Um ato de impacto visual marcante aliado à força poética chamou a atenção do brasiliense, no fim da tarde desta segunda-feira (16/6). A vigília silenciosa Quem partiu é amor de alguém realizou seu terceiro ato, dessa vez, homenageando os profissionais da saúde em frente à Catedral, na Esplanada dos Ministérios.
No primeiro ato, realizado em 1º de junho, nos arredores da Rodoviária do Plano Piloto, os artistas prestaram solidariedade às vítimas da covid-19 e ressaltaram a importância da aprovação da Lei Aldir Blanc, que permite que artistas, produtores, técnicos e trabalhadores da cadeia de produção do setor cultural tenham direito a uma renda emergencial de R$ 600 por três meses. O segundo ocupou a Praça do Museu da República em 8 de junho, e reforçou a importância da manutenção do Estado Democrático, denunciou o racismo, o genocídio dos povos indígenas e a falta do governo federal frente a pandemia e a cultura nacional.
O terceiro foi um agradecimento e reconhecimento do trabalho dos profissionais que atuam na linha de frente do enfrentamento contra o novo coronavírus. “Estamos perdendo médicos, enfermeiros, eles são nossos heróis. É muito forte o trabalho deles. É impressionante, eles estão doando suas vidas! Muito disso por causa das condições em que estão trabalhando”, diz Hugo Rodas, um dos diretores artísticos ao lado de José Regino. Ainda estão previstos mais dois atos, porém sem datas e locais divulgados.
A coordenadora-geral e diretora artística Débora Aquino também ressaltou a importância de valorizar os profissionais da saúde. “A cada edição, com a vigília silenciosa em homenagem às vítimas, chamamos a atenção para algo importante que está acontecendo no país e no mundo. Os profissionais da saúde saem todos os dias de suas casas para um trabalho de total responsabilidade, muitos deles não estão podendo nem voltar para casa, para não expor a família. Mesmo assim, estão ali cuidando de outra pessoa. Então além dos mortos da covid-19, esse terceiro ato traz um olhar carinhoso para os profissionais de saúde”.
A ideia de criar o Quem partiu é amor de alguém surgiu do desconforto de Hugo Rodas com a calma que a classe artística vinha lidando com o momento. “Escrevi em um fórum de artistas, dizendo que realmente achava que deveríamos fazer algo, porque só fazíamos ações para entreter as pessoas na pandemia. Sentia que as outras manifestações dos domingos estavam tomando muita importância e nós não estávamos fazendo nada como resposta”, relembra Hugo.
No último ato, estiveram presentes mais de 100 artistas, todos respeitando o distanciamento social. A organização da performance foi toda feita a distância, sem ensaios presenciais, com reuniões via plataformas digitais. Dessa forma, a performance traz uma performance artística híbrida, que mistura as linguagens do teatro, do circo, das artes visuais, do audiovisual e arquitetônicas. “Essa união é de uma força muito grande, é um prazer trabalhar com todos esses companheiros”, completa Hugo.
Repercussão
A performance chamou a atenção do mundo nos atos realizados, repercutindo em diversos veículos de comunicação nacionais e internacionais. Mesmo com toda repercussão, o diretor Hugo Rodas ressalta que o ato é pensado para ser compartilhado em mídias digitais, em fotos ou vídeos, e em veículos de imprensa. Até por isso, mantém em segredo as datas e locais em que serão realizadas as duas próximas edições. “Não esperava que viraríamos notícia internacional, foi uma surpresa enorme. Não estamos fazendo um espetáculo, estamos trabalhando para a mídia. Estamos criando imagens para serem filmadas, não é um show de rua.”
As performances são transmitidas ao vivo no perfil @quempartiueamordealguem no Instagram e ficam disponíveis em vídeo no canal Quem Partiu é Amor de Alguém no YouTube.
Sobre a performance de ontem, Débora Aquino declarou: “Foram 120 performances e uma cantora de ópera que, com os traços do arquiteto Oscar Niemeyer, reverenciaram os mortos da covid e projetaram imagens de profissionais da saúde na Catedral, em homenagem pelos esforços de salvar vidas em meio à guerra sanitária que estamos vivendo. Todas as vidas importam!”.
Sem medo
Na última quinta-feira, um grupo fez também um ato pacífico e silencioso pela vida na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Assim, como o Quem partiu é amor de alguém, foi uma homenagem aos mortos pela covid-19. Muitas pessoas se emocionaram, mas também houve protestos contrários. Na performance estavam montadas 100 covas rasas na areia e 100 cruzes para representar um número maior de mortos.
Hugo Rodas diz que, no ato, tomam o cuidado para que não haja interpretações equivocadas. “Estamos tentando fazer um trabalho que não provoque esse tipo de reação, mas é algo impossível de prever porque a ignorância é brutal”, esclarece.
Para Débora, a equipe tomou os devidos cuidados para manter a segurança, mas ressalta que a principal mensagem a ser passada é a do amor.
*Estagiário sob a supervisão de Igor Silveira