Correio Braziliense
postado em 30/04/2020 12:00
Seja nas versões tradicionais ou mais modernas, a arte sempre esteve presente nas produções humanas. Dentre os múltiplos papéis, ela pode assumir a função terapêutica e de socialização. Por esses motivos, a produção artística tem sido estudada e utilizada como recurso para recuperar, ressignificar e socializar pessoas. Na capital, alguns grupos utilizam a arteterapia como ferramenta inclusiva ao desenvolver seus trabalhos.
É o caso do Projeto PÉS, que desde 2011 pesquisa a execução do movimento expressivo para e por pessoas com deficiência, por meio de técnicas do teatro-dança. O projeto foi idealizado em 2009, pelo o diretor Rafael Tursi. “É sabido que, de maneira geral, a arte tem uma função importante no processo de formação das pessoas, perpassando por questões técnicas, éticas, estéticas, sensitivas e sensoriais, além de noções históricas, civilizatórias e do convívio em sociedade. Com as pessoas com deficiência não é diferente. Diria aliás, que, muitas vezes, ela é potencializadora destas questões. Assim, é possível observar, por exemplo, como o ensaio técnico da construção de uma cena coreográfica auxilia o desenvolvimento, tanto do processo cognitivo do indivíduo, na exaustiva repetição da cena onde busca sua autonomia, quanto no desenvolvimento psicomotor, que se descobre, se aprimora e se torna consciente a cada ensaio”, explica o diretor.
Na mesma época em que idealizava o projeto, Rafael recebeu a notícia de que uma amiga próxima havia sofrido um acidente que a deixou com tetraparesia, quando todos os quatro membros experimentam fraqueza anormal. Enquanto acompanhava o tratamento, começou a refletir sobre possíveis exercícios no teatro e na dança com foco em reeducação corporal para pessoas com deficiência.
O projeto é aberto à comunidade e tem como foco o desenvolvimento e a socialização. As aulas são realizadas por meio de dinâmicas corporais e da experimentação de objetos ludopedagógicos (corda, balão, lenço e massa de modelar, entre outros) e sempre seguidas de avaliações pontuais, por parte da equipe executora.
A cada avaliação, são feitos os ajustes necessários. “A partir da arte-educação existe a possibilidade do erro. Ou seja, ali o indivíduo não é “café com leite”, ali não existe o “qualquer coisa está bem”, porque ele tem uma deficiência. Ee será estimulado para, a partir do seu corpo, realizar a cena ou a atividade a ser feita. Lidamos diretamente com o conceito de adaptação, em que adaptar não significa tornar algo fácil porque o indivíduo é incapaz e, sim, buscar meios para que ele execute a atividade. É onde a tentativa e o erro viram um novo acerto”, esclarece Tursi.
A cada avaliação, são feitos os ajustes necessários. “A partir da arte-educação existe a possibilidade do erro. Ou seja, ali o indivíduo não é “café com leite”, ali não existe o “qualquer coisa está bem”, porque ele tem uma deficiência. Ee será estimulado para, a partir do seu corpo, realizar a cena ou a atividade a ser feita. Lidamos diretamente com o conceito de adaptação, em que adaptar não significa tornar algo fácil porque o indivíduo é incapaz e, sim, buscar meios para que ele execute a atividade. É onde a tentativa e o erro viram um novo acerto”, esclarece Tursi.
As atividades estão suspensas como medida de prevenção ao coronavírus, mas no acervo virtual do grupo há um curta-documentário chamado Por que você dança?, dirigido por Rafael Tursi, em que o público pode conhecer algumas histórias de experiência com a dança. Além disso, é possível encontrar espetáculos completos nos canais do YouTube, do diretor e do grupo, como Similitudo, Klepsydra, entre outros.
Musicoterapia
A iniciativa Uma sinfonia diferente utiliza a musicoterapia para o desenvolvimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A metodologia multidisciplinar foi elaborada no Instituto Steinkopf, atualmente com base em Brasília, em Porto Alegre e em São Luís do Maranhão. Em Brasília, pessoas entre 3 e 40 anos são preparadas para as apresentações da sinfonia por meio de atividades e ensaios em grupo.
Além de conscientizar a comunidade, pais e cuidadores sobre as capacidades de pessoas com TEA, a ação facilita a comunicação verbal e não verbal, estimula a criatividade e motricidade, e amplia a interação social e familiar, melhorando a qualidade de vida. “A arte, principalmente a música é um elemento universal. Ouvimos música e sons desde os quatro meses de vida intrauterina. A música nos conecta, nos emociona, nos ajuda a desenvolver habilidades, e isso também para as pessoas com TEA. A música, por si só, é um recurso de estímulo neurológico muito rico, e quando direcionada e utilizada com objetivos terapêuticos temos resultados maravilhosos. Com isso, conseguimos respostas motoras, interacionais e sociais”, explica Ana Carolina Steinkopf musicoterapeuta.
O instituto é composto por uma equipe de psicóloga, terapeuta ocupacional e uma musicoterapeuta que coordenam ensaios e reuniões com os pais. As inscrições para Uma sinfonia diferente são abertas, normalmente, a cada seis meses.
O instituto também conta com a Sinfonia baby, que consiste na estimulação precoce de crianças de um a três anos. As atividades também são realizadas com os pais para que aprendam e possam dar continuidade fora do ambiente clínico. As inscrições são feitas uma vez por ano e os atendimentos ocorrem, normalmente, uma vez por semana. No canal do YouTube, Sinfonia Diferente, estão disponíveis vídeos de algumas apresentações realizadas.
Arte na melhor idade
Outra faceta da arteterapia está presente no trabalho desenvolvido pelo Sesc-DF, o Grupo dos Mais Vividos (GMV). O projeto é voltado para pessoas acima de 60 anos, e tem como objetivo a promoção da qualidade de vida, da autonomia, do protagonismo e empoderamento da pessoa idosa. As atividades do projeto possibilitam o desenvolvimento pessoal e social, tornando a velhice, um tempo produtivo e significativo.
“O trabalho permite que possamos perceber a velhice na totalidade, sabendo quais as necessidades que os idosos apresentam quando procuram o grupo. A arte contribui para o processo de expressão do corpo e da mente, por meio de desenhos, pintura, música, teatro, e sobretudo, trabalha a memória e faz um resgate do passado para o presente de forma trazer fatos importantes da vida dos idosos para as relações sociais atuais. Nas oficinas que trabalhamos com arte, ficou visível esta relação entre o passado e o futuro entre os participantes”, explica a coordenadora de assistência social do Sesc, Adriana Costa.
Os grupos têm base nas Unidades Operacionais e Centro de Atividades da Ceilândia, Estação 504 Sul, Gama, Guará, Taguatinga Norte, Taguatinga Sul e 913 Sul. Atualmente as atividades presenciais estão suspensas, por conta da quarentena em prevenção à Covid-19, especialmente por envolver um dos principais grupos de risco. Entretanto, em tempos de isolamento, o Sesc tem promovido atividades virtuais com os idosos do grupos e também com outros idosos da comunidade. “Para participar basta enviar uma mensagem para o número, (61) 99994-3652. Atividades de cognição, leitura, música estão sendo enviadas diariamente para mantê-los ativos e envolvidos”, esclarece Adriana.
*Estagiária sob supervisão de Adriana Izel
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