Diversão e Arte

Músicos brasilienses aproveitam quarentena para lançar trabalhos

Artistas usam formas criativas de produzir, divulgar trabalhos e fornecer entretenimento para o público no período da pandemia


Durante o período de isolamento preventivo, os artistas também estão se reinventando nos processos de trabalho, retomando e lançando projetos, e proporcionando entretenimento para o público de forma criativa. No cenário brasiliense não tem sido diferente, os músicos das cidades investem em lançamentos com reflexões sobre o momento vivido e, principalmente, buscam incentivar a esperança e o ânimo do público e da própria classe artística.

O projeto brasiliense Sunflower Jam lançou em 3 de abril, o single Goin’ home (do inglês, indo para casa). A canção é uma música instrumental, composta por Hermes Reis com parceria da irmã Taís, cantora e cofundadora do projeto, e produção de Jônatas Santana, instrumentista e produtor musical. “Essa é uma música que compus há cinco anos quando morava na Califórnia e estava esperando para saber se continuaria lá ou teria que voltar para o Brasil. Eu estava em um processo de ida para casa. Foi um momento bem difícil e a música veio a mim”, relembra Hermes. 


Por muito tempo o músico tentou produzir a canção, mas não conseguiu a sonoridade que queria, até encontrar Jônatas Santana, e finalmente fazer o lançamento. “Acho que essa música tem muito a ver com esse momento que estamos vivendo, mesmo que não tenha uma mensagem escrita, uma letra. A ideia é que as pessoas precisam ir para casa, e estar em casa”, explica Hermes. 

A Sunflower Jam também lança na quarentena o EP VERT, gravado no VERT Café, na Asa Sul. O álbum totalmente autoral tem cinco faixas: In your bed, Tá difícil, Te faço entender, Cranberry juice e Rio. O primeiro lançamento é o do single In your bed, em 1º de maio, seguido de Tá difícil, no dia 8 e Te faço entender, em 15 de maio. O lançamento completo do EP VERT ocorre em 22 de maio.  

Mensagem positiva


Já o músico brasiliense Paulo Verissimo, do grupo Distintos Filhos, lançou o lyric video da música Tudo há de ficar bem, composição que reflete sobre o período de isolamento e as perspectivas sobre o futuro em tempos de pandemia. “Escrevi assim que começou a quarentena e já fui projetando tudo que se especulava: o isolamento e o fechamento das coisas. Escrevi a música, depois gravei, produzi e pós-produzi em casa mesmo, além de cantar e tocar”, explica Paulo.  

Logo em seguida, a composição ganhou forma audiovisual, retratando as cidades vazias pelo mundo. O vídeo foi desenvolvido pelo artista gráfico Clayton Rodrigues, que deu movimento e imagem aos versos de Verissimo. A música foi lançada inicialmente no canal do YouTube do artista e está disponível em todas as plataformas digitais. O primeiro trabalho solo do músico, o EP chamado Desligue a TV, será lançado em 1º de maio, e se junta ao single nas plataformas de streaming. 


“Ele trata muito dessa questão da convivência humana e fala das relações modernas. Também tem canções como O café, que fala sobre a rotina do músico, de dormir tarde e acordar cedo. Além disso, a ambientação do disco se passa toda dentro de casa. Já estava vivendo algo assim, de trabalhar em casa e estar voltado mais para o lar. O disco foi produzido ano passado e, coincidentemente, trata do que estamos passando agora. A canção Tudo vai ficar bem fará parte desse EP e, no fim da música, minha filha de dois anos, Estela, faz uma participação especial em que aparece falando ‘fique em casa’ ”, antecipa veríssimo. 
 
Reunião à distância 


A banda Dona Cislene também contou que já tem música ganhando vida. No fim do ano passado, o grupo lançou o disco chamado Tempo Rei, com 11 faixas, e a ideia era começar 2020 entrando em turnê para a divulgação da nova fase. Com as medidas de isolamento tomadas para conter a pandemia do novo coronavírus, a Dona Cislene precisou desmarcar todos os compromissos, inclusive os shows em comemoração ao aniversário de Brasília, no CCBB.

“Na primeira semana de quarentena, meio que bateu uma crise de ansiedade em nós quatro. A gente conversou, e entramos em consenso de que não deveríamos ficar parado porque não se sabe quando tudo isso vai acabar. Temos que dar um jeito de nos reinventar”, conta Bruno Alpino, vocalista da banda. 

A partir daí, motivados pelos fãs e pela vontade de continuar fazendo música, decidiram por encontrar uma maneira de produzir de casa. “Paulo, o baterista, já tinha uma linha de batera gravada que não usamos no disco, então fui compondo em cima. A princípio não pretendia fazer uma música que falasse deste momento, ou que tocasse no assunto, mas como estamos vivendo de uma forma tão intensa, para mim foi muito natural escrever sobre isso. Ainda assim, fiquei com a missão de fazer algo pra cima, que trouxesse esperança, e não o pessimismo e o medo”, explica Bruno. 

Com lançamento também para 1º de maio, o single do Dona Cislene, que se chama Dias melhores virão, resume bem a mensagem que o grupo deseja passar. “É sobre ter calma, sobre saber que isso é uma fase e cuidar de quem está perto. Essa é a essência da música”, revela Bruno. Cada um dos membros da banda gravou os instrumentos em suas respectivas casas, e em seguida, o produtor fez a mixagem. Essa maneira de produzir é inédita para a banda, e, por esse motivo, decidiram compartilhar com os fãs, por meio das redes sociais, os bastidores de gravação. Os home studios têm sido uma alternativa para vários músicos que precisam continuar produzindo. 
 
Inspirado na quarentena


Outro artista que se reinventou para continuar os trabalhos foi Mariano Junior, músico, compositor e produtor de conteúdos digitais de Brasília. Mariano também lançou uma canção que fala sobre o momento histórico, a faixa Quando a tempestade passar, que já está disponível nas principais plataformas de streaming. O músico teve a ideia de usar recursos de produção à distância para formar o projeto que chamou de Banda Virtuall, em que convidou outros artistas parceiros para dar vida a sua composição.

“Pensei em um sistema que permitisse que apenas com um celular fosse possível cada um gravar e mandar o material para que eu juntasse tudo e editasse. Tivemos milhares de views e divulgações em grandes mídias. Daí mais músicos se juntaram a nós e começamos a pensar qual seria o próximo passo. Alguém ventilou a ideia de fazer um autoral. A partir da ideia, parei tudo, peguei meu violão e escrevi Quando a tempestade passar. Me inspirei em aspectos positivos do momento, e como as pessoas poderiam extrair boas lições e terem esperança", conta Mariano. 
 
 

O compositor e a Banda Virtuall, além de gravarem a canção original, iniciaram o projeto com um cover compartilhado de Heal the world (do inglês, cure o mundo) de Michael Jackson, também como uma reflexão sobre a Covid-19 e os desdobramentos da pandemia. “Tenho falado para as pessoas não desanimarem, para refletirem e continuarem produtivos. É hora de compor, estudar, aprender novas habilidades. Isso tudo vai passar e saíremos seres humanos melhores”, reflete Mariano.

*Estagiária sob supervisão de Adriana Izel
Beto Oliveira/Divulgação - Paulo Verissimo
Arquivo pessoal -
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