A escritora carioca Alê Motta é tão sucinta ao falar do novo trabalho. “O meu Velhos é um livro de contos, microcontos, que são narrativas curtas. Eu gosto de chamar de textos curtos, onde a prioridade é a concisão. Mas chame como quiser”, explica, sem dar corda à “polêmica” levantada por Itamar Vieira Junior na orelha do livro: “Nomear a forma narrativa presente de ‘microconto’ seria reduzir o projeto literário da autora. O prefixo ‘micro’, que muitos críticos insistem em usar para se referenciar às narrativas de pequena extensão, nada acrescenta à força de seus textos, que são poderosas sínteses do nosso tempo vital, e por isso mesmo se revelam pequenas joias lapidadas por cuidadoso trabalho de ourivesaria“, escreve.
O embrião do livro foi um desafio proposto pelo escritor Marcelino Freire durante uma conversa. “Você deveria, algum dia, escrever um livro sobre a velhice”, ele disse. “Uma frase-desafio do Marcelino não pode ser ignorada”, ela pensou, e criou uma pasta chamada Velhos, no computador, como um lembrete. Ela estava trabalhando em dois outros projetos, mas, de vez em quando, escrevia um texto e botava na pasta Velhos.
Quando chegou a hora de dar os últimos retoques em um daqueles dois projetos, antes de enviá-los ao seu editor desde o primeiro livro — Marcelo Nocelli, da Reformatório —, tropeçou na pasta Velhos e se surpreendeu com a abundância de material já depositado ali. “Não voltei ao outro projeto naquele dia, naquela semana. Fiquei absolutamente envolvida, porque descobri: era um livro. Foi nele que me debrucei, dando os retoques finais.”
As histórias de Velhos são sempre narradas em primeira ou terceira pessoa, tendo como protagonista uma destas pessoas em idade mais avançada. Nenhuma deles se insere nos estereótipos do velho fofinho ou decadente. “Acredito que o meu livro nasceu do incômodo de ver muitos velhos ignorados ao nosso redor — ativos, intensos, adaptados à modernidade, solitários, desesperançados. Vidas tão interessantes e valiosas”, reflete a autora, que acrescenta: “Descrevo experiências da velhice. Pequenas alegrias, limitações, fragilidades, dores. O assombro da morte e doenças, a amargura, a capacidade de ser cruel e sarcástico, independentemente da idade. Meus personagens não são todos bonzinhos e inocentes, porque são velhos”.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
Velhos
De Alê Mota. Editora Reformatório. Número de páginas: 136. Preço: R$ 36. A venda pelo site da editora (editorareformatorio.minhalojanouol.com.br/produto/234840/velhos)