Beneficiado pela explosão na demanda mundial por comida, o Brasil quer ser protagonista de uma nova onda exportadora: a de carne suína. O país reúne algumas das melhores condições de produção, como terra, água e grãos em abundância, e nos últimos 10 anos vem se adaptando aos padrões internacionais para dominar uma fatia maior de mercado. Especialistas e indústria apostam em um futuro promissor e acreditam que 2008 poderá ser o ano da virada.
No ranking dos maiores vendedores, União Européia, Estados Unidos e Canadá quase não enfrentam concorrência. O Brasil é o quarto colocado, mas está bem atrás dos líderes. No consumo, a lógica é mais ou menos a mesma, prevalecendo sempre a força dos mais ricos. Os europeus, por exemplo, comem, em média, 45 kg per capita/ano, enquanto que a China, 35 kg per capita/ano. Os brasileiros respondem por apenas 12 kg, sendo que 9 kg só de embutidos, principalmente presunto. Até 2035, a previsão é que o consumo total salte de 200 milhões de toneladas para 400 milhões de toneladas.
A corrida brasileira para tentar tirar proveito desse crescimento já começou. ;O frango saiu na frente, o boi veio logo em seguida. O suíno cresceu, deu uma estacionada, mas agora quer arrancar; , explica Pedro de Camargo Neto, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). O Brasil produz 3 milhões de toneladas, das quais 600 mil são exportadas. Neste ano, a expectativa é crescer 5%.
O otimismo do setor ganhou fôlego depois que o Comitê Internacional Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), órgão máximo para questões sanitárias, reconheceu o estado de Santa Catarina como área livre de febre aftosa sem vacinação. Os catarinenses são os maiores produtores, com 25% do volume nacional. O status sanitário, concedido no ano passado, é inédito no Brasil e ajuda a consolidar o discurso de que as perspectivas, além de boas, são reais.
Essa credencial é o que faltava para os empresários brasileiros sonharem mais alto. A busca por novos mercados virou uma espécie de obsessão, a indústria refez estratégias e aumentou os investimentos. ;O maior mercado de suíno é o Japão, mas está fechado para o Brasil. Depois vem a Rússia, que é aberta. Coréia e México, que não importam da gente, são outros grandes países;, reforça Camargo Neto. O Chile, segundo ele, vai abrir logo suas portas. ;Pensamos muito nos Estados Unidos também, mas eles ficaram de enviar uma missão em junho para ver como estão as coisas. De qualquer forma, não é nada para agora;, justificou o representante da Abipecs.
Nova fronteira
Embora as barreiras sanitárias ainda sejam grandes obstáculos, existe uma expansão em curso e ela acontece rumo ao Centro-Oeste. Nem a febre aftosa, doença que também atinge o porco, foi capaz de impedir o avanço dos criatórios e abatedouros para a região. Estados como Goiás e Mato Grosso estão na lista de prioridades das grandes companhias nacionais de alimentos, que planejam construir novas unidades ou incrementar estruturas existentes.
Motivos para escolher a região não faltam. A produção agrícola local é moderna, há oferta de mão-de-obra e muitos municípios contam com infra-estrutura razoável. ;O interesse especial é pelo milho e a soja. O Centro-Oeste é um grande celeiro e isso atrai essas empresas de suínos;, resume Renato Simplício, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Distrito Federal (Fape-DF).
Associação
O modelo de negócio é semelhante ao do frango. O sistema de fazendas integradas, com supervisão e assistência técnicas de uma matriz, funciona bem, proporciona economia e melhor controle de doenças. Do ponto de vista econômico, os produtores estão satisfeitos. Muitos preferem se integrar, associando-se a uma indústria, do que atuar só.
Renato Simplício explica que o Distrito Federal tem tudo para pegar carona nesse boom. Apesar das limitações territoriais, a logística facilita a atração de indústrias de suínos, as técnicas empregadas pelos produtores também são consideradas de qualidade. ;O DF é referência e quer ser ainda mais. Estamos desenvolvendo um trabalho sério no que diz respeito ao tratamento de dejetos. Seremos exemplo para o Brasil em breve;, completa.
Valorização em Goiás
Assim como toda onda agropecuária, a expansão da indústria de suínos ajuda a inflacionar o mercado de terras. No Centro-Oeste, onde o fenômeno já vinha ocorrendo desde o segundo semestre de 2007 por causa da recuperação de renda no campo, a valorização se acentua a cada semana. Estão valendo mais áreas de cultivo de grãos, pastagens e, por incrível que pareça, até sub-regiões degradadas.
Ao menor sinal da chegada das fábricas, os especuladores começam a se movimentar. Para fugir das armadilhas e dos altos preços, as companhias mantêm em segredo seus planos de investimento. Aquisições só são feitas na última hora e, mesmo assim, depois de longas negociações.
Goiás é o estado mais visado pelos empresários. O estado oferece boas condições logísticas, vantagens fiscais, abundância hídrica e solo de qualidade. Além disso, está estrategicamente próximo do DF e das principais vias rodoviárias que levam ao Sudeste, principal região consumidora. Mato Grosso e Mato Grosso do Sul estão logo atrás nas preferências dos investidores da Região Sul, pólo de suínos no Brasil.