As mulheres têm presença destacada na cena musical brasiliense não apenas como cantoras, compositoras e instrumentistas. Elas se sobressaem também enquanto produtoras. Algumas estão em atividade há bastante tempo, enquanto outras passaram a exercer a função mais recentemente. A exemplo de profissionais de outros segmentos, essas agentes da área de cultura enfrentam dificuldades para exercer o ofício em tempo de pandemia.
Como, há mais de três meses, estão impossibilitadas de produzirem shows com a presença do público, elas têm buscado alternativas para se manterem com dignidade durante a longa quarentena. Embora o foco principal seja a música, se desdobram em outras funções, na busca da obtenção de algum ganho financeiro. Há desde as que passaram a trabalhar com delivery até as que colocaram em prática o talento culinário.
Mas a maioria têm se dedicado mesmo é à produção de lives, levando ao público, on-line, performance dos artistas com os quais faziam parceria. Ao Correio algumas dessas produtoras falaram também como se colocam diante da incerteza em relação à retomada das atividades.
Ester Braga — Produtora na área do samba há 20 anos, Ester Braga tem trabalhado com cantores e compositores consagrados, como Monarco, Arlindo Cruz, Roque Ferreira, Diogo Nogueira, Marquinhos Satã e o grupo Fundo de Quintal. Mas são eventos com sambistas a cidade que predominam na agenda da Ester Braga. Ela destaca o projeto Poetas do Samba, realizado desde 2015, no primeiro sábado de cada mês, no qual abre espaço para o grupo formado por 10 músicos, com idade acima de 50 anos. “Nessa longa quarentena, estou focada em dar visibilidade aos artistas para os quais faço produção, contato com a mídia e participando de editais”, conta. “Além disso, faço curso para me inteirar mais sobre o uso de ferramentas de trabalho no segmento virtual. Torço pelo fim da pandemia, para que possa voltar a fazer o que mais gosto, ou seja, levar os sambistas ao palco para shows com a presença do público”, acrescenta.
Cristiane Dias — O forró Spilicute, que Cristiane Dias promove, às sextas-feiras, no Cota Mil (Setor de Clubes Sul), há 14 anos, é o evento preferido para quem gosta de dançar agarradinho em Brasília. Tendo como atração o cantor Tiago Lunar, o grupo Balalaica e o DJ Lêu, além da participação de famosos forrozeiros do Nordeste e de outras regiões do país, o evento deixou de ser realizado no começo de março, logo após o surgimento do corona virus. “Nessa conjuntura, tenho auxiliado diversos músicos que estão participando de lives solidárias, em busca de alguma renda, Deixei de ser produtora de entretenimento e me transformei numa pedinte”, afirma. "Como as coisas estão muito difíceis para quem vive de arte e cultura, e sem perspectiva de retorno do Spilicute, tenho ido para o fogão e preparado tortas e canjicas artesanais, que vendo para ajudar no pagamento dos boletos”, complementa.
Karen Parreira — Na direção da Violeta Produções, desde 2011, Karen Parreira promove, há três anos, o Festival de Viola Caipira, na Casa do Cantador, em Ceilândia; e shows com várias duplas. No carnaval, ela comandou o bloco Pagode em Brasília (pagode é um dos estilos musicais do universo da música sertaneja de raiz). Sempre ativa, mesmo com a disseminação da covid-19 ela não deixou de trabalhar. “Agora, estou produzindo discos de quatro duplas, além do meu quinto álbum, no estúdio GR1, em Taguatinga, com o apoio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC-DF)”, destaca. “Tenho me movimentado também para aumentar o giro dos mais de 30 discos lançados pela Violeta Produções. Mesmo sem saber quando podemos voltar a nos apresentar, tenho criado projetos para quando isso acontecer”, ressalta.
Bianca Martim — Dona do selo Protons, Bianca Martins lançou, nos anos 1990, discos das bandas Bois de Gerião, Gramofoca e Capotones. Promotora do Festival Protons, no Teatro Garagem, ultimamente ela produziu o Baile Gótico, no Bartowski (400 Norte), e a festa Subúrbia, na 311 Sul. Por causa da pandemia teve e shows no Outro Calaf, com as bandas brasilienses DFC e Galinha Preta, e a paulistana Surra. “No momento, estou realizando o Festival Foto BSB, usando as plataformas digitais; e uma campanha para salvar os bares, com o propósito de dar um suporte para empregados desses locais”, anuncia.
Marizan Fontenele — Há 10 anos, Marizan Fontenele atua como produtora; e, nos três últimos, esteve a serviço do Clube da Bossa Nova. O último show que promoveu foi pelo projeto itinerante dessa instituição, realizado em fevereiro no Carpe Diem do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em homenagem a Tom Jobim, na data do aniversário do genial compositor e pianista. “Para me manter ativa nesse período sombrio, dei apoio a Leonel Laterza e a Janette Dornellas nas lives apresentadas por eles. A de Janette, no dia 26 último, com a participação de músicos convidados, visou arrecadar fundos para a manutenção da Casa da Cultura Brasília”, relata. “Estou na torcida para que tudo volte à normalidade, para que a programação artística da cidade seja retomada.”
Amanda Lima — Diretora da Do Bem Produção e Eventos, Amanda Lima,há 10 anos, atua em vários flancos. Nos últimos tempos, vem trabalhando com cantores de música sertaneja aqui da capital. Antes da paralisação determinada pela covid 19, ela promovia semanalmente shows com Tayrone Oliveira, Paulo Augusto e Matheus Rossignoli, no 201 Bar, na Asa Norte. "Durante a pandemia tenho alimentado minhas redes sociais com vídeos dos artistas para os quais faço produção e venho planejando estratégias pensando no reinício das atividades artísticas. Uma delas é a segunda edição da Temporada do Bem, prevista, a princípio para outubro", adianta. Estamos ansiosas, embora, de acordo com as autoridades da área da saúde, nosso segmento será um dos últimos a ser liberados.
Nana Yung — Com atuação desde 2014 como produtora cultural, a diretora de produção da Animars, fundadora da Afete-se, Nana Yung vem desenvolvendo projetos culturais, realizando shows, peças teatrais, festas e intervenções artísticas, tendo como foco a diversidade de gêneros e o desenvolvimento humano. As produções têm ocupando espaços como Conic, Centro Comunitário da UnB, CCBB e Setor Comercial Sul, entre outros. "Na nossa inauguração no CONIC produzimos o primeiro show da Liniker em Brasília, junto com Rico Dalasam". Ano passado, em parceria com o BudBasement, promoveu o Dia do Orgulho LGBT%2b com apresentação de Glória Groove no Estádio Nacional Mané Garrincha. "Nossa última produção, antes, antes da covid 19, foi uma festa pré-carnavalesca do Imagina no Carnaval, no espaço Fora do Eixo, com os blocos Babydol de Nylon, Vai Cas Profanas e De Todos os Afetos", detalha. "No momento, estamos realizando uma série de palestras online pelo CCBB intitulada Ossobuco na sua casa — Mais tutano pra sua vida" porém todas as agendas presenciais foram adiadas, ou estão sendo re-planejadas."
Viviane Sodré — Samba mais Brasília é o nome do projeto que Viviane Sodré tem se dedicado mais desde o final de 2018. Com grupo fixo, ela vinha promovendo esta roda, antes do advento da pandemia, no Ocê que sabe, bar localizado no Guará, às sextas-feiras, a partir das 19h. "Trouxemos aqui Dhi Ribeiro, Marcelo Sena, Fabinho Samba e outros sambistas que se destacam em Brasília. Já levamos o projeto também para Taguatinga, Sobradinho, Planaltina e Asa Norte", observa a produtora. Ela diz que durante a quarentena vem organizando seus arquivos de músicas, criando novos projetos para quando a pandemia passar.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.