Entre elas, tem as que se tornaram tradicionais, outras foram criadas mais recentemente; mas todas estão sempre abertas à participação de músicos avulsos, que costumam dar canja. Com o advento da pandemia, todos esses encontros deixaram de ser realizados temporariamente. Ouvidos pelo Correio, sete chorões falam sobre a falta que fazem as rodas; e relatam o que têm feito em tempo de quarentena, além do que projetam, para quando tudo voltar à normalidade.
Fernando César
Coordenador da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello, Fernando César comandou a retomada da roda de choro, que existiu nos primórdios do Clube de Choro. Mas, com apenas duas edições, nas primeiras quintas-feiras de março, teve que ser interrompida por conta da covid-19. Segundo o mestre de violão 7 cordas, o que houve de mais frustrante foi a não realização do Seminário Euro-Brasileiro de Choro, que o Clube do Choro promoveria em abril, com a participação de 40 músicos, incluindo estrangeiros. “Nesse período de isolamento social, a Escola de Choro vem oferecendo aulas on-line em três períodos. Tenho ocupado o tempo também ministrando aulas particulares, produzindo e disponibilizando vídeos. Quem acessar, poderá tocar ou cantar junto. O primeiro foi uma releitura de Carinhoso (Pixinguinha), em 23 de abril, Dia Nacional do Choro”, conta. “Selecionado no Arte como respiro, edital do Itaú Cultural, estou aguardando a data para a apresentação de três composições de minha autoria”, acrescenta.
Ian Coury
Um dos maiores talentos da nova geração da música brasiliense, o jovem bandolinista Ian Coury adiou vários eventos agendados, como shows que faria na Cervejaria Criolina (Setor de Oficinas Sul) e no Terraço Shopping (Sudoeste), e a roda de choro que liderava, quinzenalmente, no restaurante Bier Fass, no Pontão do Lago Sul. O coronavírus o levou a se manter em casa, onde se dedica ao estudo de música e à gravação, mixagem e masterização de vídeos em seu home studio. “Fui selecionado em primeiro lugar, entre concorrentes do Brasil, para cursar faculdade na Berklee Scholl of Music, e teria que estar em Boston (Estados Unidos), em setembro”, revela. “Mas, com a pandemia, não sei se haverá adiamento da viagem. No momento, busco, por meio da música, tornar a vida das pessoas mais leve, com aulas on-line de bandolim”, complementa.
Tiago Tunes
Outro destaque entre os novos chorões em Brasília, o também bandolinista Tiago Tunes estava fazendo gravações e shows com a violonista Jussara Dantas, além de comandar uma roda de choro na creperia C’est si Bon (213 Norte) e na Quituart (Lago Norte), antes da covid-19. “Na quarentena, venho compondo, tocando e ouvindo discos de músicos que admiro, como o flautista carioca Esurdo Neves e o acordeonista gaúcho Bebê Kremer”, diz, “Quando este pandemônio passar, vou dividir um projeto didático com o violonista Henrique Neto, para aplicativo de choro, com playback, para a galera tocar junto”, antecipa.
Carlos Valença
Uma das mais concorridas e longevas rodas de choro de Brasília é a da banca de jornais e revistas da 208 Sul, promovida aos sábados, a partir das 10h, pelo violonista e proprietário do estabelecimento, Carlos Valença. “Há sete anos, movimentamos o fim de semana aqui na quadra com a roda de samba, que reúne músicos profissionais e amadores de diferentes gerações. Embora tenha um grupo básico, estamos sempre abertos à participação de outros instrumentistas”, explica Valença. “Pena que, por causa do vírus, tivemos que interromper. Mas vamos voltar logo que eu tenha a autorização para reabrir a banca e retomar nossos encontros. Em casa, continuo tocando e, por WhatsApp, continuo mantendo contato com os participantes mais frequentes”, observa o violonista, que tem planos para, no retorno, produzir um documentário sobre a roda.
Pedro Ceolin
Choro fingido é o nome da roda que ocorre no Bar do Alfredo, na 404 Norte. “É uma roda de choro diferente das outras, uma vez que nenhum dos participantes é profissional da música. Somos instrumentistas amadores nos reunindo pelo prazer de tocar, há três anos, e a concorrência é grande”, comenta o bandolinista Pedro Ceolin. Ele costuma tomar parte também de rodas no bar Sem Chorumelas, na Asa Norte. Ele e seus companheiros estão desolados, pois o coronavírus os proíbe de fazer uma das coisas que gostam.
Léo Araújo
Em dezembro último, o violonista Léo Araújo passou a organizar uma roda de choro, às quartas-feiras, na Verri Gastronomia (215 Norte) intitulada Choro da Quinze. Ele integra o grupo fixo, formado por Dudu Maia (bandolim), Vitor Adonai (clarineta) e Luiz Ungarelli (pandeiro), que, eventualmente, conta com a participação de outros músicos, incluindo Pedro Vasconcellos (cavaquinho), Antônio Melo (violão) e Pedro Berto (bandolim). Ex-estudante da Escola Brasileira de Choro, Léo, que atualmente faz o curso para bacharel em música e composição na UnB, fala que, em tempo de covid-19, tem pesquisado músicas para incorporar ao repertório do conjunto. “Me ocupo também com aulas de violão e teoria musical para alguns alunos; e estou em fase de pré-produção de um EP, de composições de minha autoria”, ressalta.
Lucas Parente
Há um ano, o Tombado Bar, na 206 Norte, passou a ter um movimento maior às sextas-feiras, com a realização do Choro Raiz, projeto criado por Lucas Parente. Ex-aluno da Escola de Música de Brasília da Escola Brasileira de Choro, o cavaquinista que agora faz o curso de licenciatura em música na UnB tem atuado também como produtor, função que exerce no Live Lounge do Life Resort, na Vila Planalto. Como a pandemia o obrigou a manter-se em casa, Parente estabeleceu uma rotina que inclui estudo de música e produção de vídeos. “Tenho, também, dado aulas particulares on-line, mas nada se compara às rodas de choro e aos shows, com a presença do público”, comenta, sem esconder o quanto aguarda a volta das atividades presenciais, como o Choro Raiz e as apresentações no Mercado do Café, na 509 Sul.