Conversa de silêncio
Amigo
Hoje é teu aniversário,
completas 80 anos, mas não sabes.
Logo você que não esquecia
o aniversário de ninguém.
Você, que das pessoas
guardava o nome completo
e das coisas acontecidas
o ano, o mês, o dia. Você,
incansável cultor de minúcias
e sutilezas, em tudo que fazia.
— Ó Deus, por que permitistes
cair pesada cortina de noite
sobre a mente resplendente
do homem bom, simples
e franciscanamente humilde?
Oitenta e cinco vezes presidiu
a República
e o mar da vaidade não molhou
sequer a sola do seu sapato.
— Deus, por que não estendestes
por mais tempo o brilho
da pérola pura e limpa,
apesar de colhida no tenebroso
e contaminado mar da política?
— Por que interrompestes
de repente, sem aviso,
a fecunda jornada das mãos
do cidadão escravo do servir
que semeava futuros?
— Por que não fizestes
durar mais tempo
a chama de sua competência
e o calor de sua integridade
tão necessários a este país?
— Em respostas a essas indagações
ouço Marco Maciel dizer:
“Joel, insondáveis são
os desígnios de Deus.”
— Mas hoje é teu aniversário.
Não importa que não te lembres de nada.
Nós lembramos de tudo.
Lembramos por você
e especialmente por nós.
Não é sem razão
que desde os barrancos
do Velho Chico até os arrecifes teus fiéis amigos
eleitores órfãos
te abraçam com carinho
e merecido respeito.
Amigo
O silêncio não cala a comemoração
de teu aniversário porque
de saudade ela será
Joel de Hollanda