Como cronista e retratista da contemporaneidade, do que está ao seu redor, o ator e dramaturgo brasiliense Arthur Tadeu Curado captou a ebulição de assuntos coletivos, porém individuais; comentados, porém repelidos, e a transformou em Hiato. Na poesia do teatro, ele, a atriz e bailarina Larissa Salgado e a diretora Andréa Alfaia tocam em questões humanas da hiperconectividade. Ansiedade, depressão, burn out, suicídio, saúde mental.
“É uma necessidade minha como dramaturgo de falar sobre o hoje”, resume Curado. Depois de um tempo de observação, o ator e dramaturgo percebeu o quão evidente e crescente se tornou a temática da saúde mental. “Ansiedade, burn out, a depressão se tornaram quase assuntos do cotidiano e corriqueiros, sendo que a gente sabe que são profundos e neurais. Questões classificadas como mal do século”, comenta.
Ao flertar um pouco com esse lugar de falar e muito pesquisar e conversar com psicólogos, terapeutas e professores de psicologia e cuidados paliativos, Curado encontrou no teatro um ambiente de acolhimento para o debate. “Entendo que é um tabu, que tocar no assunto é delicado, mas o teatro é muito preservado, tem poesia, tem luz, tem sombra, tem pausa. É uma comunicação coletiva, compartilhando aquela mesma história em um momento único”, descreve.
No Janeiro Branco, dedicado à saúde mental, o espetáculo entra em temporada no Espaço Cultural Renato Russo como um alerta. Dentro de assuntos tão amplos e complexos, Curado selecionou arquétipos contemporâneos. “Eu, você, seu colega de trabalho, seu irmão. Ali, contém experiências, sensações que englobam algumas questões muito atuais, desde responsabilidade afetiva até uma pessoa cuja afetividade foi afetada. Tem questões raciais, de gênero, do abandono afetivo. Questionamentos apontados pela sociedade”, detalha o dramaturgo.
Mais do que uma peça sobre tristeza ou desânimo, Curado afirma que o trabalho é sobre a vida, o ser humano e as dificuldades por ele enfrentadas. “Eu estou prestando atenção em quem está ao meu lado e você?”, questiona. As cenas também são celebrações aos sobreviventes, sobretudo, em um país com altos índices de suicídios. “Hiato veio do latim e quer dizer fenda, pausa, suspensão, ponte, um elo. Queremos criar um elo, uma ponte entre a gente e o espectador para que a gente possa lançar luz e falar sobre isso. A vida precisa de pausa também. Ela é uma pausa. Cadê os hiatos?”, finaliza.
SERVIÇO
Hiato
De Arthur Tadeu Curado, com Larissa Salgado e Andréa Alfaia. No Espaço Cultural Renato Russo. De hoje a 9 de fevereiro, de sexta a domingo. Sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h. Não recomendado para menores de 16 anos. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20.