Diversão e Arte

Wagner Moura e Ana de Armas estrelam biografia de Sergio Vieira de Mello

Ao Correio, a dupla falou sobre o filme 'Sergio', que estreia nesta sexta-feira na Netflix. 'É sobre empatia, valor que falta aos líderes mundiais', avalia Wagner Moura

Correio Braziliense
postado em 17/04/2020 04:06
História de amor entre Carolina e Sergio é um dos arcos do filme

O brasileiro Sergio Vieira de Mello foi uma das figuras mais importantes da diplomacia internacional. Foi o primeiro brasileiro a atingir o alto escalão da Organização das Nações Unidas (ONU). O carioca esteve à frente de missões de paz em conflitos mundiais em locais como Bangladesh, Camboja, Líbano, Bósnia, Ruanda e Timor-leste. Morreu em uma delas, em 2003, em Bagdá, após recusar a ida por quatro vezes. Acredita-se que se estivesse vivo poderia ter sido o sucessor de Kofi Annan no cargo de secretário-geral da ONU.

Mas não foi apenas o currículo invejável no mundo das relações internacionais que fez com que a história do brasileiro inspirasse o filme Sergio, que estreia hoje no catálogo da Netflix. Foram os valores pessoais e políticos que levaram Wagner Moura e outros produtores a pensarem na ideia que teve direção do norte-americano Greg Barker, responsável pelo documentário homônimo sobre o diplomata lançado em 2009. “Estávamos tentando fazer um filme sobre o Sergio pelas mesmas razões, porque nós vemos o mundo e a política de uma maneira bem parecida”, afirma Wagner Moura em entrevista por telefone ao Correio.
 

Saiba Mais

 

Além de materiais noticiosos e o próprio documentário de Greg Barker, o elenco contou com imagens, fotos e até acesso à própria Carolina Larriera. “Foi uma honra conhecê-la e compartilhar algumas horas com ela. Ela estava muito empolgada de compartilhar comigo e com o Wagner algumas histórias sobre Sergio. Ela ainda sente essa perda. Ela foi muito solidária”, lembra Ana de Armas, que interpreta a viúva no longa-metragem.

No filme, que tem Wagner Moura na pele do protagonista, a fita passeia por importantes momentos da vida diplomática de Sergio, com destaque para os trabalhos no Timor-leste e em Bagdá. Mais do que ser um retrato dos fatos, o longa-metragem busca mostrar quem realmente era o brasileiro, expondo os sentimentos, que surgem por meio da história de amor de Sergio Vieira de Mello com Carolina Larriera, economista argentina que se juntou à ONU na missão no Timor-leste.



Valores


“Acho que, honestamente, se eu pudesse resumir o que o filme é, diria que é sobre empatia, que é um valor que, praticamente, neste momento se mostra absolutamente em falta nos líderes mundiais. E Sergio tinha isso, tinha muito. Mas ele era muito complicado, era esse cara meio James Bond que estava tentando salvar o mundo. Ao mesmo tempo, ele teve uma vida pessoal muito complicada”, avalia Wagner.

O ator ainda destaca que, ao seguir esse caminho, a história ganhou equilíbrio e mais cinematografia. “Acho que a maneira como Greg equilibrou isso: a importância que Sergio tinha na ONU com e, claro, o relacionamento com Carolina. Acho que isso é muito importante no sentido que, primeiro, é cinematográfico. Sei que ele é brilhante no filme, mas acima de tudo, porque é de verdade, quando ele conheceu Carolina, encontrou algum tipo de equilíbrio que ele não tinha. Ele realmente estava apaixonado e prestes a se casar. Ela estava mudando a vida dele. Ele se recusou a ir ao Iraque quatro vezes. Ele teve que ser convencido por George Bush, porque este não era o objetivo da vida dele naquele ponto. Isso é uma coisa muito forte. Você tem que pensar sobre o que é realmente importante na sua vida. Acho que era isso que estava acontecendo com Sergio, especialmente depois que conheceu Carolina”, completa.

Cena do filme Sergio da Netflix

A figura de Sergio Viera de Mello chegou a ser definida pela biógrafa Samantha Power, autora do livro O homem que queria salvar o mundo: Uma biografia de Sergio Vieira de Mello, como uma mistura entre James Bond e Bobby Kennedy, o que o elenco fez questão de comentar, principalmente porque Ana de Armas, que vive Carolina no longa, integra o elenco do próximo 007.

“A percepção que tive é que as pessoas ainda hoje, na Tailândia, na Jordânia ou na Índia, especialmente no Rio de Janeiro, sempre têm uma história sobre Sergio. Todo mundo o conhecia. Até mesmo as mulheres falam sobre Sergio de uma forma, sobre o jeito paquerador que elas amavam. Ele era muito carismático. E ele usou isso. Essa era uma das ferramentas dele para negociar e trabalhar nas missões. Acho que ele era mais corajoso que James Bond. Ele não tinha armas letais ou uma tecnologia moderna para se proteger. Ele estava lá fora no campo cuidando das pessoas necessitadas, tentando encontrar a paz”, avalia Ana.

“Honestamente, eu não estava pensando em James Bond quando estava trabalhando no personagem. Mas lembro que havia algo de James Bond. Ele era um cara único. Ele teve uma formação intelectual forte. Ele foi formado nos campos da ONU. Ao mesmo tempo, ele tinha essa coisa intelectual e era um homem do campo. Então, posso entender essa comparação com James Bond”, completa Wagner Moura.


Diversidade


Por retratar a história de um diplomata que viveu em diferentes locais do mundo, o filme teve filmagens em diferentes locações e um elenco completamente diverso. A começar pela dupla de protagonistas com o brasileiro Wagner Moura e a cubana Ana de Armas. “É um filme sobre as pessoas da ONU. Então sempre quisemos ter sotaques diferentes. Sou muito feliz de termos conseguido fazê-lo com atores de diferentes países. A Ana é de Cuba. Clemens (Schick, que vive Gaby Pichon) é da Alemanha. Brían (F. O’Byrne, que interpreta Gil Loescher, personagem que é um compilado de pessoas da vida de Sergio) é da Irlanda. E temos atores do Iraque, Jordânia, Tailândia, Angola. A experiência de fazer esse filme é algo que eu imagino que seja semelhante de estar em uma reunião da ONU”, comenta Moura. Também houve figurantes não atores do Timor-leste e do Iraque participando de cenas emblemáticas.

O brasileiro também pontua a importância de ser uma narrativa que não está num caminho estereotipado de um personagem do Brasil. “Quando eu decidi que ia produzir filmes fora, o único jeito para fazer isso era se essa ideia tivesse uma espécie de política no fundo. Acho que o povo latino é sub-representado em filmes americanos, não apenas na quantidade de personagens, mas na maneira como são representados. Assim que conhecia Ana, a nossa conversa foi absolutamente indo para essa edição. O fato de Ana estar em breve como Marilyn Monroe nos cinemas, isso é uma coisa muito importante para todos nós, não estamos voltando para antigas representações, da latina sexy ou do latino violento. Quando vejo Diego Luna fazendo Star wars com o sotaque mexicano, isso é bem legal e importante politicamente”, completa o ator e produtor.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags