Diversão e Arte

Com a brasiliense Maeve Jinkings, série Todas as mulheres estreia

O roteirista Jorge Furtado comenta do universo feminista e moderno de Domingos Oliveira adaptado para a série Todas as mulheres do mundo

 

No momento tão difícil para tanta gente, há diversão proposta por uma personalidade morta em março de 2019: o dramaturgo Domingos Oliveira. É por meio de adaptação de sete obras dele, de diferentes origens, que se chegou à série Todas as mulheres do mundo, a partir de hoje, no GloboPlay. "É a proposta de uma lufada de amor e poesia, neste mundo fechado em que vivemos. Na tela, tem muito beijo, muito abraço. Muita paixão, e a gente tá vivendo, na realidade, a fase do lobo como lobo do homem, com o vírus tão próximo. Na série, só pega amor e paixão. É muito oportuno ver isso; já que não se está podendo vivenciar isso", observa Priscilla Rozenbaum, atriz da série e viúva de Domingos.

 

No enredo de Todas as mulheres do mundo, que incorpora muitas obras dos anos 60, o roteirista Jorge Furtado (junto com Janaína Fischer, corroteirista de Doce de mãe) se mostra impressionado com a modernidade de Domingos, ao lado da elevada qualidade também detectada. "Ele era moderno, lá; mas o mundo careteou de um modo, que Domingos está moderníssimo. O mundo andou pra trás. E com trogloditas no comando (risos). É uma série feminista. Ele era um feminista: se apaixonava de verdade pelas mulheres. Além de a equipe da série ser muito feminina, há uma mulher na direção Patrícia Pedrosa (de Mister Brau)", comenta Furtado.

 

"Domingos não fala só da mulher: ele fala do amor. O discurso dele não é de fêmea e de macho, é um discurso de amor. Acho que não tem feminismo nem machismo; não tem sexo. Ele diz que o amor é uma selvageria e um efeito colateral do sexo", opina Priscilla Rozenbaum. Junto com a adaptação da obra de 1967 (homônima), Todas as mulheres do mundo agrega situações de obras como Separações, Inseparáveis (peça inédita), Barata Ribeiro, 716 e Amores. Maria Alice (Sophie Charlotte), Paulo (Emílio Dantas) e Cabral (Matheus Nachtergaele) dominam o centro das atenções. Atrizes como Fernanda Torres, Maeve Jinkings, Marta Nowill e Lilia Cabral têm participações, ao lado de mais seis colegas.

 

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Jorge Furtado confirma que houve um acerto impressionante com o elenco. Além de Maria Mariana (filha de Domingos), a viúva Priscilla Rozenbaum também integra a série. "Ela faz uma participação muito bonita. Priscila mandou poemas inéditos, textos inéditos dele, para garimparmos. E tem daí a cena do personagem Cabral que recita um poema para a personagem dela. É uma cena linda e emocionante", adianta Furtado. Cabral, como ressalta o roteirista, representa a porção sábia, madura e filosófica de Domingos.

 

 

 

Três perguntas // Jorge Furtado

 

 

Como foi terem trabalhado juntos, num universo tão pertencente ao Domingos Oliveira? 

 

A série é muito especial porque sonhava em trabalhar com ele, há pelo menos 20 anos. Houve um projeto que quisemos filmar, mas enquanto eu via tudo como uma comédia; ele, sempre muito engraçado, teimava que era um drama (risos). Ele o mais carioca dos cariocas; e eu, um gaúcho enraizado. A Maria Ribeiro foi quem me ligou falando da série. Achei ótima a ideia de fazer uma série juntando várias histórias dele. Propusemos na Globo, e todos gostaram. Começamos a trabalhar, mas veio a doença e a morte dele. Daí, quiseram uma homegaem a ele, estendendo para 12 episódios. Foi quando chamei a Janaína Fischer, roteirista, para o projeto.

 

O que há de Jorge Furtado no texto?

 

Tem tramas totalmente originais. Foi um trabalho semelhante ao que fiz, nos anos de 1990: Comédia da vida privada, a partir de textos do Luis Fernando Veríssimo, com tramas de de relacionamentos. Na de agora, o Paulo cada vez se apaixona por uma mulher diferente, mantendo uma paixão pela Maria Alice, durante todo o tempo. Sem se afastar dela, se interessa por outras mulheres. Aquelas histórias poderiam ser em Roma, em Paris, em qualquer lugar. As histórias do Domingos são universais, mas o cenário do Rio é deslumbrante. Domingos tinha algumas questões morais relacionadas a alguns dos personagens que ele conhecia perfeitamente. Houve este respeito. Infelizmente, ele não chegou a ler os roteiros prontos.

 


Domingos ainda é moderno e feminista?

 

Sim, sempre. Há um personagem que reflete: "difícil é deixar de se apaixonar por uma das mulheres". Além de a equipe da série ser muito feminina, há uma mulher na direção Patrícia Pedrosa. Ela optou por atrizes que não têm tantos trabalhos na tevê. O protagonista sempre se apaixona à primeira vista, trazendo uma cumplicidade com os espectadores. Na trilha sonora foi selecionada uma música de cada cantora. Tem Elza Soares, Alcione, Maria Bethânia, Cássia Eller, Céu, Agnes Nunes, Ana Cañas, Elis Regina e Nara Leão. O resultado foi perfeito.