Diversão e Arte

Artistas brasilienses relembram a emoção de lançar o primeiro disco

Ao Correio, músicos de diferentes gêneros falam sobre o momento único na carreira

Correio Braziliense
postado em 13/05/2020 09:24
Se hoje o registro da produção de artistas dos mais diversos estilos musicais é feito basicamente nas plataformas digitais, nas últimas três décadas usava-se o CD como plataforma de lançamento. Em Brasília, quem utilizou pela primeira vez a então “nova” mídia foi a cantora e compositora Rosa Passos, ao gravar, em 1991, o álbum Curare. Anteriormente a música era ouvida no ancestral long play, o LP — lembrado com saudosismo e, que, em escala menor, voltou a ser produzido e lançado.

Trabalhos veiculados em todos essas plataformas têm sido divulgados pelo Correio desde aos anos 1960. Para contar parte desta história, nomes que se destacaram na música brasiliense, em diferentes períodos, foram contactados. Demonstrando que mantêm a memória em dia, eles, claramente emocionados, falaram com detalhes sobre a experiência que viveram ao lançar o primeiro disco.

Ao Correio, músicos de diferentes gêneros falam sobre o momento único na carreira
Rosa Passos (Curare
“Estava participando do Projeto Pixinguinha, em 1990, e, no show que fiz na Sala Sidnei Miller, da Funarte, no Rio de Janeiro, estava na plateia o compositor e produtor Aloísio de Oliveira. Depois da apresentação, ele me procurou e disse que eu deveria gravar um disco. Aloísio, então, fez contato com Humberto Contard, diretor da Microservice, empresa que bancou a produção. Segundo consta, aquele seria um dos primeiros CDs lançados no Brasil. É um disco de voz e violão, intitulado Curare, nome de uma canção de Bororó.”


Clodo Ferreira (São Piauí
“Em 1977, fazia um ano que eu, Climério e Clésio nos juntamos para realizar um trabalho musical. Foi quando participamos do programa Mambembe, da TV Bandeirantes. Aí, fomos contactados por um diretor da gravadora RCA. Convidamos Ednardo para produzir o LP, que viria a se chamar São Piauí e traria 12 faixas. Entre as músicas  estavam Cebola cortada e Conflito, que Petrúcio Maia compôs comigo e Climério, respectivamente, gravadas antes por Fagner. Entre as inéditas, registramos Cantiga, que fiz com Clésio; A noite, a manhã e o dia, de Climério; São Piauí, de Climério e Bê. Efetivamente, foi o ponto de partida para o trabalho que iríamos realizar a partir dali”.

Ao Correio, músicos de diferentes gêneros falam sobre o momento único na carreira
PC Cascão (Vítimas do Milagre
“Detrito Federal foi uma das bandas que surgiram em meio ao boom do rock em Brasília na década de 1980. Tínhamos quatro anos de carreira quando gravamos o LP Vítimas do Milagre, produzido por Charles Gavin, gravado no Rio de Janeiro, e lançado pela PolyGram em 1987. Eu era o vocalista e a banda contava com Si Young (guitarra), Débora Pires (bateria), Milton (baixo) e Mauro Mazzilli (guitarra). O repertório com 10 faixas tem músicas como Se o tempo voltasse (Marcão Adrenalina) e O vírus do Ipiranga, que compus com meu irmão José Carlos Vieira. O LP vendeu, à época, 40 mil exemplares e é objeto raro de colecionadores, ao preço que varia entre R$ 150 e R$ 300”.


Ludmila Vinecka (Quarteto Brasília)
— Em 1993, a professora de piano e pesquisadora Maria José Carrasqueira, ligada à Unicamp, tomou conhecimento do trabalho do quarteto e ficou entusiasmada com o que ouviu. O grupo, formado por mim (primeira violonista), Cláudio Cohen (segundo violonista), Glesse Collet (viola), e Guerra Vicente (violoncelo), foi convidado para gravar um CD, pelas Edições Paulinas. O CD tem apenas três faixas: Quarteto nº 17 (Heitor Villa-Lobos), Quarteto Opus 106 (Antonín Dvorak) e Introdução e Allegro (Maurice Ravel). Acabamos conquistando o Prêmio Sharp, em 1993, na categoria Música Erudita, por aquele disco”.

Ao Correio, músicos de diferentes gêneros falam sobre o momento único na carreira
Renato Matos 
“Quando cheguei em Brasília, na segunda metade de 1970, vindo da Bahia, eu já compunha, mas me dedicava mesmo era à pintura. Cheguei a fazer exposição aqui. Mas, logo em seguida, a música entrou para valer na minha vida. Meu primeiro disco foi um compacto, produzido por Luis Turiba e Lúcia Leão pela editora Bric a Brac, com capa de Wagner Hermuche. O disquinho trazia de um lado Um telefone é muito pouco e do outro Guará 1 e 2 Via Eixo. Clássico da música brasiliense, Um telefone é muito pouco foi lançado por Marcinho Lacombe na Nacional FM. Vendi muitos exemplares no Beirute. Depois o Léo Jaime também gravou”.


Reco do Bandolim (Choro livre
“Assim que formei o grupo Choro Livre com Alencar 7 Cordas, Zé Américo, Chico de Assis e Pinheirinho, passamos a fazer muitos choros e algumas gravações, mas oficialmente o primeiro CD só seria lançado em 1988. Nas 14 faixas reunimos temas de compositores como Altamiro Carrilho (Enigmático), Radamés Gnattali (primeiro movimento da Suíte retratos) e Avena de Castro, adotado por Brasília (ele foi o primeiro presidente do Clube do Choro), autor de O’ Ki Kerias. O texto de apresentação desse disco de estreia tem a assinatura do meu irmão Carlos Henrique”.

Ao Correio, músicos de diferentes gêneros falam sobre o momento único na carreira
Breno Alves (Mensageiros do samba)
“Tínhamos cinco anos de carreira quando, em 2013, finalmente, lançamos nosso primeiro álbum, ainda com o nome Adora Roda. No CD, com 13 faixas, gravamos sambas de mestres como João da Baiana (Batuque na cozinha) e Monarco (Felizardo). Esse disco abriu mais portas para o grupo, pois foi lançado também no Rio de Janeiro, no Bar Semente, na Lapa”.


Célia Porto 
“Eu cantava há dois anos, quando, em 1994, lancei o disco de estreia que leva o meu nome. Havia conhecido o Rênio Quintas, que começou a tocar comigo e produziu o CD. Para selecionar as músicas que gravaria, fiz uma enquete durante um show. Algumas das que viriam a fazer parte do set list foram escolhidas ali. Entre as 14 faixas estão It’s a long way (Caetano Veloso), que veio a ser a de maior sucesso; Chafim (Eduardo Rangel) e Estrela da terra (Aldo Justo e Nonato Veras), do Liga Tripa, com a participação do grupo de sopros Pé de Vento e de um coro de crianças”.

Ao Correio, músicos de diferentes gêneros falam sobre o momento único na carreira
Roberto Corrêa (Viola caipira — Um pequeno concerto
“Eu demorei bastante para gravar meu primeiro disco. Tocava há 10 anos, quando gravei em São Paulo, pelo selo Discoban, da Bandeirantes, o Viola caipira — Um pequeno concerto, que teve produção de João Carlos Botezelli, o Pelão. O LP, com 12 faixas, trazia seis composições de minha autoria, todas inéditas, entre as quais Araponga espevitada.”


Paulo Maciel (Mel da Terra
"O Mel da Terra, formado por mim, Paulinho Mattos, Haroldinho Matos, Remi Portilho e Beto Eacalante, surgiu no final da década de 1970 e fez muito sucesso em Brasília, com shows em vários locais, inclusive, no antigo Pelezão, num festival que teve Raul Seixas como maior atração. Mas só fomos lançar disco em 1983, pelo selo paulista Voo Livre, distribuído pela EMI Odeon. Estrela cadente, que compus com Edbert Bigeli se tornou o maior hit da banda. Mas as músicas Pequena mágoa (Paulo Mattos) e Vira-lata (Sérgio Pinheiro, Paulo Maciel e Oswaldo Maciel) também fizeram sucesso”.

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  • Foto: arquivo pessoal
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