À beira do terror
Rotina com remédio controlado, isolamento em uma rica propriedade de praia e a sistemática vigilância de várias câmeras de segurança: assim é a vida da protagonista de O homem invisível, curiosamente estrelado por Elisabeth Moss. Não que ela interprete o homem; mas sua personagem — uma arquiteta sem emprego chamada Cecília — convive com os efeitos da sombra do ricaço que arruinou o mundo dela: trata-se do namorado Adrian Griffin (Oliver Jackson-Cohen).
Narcisista e sociopata, ele, que em dado momento da trama efetivamente some, colocará Cecília sob o impasse de fazer valer a máxima da vingança com as próprias mãos, uma vez que a mácula sentimental do passado (de assédios e afins) teimará em não desaparecer.
Há um momento do longa dirigido por Leigh Whannell — baseado, muito de leve, num texto clássico de H.G. Wells (adaptado para o audiovisual em mais de meia-dúzia de produções, desde os anos de 1930) — em que o espectador terá a certeza de que Cecília não precisa de auxílio de policiais, mas sim de esclarecimento psicológico (que, aliás, chegará bem tarde à jornada dela).
Em muitas partes do filme, há um quê de paralelo entre o longa, um terror psicológico, e fitas dos anos 1990 (Invasão de privacidade) e anos 1980, ao estilo de Querem me enlouquecer. Não há como negar que a história do filme prende o interesse, mesmo com manjadas situações de sustos e surpresas.
Com uma excelente direção de arte que potencializa as futuras ações de Adrian, dado como morto, O homem invisível se vale da capacidade de convencimento da atriz Elisabeth Moss (que muda até seu jeito de andar). A ela, cabe a perfeição do papel de vítima em potencial.
Tratamento
O filme de Whannell se esbalda na vulnerabilidade de Cecília. Reclusa num centro de tratamento, ela entra numa espiral na qual quase todos, desconfiam de suas palavras.
Enervante, o filme consegue impactar, quando a protagonista abre o martírio de ter, “entre outras coisas”, apanhado do companheiro. No convulsivo destino que enfrenta, Cecília irá se deparar com Tom (Michael Dorman), o irmão de Adrian.
Entre os pontos fracos do filme, com roteiro do próprio diretor, está a sequência na casa de reabilitação, em que, com uma voz diferente (e aspecto à la Venom), o opressor conversa com Cecília e ainda em que vários policiais são abatidos como se fossem pinos de boliche jogando contra. Pesa ainda a incoerência da ética zero apresentada pela protagonista, no desfecho da fita.