Os motoristas ganharam um presente do governo federal, que cortou parte dos impostos sobre a gasolina para garantir que o reajuste nas refinarias, anunciado pela Petrobras, não chegue aos postos. Bom para quem tem carro. Já os brasileiros que sacolejam em ônibus urbanos, intermunicipais ou interestaduais deverão sentir em breve o impacto do aumento médio do óleo diesel de 8,8%. Empresas e entidades do setor já pedem reajustes nas tarifas para compensar a alta nos custos.
No Distrito Federal, a expectativa é de reajuste ainda em maio. O secretário de Transportes, Alberto Fraga, admite a correção das passagens neste mês, desde que as empresas concluam a implantação do vale transporte no novo sistema de bilhetagem eletrônica. ;Reconheço que o aumento tem que ser repassado às passagens, mas só aceito discutir isso quando o vale transporte estiver totalmente implantado. E sei que isso pode ser feito em 10 ou 15 dias;, afirma o secretário.
;A bilhetagem eletrônica está dentro do cronograma. Já vale para deficientes, funcionários e estudantes e o próximo passo é o vale transporte, que começa este mês. Quanto ao reajuste, tem que haver alguma maneira de recuperar o equilíbrio financeiro;, defende o vice-presidente do sindicato das empresas de transporte coletivo do DF, Victor Foresti.
O movimento é semelhante em todo o país, uma vez que o óleo diesel representa até 30% dos custos de transporte. A Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) já está em campanha para uma correção média de, pelo menos, 6% nas tarifas. Mais do que isso, a entidade enviou ontem uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticando a decisão do governo de subsidiar a gasolina em prejuízo do diesel.
;O país continua na contramão das políticas internacionais, ao subsidiar o preço da gasolina, incentivando o transporte individual, enquanto os transportes coletivos não recebem qualquer tipo de atenção. O óleo diesel hoje já representa de 25 a 30% dos nossos custos totais. Qualquer aumento no preço deste insumo irá refletir no preço das passagens de ônibus, sobrecarregando principalmente a população de baixa renda que mais utiliza esse serviço público;, diz a carta.
Para a NTU, ao privilegiar o preço da gasolina, o país incentiva o uso do transporte individual, superlotando as vias urbanas com automóveis, enquanto uma política de prioridade ao transporte coletivo resultaria no fim dos congestionamentos e dos gastos de energia e de tempo decorrentes do excesso de veículos nas ruas.
Frete mais caro
O reflexo do diesel, no entanto, é ainda maior. Como cerca de 90% do transporte de cargas no país é feito por rodovias, em caminhões movidos a óleo, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) estima um reajuste de 3% a 4% no preço de custo por tonelada da carga, ou seja, nos fretes. A diferença é que esse impacto deve ser diluído ao longo dos próximos meses.
Por enquanto, a maioria dos brasilienses não sentiu nenhum efeito dos reajustes de 10% e 15%, na gasolina e no diesel, que valem desde ontem nas refinarias. Com a redução de R$ 0,28 para R$ 0,18 na Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) incidente na gasolina, o efeito nesse combustível deve ser nulo na capital. ;Na gasolina não haverá mudança nenhuma. Já o preço do diesel vamos decidir na segunda-feira, porque ainda temos estoques. Mas o aumento deve ficar entre 7% e 8%;, avalia o diretor da rede Gasol ; que tem um terço dos postos do DF ; Antônio Matias.