Diversão e Arte

O mar de Brasília

O Correio fez uma seleção de músicas que homenageiam o céu da cidade, tão elogiado por quem passa pela capital federal


 
“O céu é o mar de Brasília.” A afirmação de Lúcio Costa ao referir-se a um ícone da cidade desenhada por ele — no formato de um avião — se transformou em algo que enche de orgulho quem mora aqui e encanta os que a visitam. De acordo com estudiosos, a amplitude da paisagem — tão admirada — é decorrente da ausência de relevos acidentados, uma vez que a capital federal está localizada no planalto central do país. Aliado a isso, tem o aspecto da ocupação arquitetônica, com quantidade menor de edifícios altos.
 
Cantado em prosa e versos por escritores, poetas e músicos, há até quem defenda o tombamento do céu de Brasília como patrimônio imaterial. Após pesquisa, o Correio destaca, aqui, canções, de estilos diversos, compostas em diferentes épocas, para homenagear esse espaço de dimensões incomensuráveis, onde se movem astros e estrelas do universo, que pairam sobre o brasiliense. Em tempo de pandemia, quando o isolamento social tornou-se uma necessidade — em vez da Praça do Cruzeiro, da Torre de TV, do Pontão do Lago Sul e da Ermida Dom Bosco —, é da janela de onde moram que as pessoas passaram a apreciar algo tão caro e familiar.
 

 
Linha do Equador 
Clássico da obra de Djavan, Linha do Equador tem melodia criada pelo compositor alagoano e letra assinada por Caetano Veloso (foto). Num dos versos o eterno tropicalista diz: “Céu de Brasília/ Traço do arquiteto/ Gosto tanto dela assim”. Gravada no CD Coisa de ascender, de 1993, a canção é cantada em coro pelo público em todos os shows que o cantor faz na cidade. Na última vez em que se apresentou aqui, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em janeiro deste ano, numa entrevista ao Correio, Djavan disse: “Linha do Equador é uma música que nunca deixo de cantar em Brasília, até porquê, se não a incluo no repertório, sou cobrado pela plateia”.

 
Presente de um beija-flor 
Em 1997, o primeiro CD gravado pelo Natiruts, que à época chamava-se Nativus, trazia no repertório Presente de um beija-flor. Na letra do reggae, o vocalista, compositor e fundador da banda, Alexandre Carlo, escreveu: “Eu vou surfar no céu azul de nuvens doidas da capital do meu país”. A música se tornaria o maior hit do grupo, e o fez conhecido em todo o país, levando-o a realizar frequentes turnês e a participar de festivais, inclusive, fora do país. Em Brasília o Natiruts mantém cativo e expressivo público, que lota todos os locais onde se apresenta — como no projeto Na Praia, em 2019, quando mais de 5 mil pessoas fizeram coro em Presente de um beija-flor.

Céu de Brasília 
Ao vir à capital pela primeira vez, para show no Teatro da Escola Parque, ainda a bordo do avião, antes da aterrissagem, Toninho Horta — como contou certa vez ao Correio  — teve um insight e se pôs a compor algo que remetesse à sensação vivenciada. Na volta a Belo Horizonte, o guitarrista mostrou a melodia para Fernando Brant (foto), um dos nomes mais importantes do Clube da Esquina. Mesmo sem conhecer a capital, ele mostrou todo o talento ao criar uma letra a qual deu como título Céu de Brasília. Num dos trechos, escreveu: “Nada existe como o azul sem manchas do céu de Brasília”. A música, rica melódica e harmonicamente, foi gravada originariamente por Simone em Face a face, LP de estreia, de 1977. Depois houve o registro de Toninho e Flávio Venturini (1980),  Zé Renato e Wagner Tiso (2002); e Hamilton de Holanda, numa versão instrumental, em 2004.

Voo cego 
Parceiro de Oswaldo Montenegro, Raique Macau (foto) fez com o compositor maranhense Sérgio Habbibe, na década de 1980, Voo cego. “Logo na abertura da letra, escrevi: ‘M de mergulho e marcha/ No voo cego pelo céu de Brasília’. A música não foi gravada, mas faz parte da trilha sonora do espetáculo Veja você Brasília, que Oswaldo criou para comemorar os 60 anos da capital, com produção do Sesc, que era para ser apresentada entre 19 e 21 de abril. Por causa da paralisação das atividades artísticas, determinada pela covid-19, ainda não tem data para ser levada ao palco.”

Monumentos de Brasília 
Samba que tem como título Monumentos de Brasília, composto por Breno Alves e Diego Pedigree (foto), classificado para o Festival da Nacional FM de 2019, será gravado no primeiro disco solo do vocalista e pandeirista do grupo 7 na Roda — autor da melodia. A letra, escrita por Pedigree, fala de monumentos de Brasília e, num dos versos, ele diz: “Cidade com o céu monumental/ És museu a céu aberto”.

Sob o céu de Brasília 
Uma das músicas ouvidas na festa da inauguração da nova capital, em 21 se abril de 1960, foi Sob o céu de Brasília, de autoria do compositor sertanejo paulista Zé Fortuna (foto), que formava dupla com o irmão Pitangueira. No verso final, ele cantava: “Tuas noites são lindas e no céu anil/ Forrado de estrelas o cruzeiro brilha/ É o Divino Criador abençoando/ As glórias e o futuro de Brasília”. Naquele dia, recebeu um diploma das mãos do presidente Juscelino Kubitschek. Falecido em 1983, ele é autor das versões das guarânias clássicas Índia (gravada por Gal Costa, em álbum homônimo) e Meu primeiro amor, imortalizada por Cascatinha & Inhana.

Brasília, Cidade Céu
Pioneiro da nova capital, Milton Sebastião Barbosa (ao centro, na foto), desembargador — já falecido — que deu nome ao fórum localizado no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, escreveu, sob o codinome de Cid Magalhães, a marchinha Brasília, Cidade Céu, que foi gravada pelo cantor Marcelo Costa e transformou-se no hino não oficial de Brasília. A letra, na abertura, traz o verso: “Braília cidade céu/ Rainha do Planalto/ Cada vez te quero maia/  Linda capital da paz”.