Correio Braziliense
postado em 19/03/2020 06:30
O passado e as novas percepções sobre sonoridade e, principalmente, sobre a vida inspiraram Clarice Falcão a trabalhar em um novo projeto, o EP Eu me lembro. A cantora retorna às composições antigas, como Pra ter o que fazer, Irônico, Eu escolhi você e O que eu bebi. No entanto, desta vez, as faixas ganharam uma roupagem eletrônica e interpretações novas. Com produção de Lucas de Paiva, mixagem e masterização de Gabriel Guerra e vocal de Clarice, o EP chega às plataformas amanhã, após nove meses do lançamento do último disco da compositora.
“Como é um EP de regravações, de músicas antigas e de novas roupagens, o título Eu me lembro tinha tudo a ver, seria uma música que entraria com certeza no projeto e eu achei que era um bom jeito de falar que era uma homenagem, uma homenagem ao passado, que não é tão distante assim”, conta Clarice Falcão em entrevista ao Correio.
“O Eu me lembro é como se fosse um interlúdio, pegar tudo isso que eu fiz e rever. Eu acho que são quase 10 anos de estrada, o que não é muito, mas pra mim foi um longo caminho”, completa.
Com o novo trabalho, Clarice escolheu homenagear o passado sem deixar de lado as escolhas do presente, que transmitem toda a personalidade para os trabalhos da cantora. A aposta em uma linha musical eletrônica marcou o último álbum dela, Tem conserto, e agora torna a aparecer em Eu me lembro, em que brinca com a sonoridade e dá novas camadas para as músicas.
“Eu comecei a fazer músicas mais eletrônicas e eu me apaixonei pela música eletrônica nos últimos anos. Quando eu era mais nova, gostava muito de festa, sempre curtir uma vibe mais eletrônica, mas, no início da minha carreira, fui indo para o folk, por que era o que eu sabia tocar, até por causa do violão. No começo, eu queria que as letras ficassem muito evidentes, por que eu gostava muito de compor, eu botava uma base de violão, eu era muito econômica com os arranjos para que as letras brilhassem”, relembra a compositora.
Arranjos
Originalmente, as canções foram adaptadas às novas versões por conta dos shows em que Clarice fazia, inspirados no último disco da cantora, que possui pegada eletrônica. As outras faixas que integram o repertório do show tiveram que ser alteradas para ornar a apresentação, e, como resultado: os fãs amaram os novos arranjos. “A minha ideia não era nem criar um disco nem nada, era realmente fazer a versão para o show, para elas (as faixas) não destoarem das outras, e ficou muito legal. Com isso, eu tive a ideia de fazer o EP”, conta a compositora.
Nesta produção, as parcerias ficaram restritas à cantora Letrux, na faixa homônima ao EP. Na primeira versão da canção, a música foi interpretada e gravada por Clarice e Silva. “Depois do Silva, a Letícia (Letrux) foi a primeira pessoa que cantou comigo, isso antes da Letrux, na época da Letuce ainda. Eu fiz um show de estreia do meu segundo disco e eu convidei ela para cantar comigo, e foi lindo, foi um momento maravilhoso. Então, assim que eu pensei em regravar, lembrei dela e como a versão original é cantada com um casal hétero, uma menina e menino, eu sempre quis uma versão de duas meninas, e ela foi a primeira pessoa que veio na minha cabeça”, pontua Clarice.
Dentre as cinco faixas que integram o projeto, Pra ter o que fazer é considerada inédita, visto que nunca integrou um disco da cantora. No entanto, foi lançada em 2012 no Youtube no formato voz e violão. “Pra ter o que fazer talvez seja a que mais empolga, pois eu nunca tinha lançado ela, eu tinha lançado esse single só no violão, esse era o único que nunca tinha saído em um disco. Eu gosto muito de todas, são duas músicas do Monomania, duas do Problema meu e mais essa que é uma música da época que eu só postava vídeo mesmo, sentadinha no sofá”, assume a compositora.
A cantora transmite, pela música, as emoções divididas entre o amor, a saúde mental, a saudade e os amigos. Desta vez, em Eu me lembro, Clarice une todas os sentimentos em música que pista, mas acompanhada pela melancolia. “É aquele tipo de música que você está curtindo e às vezes dá uma vontadezinha de chorar”, brinca.
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira
Três perguntas / Clarice Falcão
O que as cinco músicas de Eu me lembro significam para você?
É muito um aceno ao que eu já fui, e é um jeito meu de prestar uma homenagem ao que eu já gostei. Eu ainda tenho muito carinho por essas músicas, e pelos discos que representam muito o que eu vivi, é quase como tatuagem, a vezes você pode não ter mais a ver tanto com a tatuagem agora, mas ela representou uma coisa naquele momento em que você fez. Esse EP é como uma abraço, é meio cafona falar isso, mas é um abraço no passado, que me possibilita pegar essas músicas e fazer uma versão e olhar elas como a Clarice de agora.
Existe alguma diferença entre a Clarice dos trabalhos anteriores e a Clarice de agora?
A diferença começa na Clarice, até porque eu mudo muito, em três anos, que é mais ou menos o período de um disco e outro, eu me sinto mudada completamente. Eu seria desonesta se eu fizesse o mesmo trabalho ou um trabalho parecido com os passados só para eu manter os fãs ou público, seria um trabalho não autêntico, por que eu mudei, eu comecei ouvir outras coisas, eu comecei gostar de outras coisas.
Você canta sobre amor, paixão e relacionamentos, por que apostar nessas temáticas para produzir seu som?
A temática vem junto com o humor de vida, eu gosto de falar das coisas de uma forma que eu nunca vi alguém falando. Eu quis falar de amor de um jeito diferente, sobre término de um jeito diferente, sobre saúde mental de um jeito diferente, mas eu tenho muita vontade de voltar fazer música de amor, mas é muito o que vem naturalmente.
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