Aos 58 anos, Antonio Calloni viveu de tudo na televisão, no cinema e nos palcos numa carreira que teve início nos anos 1980. No fim dos anos 1990 se enveredou também por outra vertente artística: a escrita. A estreia foi com Os infantes de dezembro em 1999. Vinte e um anos depois do primeiro livro -- e do lançamento de alguns outros -- divulga, neste ano, o romance Filho da noite, que chega após a saída da televisão com o término de Éramos seis.
“É tudo farinha (a atuação e a literatura) do mesmo saco. E que farinha! Para mim, criatividade (arte) é investigação, prazer e provocação. O escritor é mais despudorado, “honesto”, sem filtro. O ator tem o filtro do personagem, mas não deixa de se entregar aos leões. É uma entrega absoluta! Criar é fascinante e o trânsito entre essas duas áreas é fácil, familiar e prazeiroso”, afirma em entrevista ao Correio.
Publicado pela editora Valentina, Filho da noite foi um livro que contou com processo longo de criação por Calloni. A ideia da obra surgiu ainda em 1990, a partir do espetáculo Ábaco, quando o ator estreou nos palcos. Porém, a escrita do livro teve início apenas em 2013.
A obra mistura diferentes gêneros, passando pelo terror psicológico e pelo humor com toques de surrealismo, para retratar duas histórias distintas divididas em duas partes. Na primeira, o leitor acompanha Agenor, um homem que perdeu o filho e a esposa e acaba sendo salvo por uma mulher negra e pobre que sonha em se casar. Enquanto na segunda, o foco é o investigador Antonio, que está ligado aos acontecimentos da primeira parte.
“Difícil localizar um autor específico (que o inspirou). Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Garcia Marques, Edgar Allan Poe... Esses gênios, talvez, tenham sussurrado um pouco mais alto nos meus ouvidos. Não tenho certeza”, comenta. Para o ator, a principal mensagem do livro é: “A única saída é a vida. E ela sempre ganha. Vida é invenção. Invente a sua da forma mais prazeirosa possível”.
Filho da noite
De Antonio Calloni. Editora Valentina, 160 páginas. Preço: R$ 34,90. Informações em www.antoniocalloni.com. Instagram: (@antonio_calloni)
Entrevista // Antonio Calloni
Em meio a esse período de isolamento, tem se falado muito da importância da arte. Você acha que a percepção sobre a arte será diferente no momento pós-covid-19?
Espero que as pessoas percebam o valor imenso da arte. Com certeza, essa percepção vai aumentar e se solidificar. A arte estimula e aumenta a vida. Melhora a capacidade de discernimento. Educa. Enobrece. A cultura, a arte, além de tudo, estão entre os setores mais lucrativos do país. Geram emprego e riqueza. Estamos descobrindo maneiras de sobreviver nessa crise. O processo não para e a internet é uma ferramenta fundamental.
O que você tem feito na quarentena?
Musculação, leitura, maratona de séries, alimentação saudável e leitura de poesias no meu Instagram (@antonio_calloni). Quarentesia na veia! É o nome do meu “projeto” no Instagram. Graças ao bom Deus e ao nosso amor, estou passando a quarentena com minha mulher, Ilse, e falo constantemente com meu filho, Pedro, que mora em Los Angeles.
Você tem transitado na carreira de ator em diferentes personagens. Como é esse seu processo de transição de um personagem para o outro?
Nada que é humano me é estranho. Tenho (temos) todas as possibilidades dentro de nós. Somos capazes de amar, odiar, destruir, construir... E mais algumas milhares de coisas. Fazer as escolhas “certas” na vida e na construção do personagem é sempre o melhor caminho. E os caminhos mudam. A vida está sempre em movimento. Acompanhemos esse movimento da forma mais divertida possível.
Quais personagens e produções te marcaram na trajetória?
O Bartolo de Terra Nostra. O Mohammed de O Clone, o personagem que fiz no teatro (Karl Marx) e que me rendeu o Prêmio Molière de melhor ator de 1990 no espetáculo, A secreta obscenidade de cada dia, Roger Sadala da série, Assédio e, sem dúvida, Júlio Abílio de Lemos da novela, Éramos Seis.