“Não existe uma arte louca. O que existe é uma obra de arte”, afirma a curadora Thais Darzé. A convite do diretor do Museu Nacional da República, Charles Cosac, ela desembarca em Brasília com o trabalho do baiano Aurelino dos Santos e a exposição Construção obsessiva.
Com mais de 70 anos, Aurelino é considerado pelo senso comum como um louco. Thais explica que não existe um diagnóstico fechado sobre o artista, mas um conjunto de patologias mentais. “Contudo, isso não nos abre nenhuma janela para o entendimento de sua obra”, pontua. O baiano começou a pintar na década de 1960, influenciado pelo escultor Agnaldo dos Santos e por Lina Bo Bardi. “A partir da arte que ele consegue transitar e viver na sociedade atual sem tratamento. A arte é a sua lucidez, seu meio de linguagem com o mundo”, explica a curadora.
Andarilho, o artista mapeia Salvador e os elementos da cidade. Em telas coesas, coloridas, geometrizadas e harmonicamente organizadas, Aurelino expressa a genialidade . “Ele executa com maestria e pode ser comparado a grandes mestres em pé de igualdade. São necessários outros cânones que não o da razão para analisar o corpo de sua obra”, avalia Thais.
A exposição reúne mais de 100 obras produzidas entre 1980 e 2015. “Tem um corpo de obra muito harmônico. É construtivo e figurativo. Esteticamente, ele tem características geométricas, do construtivismo, mas, apesar da geometria, tem sempre uma figuração escondida, as construções da cidade, as igrejas, algumas formas humanas”, descreve a curadora. Além das pinturas, alguns trabalhos são apresentados em técnica mista, com colagens.
Sensibilidade artística
Observar o insubstituível ato artístico, processo primordial da obra de arte, é a proposta da exposição O futuro é analógico, no Espaço f/508 de Cultura. Com curadoria de Humberto Lemos e expografia de Monica Nassar e Euclides Carvalho, a mostra reúne seis artistas brasilienses, que trabalham com técnicas analógicas, como cianotipia, colagem e apropriação.
“O que une esses trabalhos é uma vertente que a gente busca manter viva no espaço. É o trabalho mais poético, que não termina nele mesmo, que transcende a imaginação, é autoral. São trabalhos que transportam o observador e dos quais o processo de pensar a imagem não depende da técnica”, explica Monica.
Seja em fotografias analógicas ou em objetos ou colagens, o público poderá examinar a sensibilidade artística de Bete Coutinho, Beatriz Chavez, Letícia Miranda, Naiara Pontes, Sabina Dias e Telio Pacheco.
SERVIÇO
Construção obsessiva
No Museu Nacional da República. Do artista Aurelino dos Santos, com curadoria de Thais Darzé. De hoje até 29 de março. De terça a domingo, das 9h às 18h30. Entrada gratuita.
O futuro é analógico
No Espaço f/508 de Cultura. Visitação até julho. De segunda a sexta, das 14h às 21h, e sábado, das 10h às 13h.