O músico brasiliense Saint-Hills, que decidiu tentar a vida em São Francisco na Califórnia,
lançou, nesta sexta-feira (31/7), o primeiro EP da carreira. Intitulado Saudade
antecipada, o trabalho tem cinco faixas, sendo metade em inglês e a outra em português.
O material já está disponível em todas as plataformas digitais.
Artista que começou com lançamentos de singles eletrônicos, com pegada que lembrava o EDM e
ritmos mais pops, Saint-Hills apresenta um EP que vai do eletrônico ao instrumental, do pop ao
funk. “É uma conexão de dois mundos. Eu me vejo em uma dicotomia em que um lado meu é mais funk,
brasileiro, diversão e brincadeira, e o outro é mais introspectivo, reflexivo e alternativo.
Queria misturar esses dois mundos e veio esse EP”, explica o artista.
Foi só no início do ano que o músico se aventurou pela primeira vez em uma composição de funk.
Ele diz que teve uma resposta boa, inclusive nos Estados Unidos. A canção, chamada Pretérito
perfeito, passou a ser pedida nas casas de show que ele se apresentava por
norte-americanos que acompanhavam a carreira dele. “A relevância da música brasileira, seja a
gente falando de bossa nova, samba ou funk, é muito grande aqui no exterior. A receptividade é
muito boa e eu ainda acho que funk ficará ainda mais mainstream no mundo inteiro”, prevê o
Saint-Hills.
O EP também é uma trajetória pela ainda curta, porém diversa, carreira do artista. “Eu queria
fazer algo que captasse a minha versatilidade, que tivesse um pouco mais de funk e funk-pop, mas
também apresentando para essa galera que gostou de Pretérito perfeito, que também faço
instrumental, beat, música em inglês e pop”, conta.
A saudade
A escolha do título Saudade antecipada também não foi por acaso. Segundo o próprio
Saint-Hills, isso também faz parte do conceito de fazer algo que o mostre um brasileiro que mora
em outro país.
“Chamar o EP de Saudade antecipada, sou eu afirmando a minha cultura brasileira mais
do que qualquer coisa. É mais do que escrever uma música dizendo que sou brasileiro”, diz o
cantor. “Fiz também porque sei que tenho uma audiência americana que pode ir pesquisar no Google
o que é saudade e estará escrito que é ‘uma palavra lusofônica que não tem tradução para o
inglês’ e eu acho muito lindo que a gente tem uma palavra intraduzível”, lembra o músico.
“Saudade representa muito a minha jornada. Eu sinto muita saudade do Brasil quando estou aqui e
sentiria muita saudade das coisas daqui se estivesse no Brasil. O meu destino é ter um pouco de
saudade sempre”, conta Saint-Hills.
Um lugar no mundo
Saint-Hills é o nome do projeto musical de Jaime Jobim, um jovem de 23 anos nascido em Brasília
que foi para Califórnia para fazer faculdade enquanto perseguia os sonhos na música.
Politizado desde jovem, Jaime é um artista, atualmente imigrante e um homem trans que se sentiu
um estranho onde vivia durante toda a vida: “Eu também tentava ser uma pessoa que eu não era, me
sentia alienado de mim, do meu próprio corpo e do que eu comunicava para as pessoas ao meu
redor"
“Hoje em dia sinto que sou autêntico, que sou quem sou e que eu não estou mentindo para
ninguém. Isso é uma liberdade que me traz muita felicidade e preenchimento na vida. Então quero
inspirar as outras pessoas a abraçarem o próprio alien”, comemora Saint-Hills.
Sobre ser um homem trans no meio musical, Saint-Hills acredita que não deve ser o foco da
música dele no momento. Segundo o músico, ele quer ser lembrado como uma pessoa que faz música,
que é um homem trans, e não um rotulado como o músico trans.
“Não é porque você é trans ou de uma certa etnia que você tem menos capacidade, ou que você é
obrigado a almejar só um tipo de vida”, reflete o artista.
“Tem muitas portas fechadas só pelo fato de eu existir, mas tem outras abertas. Sei e quero usufruir dessas abertas”, completa.
“Tem muitas portas fechadas só pelo fato de eu existir, mas tem outras abertas. Sei e quero usufruir dessas abertas”, completa.