Correio Braziliense
postado em 03/04/2020 10:06
Pioneira do hardcore punk brasileiro, a banda brasiliense ARD (After Radioactive Destruction) lançou em 14 de março, um split álbum com o grupo vilppulense Rattus, pioneira do hardcore punk finlandês. Após sete anos de batalha, Brothers in boots (do inglês, “irmãos de botas”, alusão ao calçado tipicamente usado por punks) está disponível nas plataformas digitais e físicas.
O álbum conta com 14 músicas da banda Rattus, pertencentes ao disco Turta, até então inédito no Brasil, e 12 músicas da ARD, também inéditas no Brasil, das quais apenas algumas saíram em coletâneas em outros países. O split é lançado pelos selos Tudo Muda Music, de Brasília, que providenciou uma tiragem inicial de 40 fitas cassete; e pela Som de Peso, de Porto Alegre, que imprimiu 200 CDs, com representativa ilustração do artista Alex Amorim, do Novo Gama.
A história das duas bandas se entrelaça desde o início dos anos 1980, quando a ARD, fundada em 1984, ainda se chamava Stuhlzäpchen von N, nome em alemão que quer dizer “supositório nuclear”. “A gente começou a ouvir muito som da Europa na época da fita cassete. Eu me correspondia com algumas
pessoas, por carta, e recebia material”, conta Gilmar Batista, baixista, vocalista e fundador da banda.
Um desses materiais era uma coletânea de bandas europeias que, no final dos anos 1970, já levavam o punk rock para um lugar ainda mais sujo, rápido e extremo. Entre elas, Rattus, fundada na cidade de Vilppula em 1978. “Foi muito impactante ouvir aquele idioma cheio de vogais. Parecia coisa de índio
cantando. Era bem louco. Então a gente tomou essa paixão imediata, avassaladora”, recorda-se Gilmar.
Tão avassaladora que, entre as primeiras músicas compostas pelos brasilienses, algumas eram simplesmente letras em português sobre os mesmos acordes das canções dos finlandeses. “Era um hardcore totalmente diferente do sueco, francês e até do inglês, mais tradicional. Era mais visceral. E os caras tinham umas ideias muito parecidas com as nossas, porque falavam sobre a problemática do mundo, mesmo sendo de um país muito avançado em questão de economia e bem-estar.”
Em 2007, um produtor promoveu a primeira turnê brasileira da Rattus, e, por indicação de músicos e produtores locais, ofereceu uma data para Gilmar recebê-los no Gama, bastando providenciar um teto e comida para os músicos, prática comum no circuito independente. “Prontamente eu falei: "meu sonho de criança agora vai se realizar”, conta. “O galpãozinho estava entupido. Acho que foi o melhor ou um dos melhores públicos já teve no galpãozinho”.
Quando os finlandeses voltaram para uma nova turnê em 2013, Gilmar gerenciou toda a série de shows com a produtora Rebel Records, com 13 datas em todo o Brasil e quatro no Centro-Oeste: Goiânia, Gama, Ceilândia e
São Sebastião. Mais uma vez os europeus dormiram na casa de Gilmar. Ele tinham acabado de lançar o álbum Turta, e o amigo Gilvany, que tinha o selo GBG Records, deu a ideia de lançar o material no Brasil junto com um apanhado de músicas que a ARD estava preparando.
Em 2017, foi a vez da banda nórdica retribuir a hospitalidade quando a ARD passou pela Dinamarca, Finlândia, Rússia, Estônia e Suécia com a Iced Calangos Tour. Em 2019, cruzaram a Rússia com 20 apresentações na Transiberian Tour, dando uma esticada para a Mongólia, Estônia e, claro, Finlândia, onde não chegaram a dividir o palco com os anfitriões mas reforçaram os laços de amizade e a necessidade de trazer à luz essa irmandade de coturnos.
*Estagiário sob a supervisão de Adriana Izel
Serviço
ARD & Rattus: Brothers in Boots
Split álbum da banda finlandesa Rattus com a brasiliense ARD, lançado em fita cassete (R$ 45, 40 cópias) pela Tudo Muda Music e em CD (R$ 25, 200 cópias) pela Som de Peso. Disponível também digitalmente em tudomudamusic.bandcamp.com, e na rádio do somdepeso.com. É possível encomendar as fita pelos dois sites ou diretamente com o Gilmar, nos shows ou pelo e-mail gilbts@gmail.com.
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