasil. Esse poder existe, mas não influencia tanto neste momento. Com a carne, por exemplo, deixar de comprar não significa necessariamente que as promoções voltarão. Isso porque os pecuaristas brasileiros produzem com os olhos voltados ao mercado externo, principalmente depois do afrouxamento das barreiras comerciais impostas por Rússia e União Européia (UE). Em Mato Grosso, estado com o maior rebanho do Brasil, a arroba do boi está nas alturas, cotada a R$ 80. O mercado futuro projeta ganhos ainda melhores, próximos aos R$ 100. Luiz Carlos Meister, assessor de pecuária de corte da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), afirma que o cenário é bastante favorável. Apesar de se queixar da escalada dos preços dos insumos, o especialista projeta um futuro promissor para a carne nacional. ;A oferta de bois está baixa e deverá continuar assim por mais três ou quatro anos. Os preços estão firmes;, reforça. As previsões contrastam com o que o setor viveu em 2005 e 2006, quando a arroba caiu a níveis críticos (R$ 50). ;Naquela época, os pecuaristas tiveram de abater até fêmeas. Em Mato Grosso, foram quase 50%;, lembra.