Novos caminhos em novos começos. Foi o que Larissa Conforto encontrou no novo
projeto, AIYÉ. A cantora estreou Gratitrevas, o primeiro EP
da carreira solo em março, e atualmente colhe os frutos do trabalho que fez pela primeira vez
sozinha na música. Com oito faixas e 23 minutos, o disco tem a base na música eletrônica, mas
passeia por referências de matriz africana, ritmos latino-americanos, além de se inspirar no
trabalho de músicos que influenciam e agradam a artista.
O disco faz parte da primeira investida de Larissa de assumir para si o controle criativo
total. “É muito louco lançar um disco, eu nunca tinha feito isso, na verdade, nunca tinha
composto uma música antes, nunca tinha assumido a autoria total de um projeto, sempre fiz coisas
colaborando”, afirma a artista.
Aos poucos, então, o processo do disco foi tomando forma, a artista primeiro lançou a canção
Pulmão, que foi por muito tempo música de trabalho nos primeiros shows solo antes do
lançamento do EP. “Eu nunca tinha vivido esta responsabilidade de ser compositora das músicas,
por mais que eu participasse dos arranjos da Ventre, eu não tinha essa vivência.”, conta a
artista.
Gratitrevas é um EP sobre o novo espaço que Larissa encontrou na música, um lugar de
mais abertura para lidar com os problemas. “Envolve muita coragem você botar para fora não só
lado bonito, mas o lado feio, o lado estranho. Então estou orgulhosa dessa coragem de me colocar
e desse primeiro trabalho”, completa.
Ventre
“Fiquei seis anos na Ventre e eu era muito dedicada, os meninos tinham até outros projetos e eu
só no último ano da Ventre que fui ter outras coisas. Eu fazia produção, marcava os shows,
postava nas redes, cuidava de tudo da Ventre.”, lembra Larissa.
A banda formada por ela, na bateria, Gabriel Ventura, nos vocais e na guitarra, e Hugo Noguchi, no baixo, durou até 2018, e lançou um álbum e um EP. Juntos fizeram certo sucesso, com turnês no Brasil e fora, além da participação em festivais como CoMA, Popload Festival e o gigante Lollapalooza Brasil.
A banda formada por ela, na bateria, Gabriel Ventura, nos vocais e na guitarra, e Hugo Noguchi, no baixo, durou até 2018, e lançou um álbum e um EP. Juntos fizeram certo sucesso, com turnês no Brasil e fora, além da participação em festivais como CoMA, Popload Festival e o gigante Lollapalooza Brasil.
“A Ventre era minha vida, foi uma separação de um alter ego meu, uma parte muito grande de
mim. Então fiquei meio perdida com aquilo. Porque era um pouco se despedir dos meus melhores
amigos que estavam sempre comigo, mas também se despedir de uma parte de mim que talvez fosse a
parte que eu mais gostava.” rememora a musicista.
Nestes tempos difíceis que Larissa Conforto encontrou um novo começo. “Lembro de estar muita
melancólica nesta época e ser perguntada em uma entrevista ‘e agora, o que você vai fazer?’ e
eu falei; ‘cara, no momento estou fazendo mosaico, juntando partes de mim e vendo no que dá”.
Mal sabia que, deste processo, sairia o primeiro disco solo da carreira: “Entendi que composição
era realmente fazer um mosaico. É realmente uma colagem”.
AIYÉ
A ideia do projeto AIYÉ veio de residências artísticas da musicista. Enquanto em São
Paulo ela fez um trabalho focado na performance e encontrou o início do que iria fazer,
incluindo o nome do projeto, sob a curadoria de Alexandre Matias. No Rio de Janeiro, ela
encontrou o espaço que desejava como performer sonora, sob a mentoria da artista de som Hannah
Catherine Jones, com quem aprendeu a compôr. “Ela pediu para que levassemos um problema e eu
falei que o meu problema era que eu não conseguia compor e ela falou ‘mas composição é só você
por tudo junto”, conta produtora musical.
“Desenvolvi esse projeto para ele me acompanhar na minha rotina de ser musicista, ganho minha
vida tocando bateria com outros artistas.”, explica a baterista que toca com Paulinho Moska,
Ricardo Richaid e Numa Gama em turnês, além de ter participado de discos como o Cosmo do
Cícero, comandando as baquetas. “Fiz um projeto para ele ser independente, viável e
barato. O meu projeto foi pensado para caber em uma mochila. Compro a passagem mais barata e vou
para os lugares tocar”, completa Larissa.
No projeto AIYÉ, Larissa Conforto utiliza a música de forma diferente do que em
trabalhos anteriores. “Hoje já consigo usar o canal da música de outra forma. Tem muito mais a
ver com o lugar de cura, de encontrar luz nas trevas de descobrir como agradecer”, pontua a
artista. AIYÉ foi criada junto com ligações religiosas da agora também cantora. “Foi um
processo de amadurecimento mesmo que tem muito a ver com espiritualidade.”, resume a multi
instrumentista.
Além da música
Não só em projetos musicais que Larissa Conforto investe tempo. Ela também faz parte de três
grupos de ativismo. Girls Rock Camp, em que ensina feminismo para jovens meninas por meio da
música; Ritmos de resistência, que estuda para criar ritmos universais para protestos; e
Extinction Rebellion, um coletivo internacional de ativismo climático.
Muito estudiosa de política e cultura, a artista acredita que o Brasil passa por um momento
duro que vai mudar os rumos da cultura como um todo. “Como a gente vai fazer arte depois do
coronavírus, depois do bolsonarismo? Porque falar do belo ignorando tudo que está acontecendo,
talvez seja entretenimento, mas não sei se é arte.”, questiona a produtora.
Ela entende o papel dela como artista como fundamental para o período pós pandemia. “No momento
em que a população tem a cultura como referência, porque as pessoas não aprendem na escola
educação emocional, por exemplo, como lidar com ansiedades, medos e tristezas. As pessoas
aprendem isso em filmes, em livros, em músicas, a gente tem um papel muito importante na
formação não só de opinião, mas de emoção, sentimental.”, expõe Larissa Conforto
Gratitrevas, primeiro EP da AIYÉ
*Estagiário sob supervisão de Adriana Izel