Uma realidade inconveniente?
Advogado do segmento empresarial, Rob Billot (Mark Ruffalo) tem a vida colocada em xeque, a partir de uma denúncia muito bem estruturada pelo fazendeiro Tennant (Bill Camp, intenso ator de filmes como Coringa e Birdman). Num lugar de um prometido aterro, a companhia DuPont oferta um lixão, pelo que denuncia. O enredo é desenvolvido no circunspecto filme de Todd Haynes, conhecido pela estética de Longe do paraíso (2002), pelo intrigante Não estou lá (2007), em torno da figura de Bob Dylan (2007) e Carol (2015), longa combatente de preconceitos.
Junto com Anne Hathaway, Tim Robbins e Victor Garber, um elemento químico protagoniza o filme: é o ácido perfluorooctanoico (C8 ou PFOA). Usada pela gigante empresa DuPont, no segmento da exploração do teflon (usado em panelas e afins), a substância causaria abalos ambientais e afetaria a saúde dos seres humanos (apresentados pela empresa como meros “receptores” de elementos químicos). Para além da animosidade registrada nos meios jurídicos, o filme, que vem todo em tons cinza-azulados (com fotografia sufocante), expõe meandros do sistema industrial que chega blindado no banco de réus.
Da mesma produtora do vencedor do Oscar Spotlight (também com Ruffalo no elenco e extraído de caso real), o filme abraça um bem-vindo engajamento, mas não negligencia a carga de pressão inacreditável que pesa sob os ombros de Rob Billot. Ano a ano, revela uma batalha de documentação e de coleta de dados, num panorama extenuante. Com carga sutil, o diretor ainda aplica fina ironia em relação a valores abolidos, a longo prazo, na sociedade. É o caso dos bebês (vistos como “problemas”) na vida das “senhoritas” trabalhadoras e, noutra cena, há um banquete servido por maioria de garçons negros.