Debater a inclusão no mercado de trabalho, evidenciar situações de desigualdade e reforçar a memória brasileira. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) trará todos esses temas na live Um futuro possível — Trabalho decente e inclusão, a ser realizada nesta terça-feira (30/6), às 19h, no canal ILO TV no YouTube.
A intenção da transmissão é mostrar como diferentes realidades estão encarando o “novo normal”, além de trazer propostas de inclusão. “Será uma live com pessoas de diferentes universos e segmentos da sociedade. Queremos que o novo normal seja inclusivo, que o crescimento econômico aconteça de forma a promover trabalho decente para as pessoas. A intenção é fazer uma live positiva e propositiva. Estamos nos adaptando à pandemia, ao isolamento e as pessoas estão podendo repensar suas vidas e escolhas. Vamos debater saídas da crise e formas de criar um diálogo social, tentar propor situações em que a justiça social seja uma realidade”, explica a embaixadora da paz e atriz, Maria Paula, que participará do evento.
Além de Maria Paula, os atores Antonio Pitanga e Fabrício Boliveira, as cantoras Ellen Oléria e Zélia Duncan e a chef de cozinha Paola Carosella participam da live. Nomes importantes para causas e movimentos sociais também integram a lista, como a líder política indígena do Acre Pakashaya Shananawa, a maragogipe Bárbara Alaxabé, a quilombola Maryellen Crisóstomo, a imigrante da República do Congo Exaucee Cathhy e a coordenadora do Instituto Nice Valéria Rodrigues.
Representantes de instituições como a OIT, Unaids, Governo Federal, Confederação Nacional da Indústria, Central Única dos Trabalhadores, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Ministério Público do Trabalho fecham o time de participantes da live.
Para a artista, essa diversidade de pessoas para debater é fundamental. “Vivemos em uma sociedade complexa, miscigenada e maravilhosa. Ao mesmo tempo em que temos desafios, também temos saídas incríveis justamente por sermos esse povo miscigenado, porque são muitos olhares e visões de mundo diferentes. É importante a gente se reconhecer enquanto esse povo miscigenado que somos, a beleza disso, e o tanto que a nossa criatividade e diversidade são nossas ferramentas de transformação”, diz.
Com participantes diversos, os temas do debate também serão plurais: “O tema central será trabalho. Mas, teremos enfoque nos povos indígenas, como podemos acolher o conhecimento ancestral e a sabedoria tradicional que esses povos oferecem. Os quilombolas vão falar da importância dos quilombos na história, para reconstruirmos nossa memória, a questão do racismo estrutural que existe e precisa ser olhada para termos mudança. Falaremos também das religiões de matrizes africanas e de questões LGBTQIA%2b, que também sofrem muito preconceito e dificuldades em inclusão no trabalho. Teremos imigrantes e refugiados, para evidenciar como estão as condições para essa galera que pediu refúgio no Brasil”, esclarece a atriz.
De acordo com Maria Paula, falta muito para o Brasil chegar à igualdade, mas debates como o Um futuro possível podem ajudar no processo de identificação do que se deve melhorar. “A igualdade é uma questão complicada no Brasil. Nossos índices são atrasados em estudos, violência, formação, e de acesso até a comida e trabalho.Temos um longo caminho pela frente, mas esse caminho só poderá ser traçado a partir de encontros como esse. Primeiramente precisamos reconhecer o lugar em que estamos, com uma herança que é de escravidão, desrespeito aos povos indígenas, que são temas bem complicados, mas que não podemos ignorar. Precisamos começar a identificar, aceitar e reconhecer para depois transformar”, completa.
Embaixada da Paz
Maria Paula é também fundadora da Embaixada da Paz, que visa promover iniciativas que contribuem para o avanço da cultura de paz, dar visibilidade a ações voluntárias e ajudar cidadãos em situação de vulnerabilidade social. A Embaixada da Paz funciona também como ambiente propício para ajudar as pessoas a praticarem os bons costumes e hábitos. Ano passado, a embaixada, em parceira com a União Internacional de Telecomunicações (UIT) da Organização das Nações Unidas (ONU), criou um programa de treinamento na área da tecnologia para meninas da Estrutural em situação de vulnerabilidade. Por dois dias, as adolescentes aprenderam conhecimentos básicos de informática e participaram de rodas de conversa sobre empoderamento feminino.
Na live desta terça, a atriz vai contar essas e outras experiências durante a trajetória de artista, mestre em psicologia e ativista. “A minha participação vai ser contando sobre a minha experiência. Vou falar sobre a minha participação em uma campanha mundial contra violência nos ambientes de trabalho, que fui convidada”, adianta.
» Três perguntas // Maria Paula
Qual a importância de se debater temas como a igualdade de direitos, no momento em estamos vivendo esse turbilhão dos últimos meses?
A situação complicada que o mundo inteiro está vivendo favorece o diálogo, porque está deixando as pessoas mais sensíveis. Com todas essas deformidades sociais, as barbáries estão ficando mais claras. Como as pessoas estão vivendo no isolamento, está meio que impossível se distrair, porque antes era cada um correndo para dar conta dos compromissos, metas e objetivos, acho que isso estava perpetuando ainda mais as mazelas. Essa pausa mundial teve uma certa consequência positiva, as pessoas não tem mais desculpa para não ver o que está acontecendo. Isso faz com que o debate tome outras proporções, nunca é tarde para as pessoas perceberem a sua própria participação nos processos, porque somos todos parte de uma sociedade e se ela está em colapso, além de identificar no coletivo o que está acontecendo que está dando errado, precisamos identificar no individual também, em que medida podemos ajudar nessa transformação.
A arte e o ativismo sempre estiveram ligados em sua trajetória ou foi um processo de formação?
Eu sempre abordei a minha oportunidade de fazer diferentes papéis, sem nenhum tipo de limitação. Se eu tinha que fazer a loira burra, eu fazia, mas de um jeito que aquilo fosse mais uma reflexão. Mas na minha vida pessoal, nunca me permiti ser vista como um objeto. Em várias situações se eu tivesse sido mais ingênua ou medrosa, talvez eu pudesse ter vivido situações de assédio, por exemplo, mas isso nunca aconteceu, porque eu sempre me impus de forma bem resolvida, que não permitiu ameaças. Agora, estou com 49 anos, hoje como embaixadora da paz, uma mulher que tem mestrado em psicologia, minha vida vai mudando, sou essa pessoa hoje por causa de todas as escolhas que fiz, que me trouxeram a um lugar bacana, que promove a consciência, respeito e dignidade.
Ano passado você fundou a Embaixada da Paz. Como tem sido em 2020?
A Embaixada da Paz nunca fez tanto sentido. Tive uma programação que precisou ser revista, com muitas viagens internacionais. Ao mesmo tempo estou participando de forma virtual, como essa da OIT. O mais importante desse momento é a mensagem que eu trago. Há muitos anos debato temas que antes as pessoas tinham um certo distanciamento, achavam que era utópico, mas passou a fazer todo sentido. As pessoas começaram a ver o como é fundamental que atitudes pacíficas permeiem todas situações.
*Estagiário sob supervisão de Igor Silveira