Diversão e Arte

Elas não param!

Importantes produtoras culturais da cidade contam como estão mantendo as atividades na pandemia e o que esperam para quando o período de quarentena terminar

 
As mulheres têm presença destacada na cena musical brasiliense não apenas como cantoras, compositoras e instrumentistas. Elas se sobressaem também enquanto produtoras. Algumas estão em atividade há bastante tempo, enquanto outras passaram a exercer a função mais recentemente. A exemplo de profissionais de outros segmentos, essas agentes da área de cultura enfrentam dificuldades para exercer o ofício em tempo de pandemia.

Como, há mais de três meses, estão impossibilitadas de produzirem shows com a presença do público, elas têm buscado alternativas para se manterem com dignidade durante a longa quarentena. Embora o foco principal seja a música, se desdobram em outras funções, na busca da obtenção de algum ganho financeiro. Há desde as que passaram a trabalhar com delivery até as que colocaram em prática o talento culinário.

Mas a maioria têm se dedicado mesmo é à produção de lives, levando ao público, on-line, performance dos artistas com os quais faziam parceria. Ao Correio algumas dessas produtoras falaram também como se colocam diante da incerteza em relação à retomada das atividades.

Ester Braga — Produtora na área do samba há 20 anos, Ester Braga tem trabalhado com cantores e compositores consagrados, como Monarco, Arlindo Cruz, Roque Ferreira, Diogo Nogueira, Marquinhos Satã e o grupo Fundo de Quintal. Mas são eventos com sambistas a cidade que predominam na agenda da Ester Braga. Ela destaca o projeto Poetas do Samba, realizado desde 2015, no primeiro sábado de cada mês, no qual abre espaço para o grupo formado por 10 músicos, com idade acima de 50 anos.  “Nessa longa quarentena, estou focada em dar visibilidade aos artistas para os quais faço produção, contato com a mídia e participando de editais”, conta. “Além disso, faço curso para me inteirar mais sobre o uso de ferramentas de trabalho no segmento virtual. Torço pelo fim da pandemia, para que possa voltar a fazer o que mais gosto, ou seja, levar os sambistas ao palco para shows com a presença do público”, acrescenta.
 
 
Karen Parreira —  Na direção da Violeta Produções, desde 2011, Karen Parreira promove, há três anos, o Festival de Viola Caipira, na Casa do Cantador, em Ceilândia; e shows com várias duplas. No carnaval, ela comandou o bloco Pagode em Brasília (pagode é um dos estilos musicais do universo da música sertaneja de raiz).  Sempre ativa, mesmo com a disseminação da covid-19 ela não deixou de trabalhar. “Agora, estou produzindo discos de quatro duplas, além do meu quinto álbum, no estúdio GR1, em Taguatinga, com o apoio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC-DF)”, destaca. “Tenho me movimentado também para aumentar o giro dos mais de 30 discos lançados pela Violeta Produções. Mesmo sem saber quando podemos voltar a nos apresentar, tenho criado projetos para quando isso acontecer”, ressalta.
 
 
Cristiane Dias —  O forró Spilicute, que Cristiane Dias promove, às sextas-feiras, no Cota Mil (Setor de Clubes Sul), há 14 anos, é o evento preferido para quem gosta de dançar agarradinho em Brasília. Tendo como atração o cantor Tiago Lunar, o grupo Balalaica e o DJ Lêu, além da participação de famosos forrozeiros do Nordeste e de outras regiões do país, o evento deixou de ser realizado no começo de março, logo após o surgimento do corona virus. “Nessa conjuntura, tenho auxiliado diversos músicos que estão participando de lives solidárias, em busca de alguma renda, Deixei de ser produtora de entretenimento e me transformei numa pedinte”, afirma. “Como as coisas estão muito difíceis para quem vive de arte e cultura, e sem perspectiva de retorno do Spilicute, tenho ido para o fogão e preparado tortas e canjicas artesanais, que vendo para  ajudar no pagamento dos boletos”, complementa.
 
  
Bianca Martim — Dona do selo Protons, Bianca Martins lançou, nos anos 1990, discos das bandas Bois de Gerião, Gramofoca e Capotones. Promotora do Festival Protons, no Teatro Garagem, ultimamente ela produziu o Baile Gótico, no Bartowski (408 Norte), e a festa Subúrbia, na 311 Sul. Por causa da pandemia teve e shows no Outro Calaf, com as bandas brasilienses DFC e Galinha Preta, e a paulistana Surra. “No momento, estou realizando o Festival Foto BSB, usando as plataformas digitais; e uma campanha para salvar os bares, com o propósito de dar um suporte para empregados desses locais”, anuncia.
 
  
Marizan Fontenele —  Há 10 anos, Marizan Fontenele atua como produtora; e, nos três últimos, esteve a serviço do Clube da Bossa Nova.  O último show que promoveu foi pelo projeto itinerante dessa instituição, realizado em fevereiro no Carpe Diem do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em homenagem a Tom Jobim, na data do aniversário do genial compositor e pianista. “Para me manter ativa nesse período sombrio, dei apoio a Leonel Laterza e a Janette Dornellas nas lives apresentadas por eles. A de Janette, no dia 26 último, com a participação de músicos convidados, visou arrecadar fundos para a manutenção da Casa da Cultura Brasília”, relata. “Estou na torcida para que tudo volte à normalidade, para que a programação artística da cidade seja retomada.”