Divirta-se mais

Humor na tragédia




Estamos confinados. Ninguém levou muito a sério quando começou a morrer chinês, mais ou menos como aconteceu no início da propagação do vírus da Aids, quase 40 anos atrás — quem não era homossexual, pensou: não tenho nada com isso.

desta vez, como a China é do outro lado do mundo — não sei como é isso para terraplanistas —, também parecia que não tínhamos nada como isso.

Foi-se o tempo que a China era longe. Há chineses entre nós desde 1812, quando D. João VI trouxe 200 deles para nos ensinar a plantar e fazer chá — não deu muito certo; o calor do Rio de Janeiro impediu que as culturas fossem em frente. O chá só deu pé tempos depois, nos tambores que circulam pelas praias cariocas; mesmo assim, chá-mate, originário do Sul.

O fato é que hoje há mais cearenses do que chineses nas pastelarias, as lojas de R$ 1,99 nem existem mais e a Ásia fica ali na esquina. E de repente ninguém mais tem outro assunto — e grassaram especialistas. Não fiz as contas direito mas acho que todos os médicos do planeta, e a maioria dos paramédicos, gravaram um videozinho para o zap.

Foi uma infestação paralela. Com o tema único, vieram as piadinhas gaiatas, memes curiosos e muita notícia que, de tão idiota, nem pode ser considerada falsa.

A paranoia virou paradeira e, se não impediu um cabrito amigo entre os frequentadores da banquinha do Lago Norte (muitos octogenários, no grupo de risco), inviabilizou a roda de samba e choro.

Nosso aforista predileto, o doutor João Bosco Rabelo, decretou: “Se o problema do coronavírus se resolve com o uso do álcool, a solução é ficar embriagado todos os dias”. Doutor Bosco, aposentado, dá plantão para os amigos, mas hoje é, principalmente, um grande contador de casos e criador de frases.

A tendência de usar o humor para falar de coisa séria não é um fenômeno brasileiro. Até os italianos, que vivem uma tragédia, tentam fazer graça, seja dizendo que as máscaras são fantasias fora de época ou que agora é proibido passar a mão nas estátuas de santos — uma tradição católica — para não infectar o céu.

O respeitável jornal The New York Times reuniu uma série de vídeos curiosos ou humorísticos, assim como o site Insider fez com uma coleção de charges e memes publicados pelo mundo brincando com o fato de as pessoas terem que trabalhar em casa. Fazer — ou tentar — graça nessa hora não é desrespeito diante de tantas vítimas, principalmente pessoas mais velhas, mas uma demonstração de que o mundo precisa continuar.

A química explica que o riso libera endorfina e ajuda a relaxar, o comportamento esclarece que é uma relação de alívio. Não é o mesmo que rir da desgraça alheia, uma atitude sádica. É como disse Charles Chaplin: “É saudável rir das coisas mais sinistras da vida, inclusive da morte. O riso é um tônico, um alívio, uma pausa que permite atenuar a dor”.



“Não fiz as contas direito mas acho que todos os médicos do planeta, e a maioria dos paramédicos, gravaram um videozinho para o zap”



BRASÍLIA MINHA

Veja as fotos dos seguidores do @cbfotografia que postaram com a hashtag #brasiliaminhacb.
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