Adriana Izel
postado em 22/05/2020 06:00 / atualizado em 08/10/2020 17:30
No fim de 2018, o cantor e compositor Silva investiu em equipamentos de gravação e passou a captar o áudio dos shows feitos em turnês. No entanto, neste ano, em meio à pandemia, resgatou alguns dos registros e encontrou um material que tem tudo a ver com o momento: a captação de seis shows em Lisboa, que deu origem ao álbum Ao vivo em Lisboa, lançado hoje nas plataformas digitais.
“A princípio, eu tinha questionado essa decisão (dos equipamentos de gravação). Mas comecei a ouvir esses materiais e vi que os registros estavam lindos. Tínhamos ‘microfonado’ o teatro todo. Não tinha a intenção de lançar, era para guardar. Mas, quando eu vi que tinha esse material, achei que devia lançar”, revela em entrevista ao Correio.
A série de apresentações, em si, já era especial para Silva. Foi a primeira turnê feita por ele em formato intimista — voz e violão —, em que esteve acompanhado no palco apenas do amigo e músico Hugo Coutinho. “Eu tinha feito show com voz e violão, mas eram duas músicas. Ter que segurar um show todo, sem nenhuma banda que lhe auxilie... Foi uma experiência ótima”, lembra.
Também foi uma mudança de ares após uma sequência de apresentações no carnaval com o Bloco do Silva, projeto em que o artista recria faixas clássicas da festividade. Além disso, foi a oportunidade de o músico celebrar pérolas do cancioneiro brasileiro importantes para ele. “Como eu estava rodando o Brasil com a turnê Brasileiro, quis usar esse mote, esse momento brasileiro, para tocar brasilidades em Lisboa. O repertório tem canções emblemáticas da música brasileira, que fazem parte da minha memória afetiva”, comenta. Até por isso, o disco, com 15 faixas, abre com Carinhoso, de Pixinguinha. “Tive uma criação muito próxima dos meus avós. Lembro da voz do meu avô, com aquele vibrato cantando essa música. Acho muito lindo, me traz memórias lindas”, completa.
Ainda de outros artistas, Silva traz Um girassol da cor do seu cabelo (Clube da Esquina), Flor do Cerrado (Gal Costa), Aquele frevo axé (Caetano Veloso) e Canta canta minha gente (Martinho da Vila). Cantora que para quem Silva dedicou um disco, Marisa Monte também é lembrada no álbum nas versões de Bem que se quis, Beija eu e Infinito particular.
Do repertório próprio, estão sete faixas, sendo a maioria do disco Brasileiro, incluindo Guerra de amor, Prova dos noves, Duas da tarde, Milhões de vozes, A cor é rosa e Fica tudo bem. A única exceção é Júpiter, canção de 2015, que Silva escolheu como primeiro single de Ao vivo em Lisboa, por conta da mensagem da faixa. “Quando eu fiz, em 2015, era outro momento. Mas já falava do tédio, de propor um lugar novo. Era meio escapista naquele momento, mas acho que agora faz todo sentido. É para trazer esperança”.
No domingo, Silva fará uma live no YouTube para comemorar o lançamento de Ao vivo em Lisboa. O show terá como base o repertório do disco. A apresentação virtual será às 18h.
SERVIÇO
Ao vivo em Lisboa
De Silva. Slap, 15 faixas. Disponível nas plataformas digitais.
Duas perguntas // Silva
Como tem sido esse momento de quarentena para você?
Do meu ponto de vista privilegiadíssimo tem um lado que todo mundo passa que é a ansiedade. Sou um cara extremamente ansioso. Faço música como um antídoto para mim. Tenho um jeito calmo de falar. Mas, pra isso, tenho que meditar, tomar chá, coisas que acalmem minha insônia. Esse momento tem sido muito produtivo nesse ponto. Estou conseguindo compor bastante. Estou super inspirado. Mas, ao mesmo tempo, não quero que a amargura do momento contamine minhas músicas. Quero manter a cabeça no lugar de equilíbrio. Estamos passando por uma fase horrorosa, mas que vai passar. Espero que esse novo disco seja uma trilha sonora para muita gente respirar em faz. É o que espero.
Alguns artistas têm optado por lançar discos ao vivo que são uma contradição ao momento. Você pensou nisso também?
Isso é interessante, porque quando você faz show, você acaba uma música e o aplauso pode vir de duas maneiras. Pode ser um aplauso com grito, que traz aquela troca de energia. Isso é uma coisa que tem de legal no disco, porque ele foi gravado num teatro então captou mesmo as reações do público.
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