A cantora e percussionista Nãnan Matos é um dos conhecidos nomes da cena cultural de Brasília. Com forte influência musical africana, a artista também sofre com os efeitos da pandemia, mas aproveita do isolamento social para compartilhar conhecimento por meio cursos on-line e lançamentos musicais para a comunidade.
Mesmo antes da pandemia causada pelo coronavírus, a cantora realizava atividades on-line, o que facilitou o processo de transição dentro da quarentena. “Estou realizando vários projetos e várias ações on-line, sempre atualizados com pesquisa e colheita de materiais. Nesse momento de isolamento social, optei por compartilhar saberes e gerar uma autonomia para as pessoas que estão sem estrutura com oficinas on-line”, conta.
Os shows, frequentes na agenda de Nãnan Matos, diminuíram e são ocasionais, em lives não monetizadas realizadas no Instagram. A captação de recursos financeiros, entretanto, não foi afetada de forma significativa. A artista apoia campanhas com atividades on-line e recebe apoio do fundo Baobá, que apoia iniciativas de lideranças negras.
“Hoje em dia, sendo artista, para dialogar com o mundo, percebemos que não é apenas fazer música. Tenho projetos com parcerias pontuais e outros que recebo apoio com recursos do programa de aceleração de lideranças negras Marielle Franco, que apoia 63 lideranças negras e 40 coletivos no Brasil. Também tenho o curso Afrocanto, sobre o canto dos Orixás e cantos africanos, que é um dos principais produtos que desenvolvo”, explica.
Envolvida com as raízes africanas, a percussionista faz questão de utilizar a ancestralidade para potencializar a música como fonte de inspiração para a população preta em Brasília e no Brasil. “Meu foco é na música como ampliação do olhar para as pessoas pretas. Muitas pessoas se apropriam e tentam banalizar a importância desse discurso. As pessoas que fazem um trabalho de preservação dos nossos saberes ancestrais têm que observar e analisar objetivamente para que essa luta não seja em vão. Realizo esse trabalho pela cultura e dança há mais de 10 anos no Brasil e faço isso pela representatividade que vai além da estética, mas chega ao campo do progresso, olhando o passado e visualizando o futuro.”
Desenvolvendo um show virtual, ancestral, tecnológico e dinâmico para o segundo semestre, Nãnan acredita que o panorama cultural da capital federal não é democrático, mesmo com os recursos do FAC como ajuda aos agentes culturais. Para ela, existe uma bolha elitizada e falta abertura para os artistas das cidades do entorno e das periferias.
“Brasília dialoga com a música elitizada, em espaços elitizados, que são poucos. Existe pouco local de atuação para os grandes artistas e novas gerações. Os locais têm uma política de curadoria que não atendem as pessoas em um sentido universal de ritmos e estilos. Essa falta de acessibilidade ainda limita muito os artistas. Precisamos revisar as políticas de fomento cultural na cidade para maior inclusão de novos artistas, o que acontece em pequena proporção, e de maior participação da comunidade musical para criar diretrizes inclusivas”, finaliza.
*Estagiário sob a supervisão de Adriana Izel