Jornal Correio Braziliense

Economia

Fórum de Energia em Roma rejeita biocombustíveis

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Um verdadeiro bombardeio de críticas aos biocombustíveis marcou nesta segunda-feira (21/04) o Fórum Internacional de Energia. "Está se delineando um conflito entre alimento e combustível com conseqüências sociais desastrosas e benefícios duvidosos para o meio ambiente", declarou o atual chefe de governo italiano, Romano Prodi, ao inaugurar o segundo dia da reunião em Roma. A crise causada pelo aumento dos preços dos alimentos gerou protestos violentos e instabilidade política em inúmeros países, entre eles Haiti, Camarões, Egito, Etiópia, Indonésia, Costa do Marfim, Madagascar e Filipinas. "É preciso vigiar para que a produção e difusão dos biocombustíveis seja coerente com o objetivo de conseguir um desenvolvimento sustentável", pediu Prodi. "O mundo deve decidir qual é a prioridade: dirigir ou comer", afirmou o ministro de Energia do Qatar, Abddullah Al Attiyah, que nega uma relação importante entre o elevado preço do petróleo e a atual crise alimentar. "O problema não é o petróleo e sim os biocombustíveis, que são a origem do problema", declarou o ministro à margem do Fórum. Para o dirigente do Qatar, a crise foi gerada pela penúria de alimentos e não pelo preço elevado do petróleo. "Os grandes exportadores de arroz, como Índia, Bangladesh e Tailândia, reduziram suas exportações", assegurou. Para o ministro do Petróleo da Venezuela, Rafael Ramírez, o impacto dos biocombustíveis no mercado de petróleo é "marginal", apesar de considerar uma "loucura, principalmente na América Latina, por causa dos preços que os alimentos alcançaram". O tema dos biocombustíveis divide as opiniões no mundo e se converteu num assunto polêmico no atual contexto de alta dos preços mundiais dos cereais e outros alimentos básicos. O Brasil, líder mundial junto aos Estados Unidos na produção de etanol, defende a produção de biocombustíveis nos países pobres como fonte de renda, e assegura que isto é perfeitamente compatível com a produção de alimentos. Diante da polêmica, Lawrence Eagles, da divisão de análises da Agência Internacional de Energia (AIE), que representa os interesses energéticos dos países consumidores de hidrocombustíveis, tenta mediar. "Os biocombustíveis fazem parte da equação da crise, mas não constituem o único elemento", garantiu. O aumento do preços dos alimentos se deve a uma alta demanda de produtos agrícolas nos chamados países emergentes, como China, Índia e Brasil. A AIE apóia o uso de biocombustíveis de segunda geração, que não provêm de plantas comestíveis. "Essa segunda geração tem um lugar no leque do setor energético", afirmou Eagles. Em meio à polêmica, o presidente do poderoso grupo Shell foi taxativo: "são muitas as expectativas, os biocombustíveis vão ter um papel, mas não chegarão a ser um componente energético".