Diversão e Arte

Artistas da cidade contam o que andam fazendo durante o isolamento

Para se manter ocupados durante o isolamento necessário ao controle da pandemia, artistas da cidade se dedicam a livros, música, filmes, estudo, mas também à criação artística

Ouvir música, ler livro e assistir a filme são atividades que passaram a ter importância ainda maior no cotidiano de muita gente em tempos de pandemia. Entre as manifestações artísticas que vêm sendo consumidas estão clássicos de estilos diversos da música nacional e internacional, peças eruditas, best-sellers, obras filosóficas, documentários e variados gêneros de filmes. Personalidades com reconhecida contribuição para a arte em Brasília falam sobre como — observando o necessário distanciamento social —, ocupam o tempo sob a égide da covid-19. O Correio ouviu o cineasta, músico e compositor André Luiz Oliveira, a atriz Juliana Drummond, o cantor e compositor Eduardo Rangel, a sambista Kris Maciel, a poeta Noélia Ribeiro, o açougueiro e produtor cultural Luiz Amorim, o cantor e compositor Paulo Verissimo, e a flautista do Teatro Nacional Cláudio Santoro Ariadne Paixão.


André Luiz Oliveira — “No início da pandemia, o isolamento social aliado ao desgoverno do país me colocaram diante de duas opções: lamentava ou aproveitava a oportunidade para aprofundar a compreensão de natureza desse inferno e, a partir daí, gerar condições de consciência e sobrevivência. Com esse propósito revi o atualíssimo O pianista, filme de Roman Polansky. Vi claramente como um regime, no início apenas autoritário, se tornou criminoso e levou ao extermínio milhões de seres humanos. O que li de mais marcante foi Lamento dos mortos — A psicologia depois do livro vermelho de Jung, de James Hilman e Sonu Shamdesani. No mais, sigo tocando e compondo muito.”


Juliana Drummond — “Tenho escutado muitas playlists do Spotify, meus vinis de MPB e jazz, além de trilhas dos anos 1980. Venho assistindo a filmes com o meu filho e o meu namorado, como Mágico de Oz, Os Piratas do Caribe, Mogli; além de documentários no Canal Brasil, entre eles Dizzy Croquetes, grupo de teatro dos anos 1970; e o clássico Chorus Line. Li Prólogo, Ato e Epílogo, livro de memórias de Fernanda Montenegro; e Toda poesia, de Paulo Leminski, que servem de alívio para dias, noites e madrugadas, e para refletir e ter afago neste momento sombrio. Faço também leituras dramatizadas com o grupo Os Dramátikos,de obras para teatro de Nelson Rodrigues, Millôr Fernandes, Flávio Rangel e Bukovsy.”


Eduardo Rangel — “A descoberta e o resgate de muita coisa boa vem, em parte, preenchendo o tempo na quarentena. Ouvi, por exemplo, Ária de Corda Sol (Air on The G String, de Bach, que é bem relaxante neste momento bizarro; assim como o filme A lenda do pianista do mar, de Giuseppe Tornatore. Vi também o documentário Humano — Uma viagem pela vida (Arthus Bertrand), com depoimentos de pessoas de várias nacionalidades, cores, credos e idades sobre amor, mágoa, violência e esperança, ilustrados por lindas imagens de migração, que faz perceber como, no fundo, somos todos iguais, com os mesmos problemas e sonhos. Outra beleza que assimilei foi o poema de Noélia Ribeiro Nesta quarentena estou matando saudade de mim — Faz tempo que não me visitava.”
 
 
Kris Maciel — “Me tocou profundamente o Bohemian Rhapsody, filme sobre a vida de Fred Mercury, de quem sempre fui fã, embora soubesse pouco sobre a história dele. Outro filme que me comoveu foi O milagre da cela 7, pelo fato de ser cuidadora do meu tio, que tem problemas mentais. A história sobre a relação de um homem com deficiência intelectual e o filho, é linda. Tenho ouvido discos de João Nogueira, Clara Nunes, Clementina de Jesus e Fundo de Quintal, para ampliar meu repertório.”


Noélia Ribeiro — “Neste período de isolamento li romances, contos e livros de poesia. Acabei de ler A poesia de recusa, de Augusto de Campos. Assisto shows de artistas da MPB no YouTube e não perco as lives de Teresa Cristina. Recentemente, adquiri álbum duplo Amo no caos I e II, de Zeca Baleiro, e participo de grupos de cantoria e fiz o curso Práticas de MPB, de Ricardo Silvestrini. Acompanho, em diferentes plataformas, debates literários, saraus e rodas de conversas. Organizo, semanalmente, a live A fim de poesia, no Instagram. Com relação a filmes, assisti e destaco Corpus Christi, do polonês Jan Komasa, indicado ao Oscar. Tenho feito muita coisa para ocupar o tempo.”


Ariadne Paixão — “O período de isolamento social tem sido altamente profícuo para a realização de projetos e aprendizados e autoconhecimento. Além do trabalho cotidiano, pela natureza da minha profissão. O momento tem favorecido reflexões, especialmente no sentido de sermos mais colaborativos. Além disso, tem me dedicado à leitura que amplie conhecimento de maneira geral. Com alegria, li História Social da Música Popular Brasileira, de José Ramos Tinhorão. Assisti também a programação da Filarmônica e Berlim. Tenho acompanhado ainda lives de colegas, tanto do Brasil quanto no exterior.”
 
 

Saiba Mais

Luiz Amorim -- "Como o açougue vem funcionando normalmente, neste período desta terrível doença, no tempo que me resta assisti a alguns filmes,entre os quais A Senhora da Van, Jardim secreto, Uma lição de amor e Vendedor de sonhos. Li livros de marketing e administração de empresas, pois quero me atualizar um pouco mais na gestão comercial. Aproveitei também para cozinhar alguns pratos que sempre quis fazer, mas não tinha tempo".
 
 
Paulo Verissimo -- "Duas coisas me chamaram a atenção nesse período de isolamento social. A primeira foi o documentário do músico e escritor Arnaldo Antunes, sobre a maneira como utiliza as palavras no processo de criação dele como poeta e músico. Outro fato que me marcou foi revisitar vários discos que eu não escutava há tempos. Tive grata surpresa ao escutar  o álbum London Calling, do The Clash, um disco que ainda soa contemporâneo".