Diversão e Arte

Novidades do mundo dos quadrinhos, 2º gênero mais consumido na quarentena

Mesmo com a pandemia, fluxo de lançamentos no formato é grande. Confira obras que vão desde novas histórias da Turma da Mônica até produções com viés político

Um levantamento do Instituto GFK com livrarias físicas e on-line apontou que, durante a quarentena, as histórias em quadrinhos tiveram um crescimento no consumo. Passando da quinta colocação, para a segunda, perdendo apenas para os romances.
 
Mesmo na pandemia, grandes editoras continuaram lançando as obras e estimulando o mercado. É o caso da Panini Comics, que tem selos voltados para lançamentos da Mauricio de Sousa Produções, além de DC e Marvel. “Durante a pandemia, fizemos algumas adequações, pois muitas publicações estavam relacionadas com filmes, mas o impacto foi pequeno, pois conseguimos lançar os títulos mensais e os especiais para o mercado”, explica Marcelo Adriano da Silva, gerente de marketing da Panini Brasil.

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Do lado mais independente, houve, um impacto, principalmente, quando se fala em HQs físicas, mas as versões digitais seguem sendo opção. “A pandemia atrapalhou nossos planos de publicação em bancas. A ideia era distribuir quadrinhos para todas as regiões do país, tentando democratizar o acesso. Apesar de a versão impressa não ter saído (mas vai sair assim que a situação melhorar), acredito que publicações digitais também estão democratizando o acesso aos títulos, permitindo que pessoas que moram longe dos centros de distribuição”, avalia Rapha Pinheiro, editor da Editora Guará.

De olho na força do gênero, o Correio selecionou algumas obras lançadas recentemente que merecem atenção. Confira!

Cascão: Temporal


Da coleção graphic MSP, Cascão: Temporal (Panini Comics, 97 páginas. Preço médio: R$ 41,90) traz uma história diferente do personagem da Turma da Mônica em que aborda o tempo, tanto como a duração das coisas, como também faz certa referência à meteorologia. A versão do clássico personagem é de Camilo Solano, que sempre sonhou em participar do projeto. Para chegar a própria perspectiva de Cascão, fez questão de pesquisar o passado do personagem em gibis.

Assim chegou a história de Temporal, quando Cascão passa um dia com o tio Gerson. “Em um momento encontrei um elo entre o universo do Cascão e o meu, que foi descobrir que ele tinha um tio que possui o mesmo nome do meu pai, Gerson. A partir disso, comecei a desenvolver a história, pois meu pai trabalha na Sabesp há quase 40 anos e achei engraçada a ideia do Cascão ter um tio que trabalha em uma empresa de água. O visual do Cascão surgiu de diversos estudos para definir bem a silhueta do personagem e claro, colocar todo o meu estilo ali”, completa.

Sobre a relação da temática da história com o momento atual, ele diz: “O roteiro foi escrito em maio de 2019 e eu não fazia ideia de que tudo isso aconteceria. Que todos ficaríamos isolados igual o Cascão fica com seu tio em Temporal. O poder que as histórias em quadrinhos têm nesses momentos demonstra a potência que essa arte possui. É uma história leve que conta com a imaginação e tenta passar um pouco disso para o leitor”.


Uma pergunta // Camilo Solano

Você lançou neste ano a HQ Temporal sobre Cascão. Na própria HQ há um pouco do bastidor de como foi a sua participação no projeto. Mas queria saber como foi a sua sensação de finalmente ter conseguido realizar esse sonho?

É uma sensação quase indescritível ter realizado esse sonho. Desde quando esse projeto começou com o Astronauta, eu venho acompanhando e sempre sonhava um dia produzir uma. E sempre admirei muito o Sidney Gusman. Tenho a sensação dele ser uma pessoa que estava em tudo que lia quando mais jovem. Em quase todo editorial de revista ou livro que eu via, sempre estava o nome dele e ficava pensando que um dia gostaria de trabalhar com aquela pessoa. Foi uma junção de realizações produzir essa HQ.
 
 

Cidadão Incomum – A ponta do iceberg


Expansão do livro O Cidadão Incomum (Conrad, 2017), de Pedro Ivo, a série em quadrinhos Cidadão Incomum (Editora Guará. Disponível em versão digital. Série em seis capítulos. Preço médio: R$ 6, por edição) foi lançada neste ano pela Editora Guará. A obra tem um viés mais político e social ao imaginar um Brasil, em que pessoas de diversas classes sociais, etnias e orientações sexuais desenvolvessem superpoderes. 

“Quadrinhos sempre foram políticos, desde o nascimento como críticas ao governo no século 19. Trazer questões sociais para o quadrinho é necessário para que ele continue a ser esse palco de debate e reflexão que sempre foi. É recente esse movimento de tentar separar a arte do debate público, e colocando ele aqui estamos nos posicionando como pessoas que se importam com o que se pensa para o futuro do nosso país”, explica Rapha Pinheiro, editor da Editora Guará.

A produção, inclusive, ganhará uma série televisiva, em que os detalhes ainda são secretos. Cidadão Incomum abriu os lançamentos de 2020 da Editora Guará e a escolha foi exatamente pensando em novos leitores. “Sabemos que muitas pessoas associam quadrinhos com super-heróis. No intuito de trazer novos leitores para a cena de quadrinhos nacional, queremos apresentar algo que eles conseguissem identificar facilmente como nosso. Cidadão Incomum não só é um super-herói, mas sua história está fortemente conectada com o cotidiano brasileiro, lidando com questões políticas e sociais com as quais esbarramos todos os dias”, completa.

Uma pergunta // Rapha Pinheiro


A Equipe Guará preparou uma série de lançamentos para julho. O que você pode adiantar sobre as produções?

A produção de quadrinhos é algo bem demorado. Estamos com títulos saindo semanalmente e isso só é possível porque estamos trabalhando neles desde o início do ano. No momento, enquanto os #1 estão saindo, estamos desenhando o que vai sair lá em Novembro. Dessa forma, conseguimos garantir uma publicação regular e tentar criar um hábito de leitura nas pessoas, deixando o pessoal com vontade de ler o próximo assim que sair pra não perder nas novidades. Esse modelo é usado lá fora e é difícil de emplacar por aqui porque precisa de um investimento de médio prazo. No momento, temos quadrinhos pra sair até Dezembro com certeza. Esperamos que a repercussão seja boa pra que a produção possa continuar direitinho no ano que vem.


Mais histórias em quadrinhos


O árabe do futuro 4: Uma juventude no Oriente Médio
De Riad Sattouf, a obra é o quarto volume da série e continua acompanhando o jovem Riad e a família dele na perspectiva entre os anos de 1987 e 1992 no Oriente Médio. Agora, o leitor verá o ponto de vista do protagonista na pré-adolescência. A obra é composta por 288 páginas, publicada pela Editora Intrínseca e tradução de Debora Fleck.

Beasts of Burden: Guardiões da vizinhança
De Evan Dorkin, Jill Thompson e Benjamin Dewey, a obra é uma série de fantasia e humor que traz as aventuras de bichinhos de estimação resolvendo casos horripilantes. Em 188 páginas, o lançamento é mais um volume da saga e tem Pugs, Órfão, Campeão, Dimpna, Jack, Branquelo e outros animais enfrentando ameaças sobrenaturais. Da Editora Pipoca & Nanquim.

Destino adiado
Pela primeira vez chega ao Brasil uma obra escrita e desenhada pelo quadrinista Jean-Pierre Gibrat. A graphic novel aborda uma história de amor ambientada na ocupação francesa durante a Segunda Guerra Mundial. A versão traz a reunião de dois volumes lançados originalmente em 1997 e 1999. Da Editora Pipoca & Nanquim.