Recado
“Se não morre quem escreve um livro e planta uma árvore, com mais razão não morre o educador, que semeia vida e escreve na alma.”
Bertold Brecht
Vacas, vacinas e moças bonitas
O objeto de desejo de Europa, França e Bahia? É a descoberta da vacina contra o coronavírus. Cientistas do mundo inteiro buscam uma gotinha ou uma injeção capaz de imunizar adultos e crianças. Dinheiro não falta. Nem apoio. O problema é o calendário. Há etapas que devem ser respeitadas. Cada uma exige tempo. Enquanto esperamos, que tal uma curiosidade? A história vem de séculos atrás.
A história
O que a vacina tem com a vaca? O nome. O trissílabo vem do latim vaccina. Quer dizer “da vaca”. Em 1796, o médico inglês Edward Jenner clinicava em Berkeley, nos States. O danado vivia de olho nas moças que ordenhavam as vacas. No espia-espia, observou que elas contraíam varicela ou catapora. Mas não pegavam varíola.
Eureca! Teve uma ideia. Preparou uma cultura de varicela com o material das mãos de uma das trabalhadoras. Inoculou-a num garoto de oito anos. Semanas depois, inoculou o vírus da varíola. O menino não pegou a doença. Viva! Estava descoberta a vacina.
Vira-lata
Que variedade! Ora a palavra aparece grafada com todas as letras maiúsculas. Ora só com a inicial grandona. Ora apena com minúsculas. E daí? Covid-19 joga no time de sarampo, câncer, hepatite, leucemia. É uma doença. Vira-lata, escreve-se com letras mixurucas: A covid-19 ataca os pulmões.
Adeus, desperdício
O combate à covid-19 enfrenta vários desafios. Um deles é a falta de mão de obra. Médicos intensivistas, especializados em UTI, são insuficientes. Governadores publicam editais de convocação para preencher as vagas. Impõe-se, para obter êxito, estar atendo à grafia da palavra mão de obra.
Como pé de moleque, testa de ferro, dor de cotovelo, dia a dia, faz de conta, quarto e sala, maria vai com as outras, mula sem cabeça, joão sem braço, bicho de sete cabeças, mão de obra se escrevia com hífen. A reforma ortográfica cassou o tracinho. Agora é tudo livre e solto — sem lenço, sem documento e sem elo.
Por falar em elo...
Olho vivo, marinheiro de poucas viagens. Fuja do tal “elo de ligação”. Baita pleonasmo. Todo elo é de ligação, assim como todos os países são do mundo, todo habitat é natural e todo panorama é geral. Elo, país, habitat e panorama, solitários, dão o recado.
Xô, dose dupla
O ministro da Saúde falou. Depois de uma semana no cargo, Nelson Teich apareceu na entrevista coletiva de quarta-feira. No discurso curto e genérico, chamou a atenção o desperdício. Sua Excelência abusou do sujeito duplo. Um exemplo: “O afastamento, ele é uma medida essencial na largada”. Outro: “A Itália, por exemplo, ela fez mais testes que a Coreia”.
Reparou? Os pronomes ele e ela são penetras. Sem função, sobram e sobrecarregam a frase. Xô! Xô! Xô! Melhor aliviar o período: O afastamento é uma medida essencial na largada. A Itália, por exemplo, fez mais testes que a Coreia.
Nas alturas
Com a crise do coronavírus, o dólar abusa. Bate asas e voa. Ultrapassou R$ 5,40. A imprensa divulga. Traz ao cartaz a palavra recorde. Atenção à pronúncia. Recorde rima com concorde. Paroxítonas, a sílaba tônica de ambas é cor.
Leitor pergunta
Estava assistindo ao noticiário da CNN. Apareceu na telinha a palavra socio-econômico. Dali a pouco, socioeconômico. Fiquei confusa. Qual a forma correta?
Ceres Almeida, Brasília
Socioeconômico joga no time de sociopolítico e sociocultural. Tudo colado.